Mônaco nunca foi um lugar para ter certeza de alguma coisa, em que pese a lenda de que a pole position é meia roleta girada a caminho da vitória. Numa F-1 cada vez mais robotizada, decisões tomadas pelo cérebro humano com base em dados matemáticos são tão desastrosas quanto distrações mundanas. Pode-se dizer que aí está uma das belezas da vida, o elemento surpresa ou, diriam muitos, o espírito do Imponderável de Almeida que o mundo viu estampado no rosto de Lewis Hamilton ao dividir o pódio de Mônaco com seu inimigo de equipe e o alemão Sebastian Vettel. Perto dali, o bam-bam-bam da Mercedes na F-1, Totto Wolf, buscava nos cantinhos de cada bolso do seu uniforme um fiapo que pudesse cobrir o clima de fim de festa sob o desperdício do champagne quente borrifado em mecânicos inebriados com mais uma vitória da marca alemã.
“Deve ter sido muito duro perder uma corrida ganha, mas eu não tenho dúvidas que ele (Hamilton) vai superar isso rapidamente, como já se recuperou no passado”
As palavras de Totto Wolf após a corrida não podiam ser muito diferente, mas dizer que Hamilton se recupera rápido de contratempos pode soar como um otimismo exagerado. Não há como deixar de lado os percalços extra-pista de Hamilton, das suas paixões aos seus empresários, e até o divórcio de seu ex-mentor e ex-mecenas Ron Dennis. Dito isso, um novo revés no GP do Canadá (dia 7 de junho), pode causar danos consideráveis à sua relação com a equipe, algo que nem a renovação do seu contrato, em números estratosféricos, possa evitar.
Não foi a primeira vez, e tampouco será a última, que um GP teve um desfecho tão sorumbático. Além do próprio vencedor ter admitido que o seu principal rival merecia ter vencido, a derrota do líder do campeonato fez surgir um equilíbrio tão moderado quanto inesperado entre os três primeiro classificados na tabela de pontos — Hamilton (126), Rosberg (116) e Vettel (98). Não dá nem para pensar que o alemão de Maranello é favorito, como não se pode negar que ele se mantém no páreo. Afinal, diminuiu a diferença para o líder e foi o único rival de verdade para os carros prateados; os dez segundos e cinco posições que separaram os dois Ferrari (Kimi Räikkönen terminou em oitavo), mostram novamente um finlandês mais próximo do marcador de pontos da Lotus de 2012 do que do campeão mundial de 2007, sintomas de mudança de ares no final da temporada.
Enquanto isso, Rosberg e Vettel vão mineiramente comendo pelas beiradas. Não que se espere um revival da catastrófica e bizarra temporada de 1982, quando tudo indicava o domínio dos Ferrari de Villeneuve e Pironi e, tragicamente, nenhum dos dois chegou ao final do campeonato. Em tempos de uma F-1 politicamente correta e de carros nascidos em computadores da próxima geração, a marcação homem-a-homem a cada GP aproxima coadjuvantes de luxo da glória do título.
Nem todo mundo, porém, está focado nessa briga de cachorro grande: Renault — via suas equipes Red Bull e Toro Rosso —, Force India, Sauber e, pasme, McLaren, aproveitaram as circunstâncias para tirar suas casquinhas, tarefa facilitada pela apresentação fora de esquadro da Williams. Daniil Vvyat (quarto), Daniel Ricciardo (quinto), e Carlos Sainz (décimo) aplicaram doses de bálsamo nas feridas que unem a marca francesa e suas equipes.
Na Red Bull um fato inusitado: Ricciardo deu pinta que poderia atacar Hamilton nas voltas finais e teve autorização para superar Kvyat; quando ficou claro que isso estava fora do seu alcance, o australiano foi instruído a devolver sua posição ao russo, que finalmente pontuou na casa de dois dígitos por corrida. Sainz, mais uma vez, andou forte nos treinos e correu focado na base do grão em grão para encher o papo. Seu companheiro de equipe impressionou, é verdade, mas novamente se deixou trair pelo excesso de confiança ao não contar com a astúcia de Romain Grosjean, que freou um pouquinho mais cedo na St. Dévote. A batida forte reeditou o desfecho da participação de pai no GP de 1996.
A aparição desastrosa e pífia da Williams, cujos carros jamais mostraram um rendimento a altura do esperado, permitiu que equipes como a Force India e McLaren, fizessem a festa. O arrojo de Sérgio Pérez e o estilo cantilênico de Jenson Button foram as principais causas dessas equipes pontuarem; ao que tudo indica, apenas se a equipe de Felipe Massa incorrer no mesmo erro e ficar fora dos pontos é que tais proezas poderão acontecer num futuro próximo. A Force India promete novidades significativas só para o GP de Silverstone e a McLaren, agora com pintura mais escura, ameaçou renascer das cinzas: num raro circuito onde a potência é menos importante que torque acabou dando a primeira alegria à Honda em forma de três pontos.
Na mesma balada, Felipe Nasr colheu mais dois importantes pontinhos para a equipe Sauber, resultado que ajuda a chamar a atenção de equipes maiores e consolidar a Sauber como equipe apropriada para desenvolver novos talentos. Certamente no final da temporada o progresso de Nasr trará bons dividendos a ambos.
O resultado completo do final de semana em Mônaco você encontra nesta página.
Montoya vence a segunda em três tentativas
O colombiano Juan Pablo Montoya não se classificou entre os primeiros, largou em 15° em um grid de 33 concorrentes, fez uma entrada inútil no box e voltou à pista antes de poder trocar a carenagem traseira do seu carro danificada por Simona de Silvestro e, ao final de 3h5’56”5286 cruzou a linha de chegada como vencedor da 99ª Indy 500, a milionária e importante prova do calendário mundial de automobilismo. O prêmio de Montoya, que já tinha vencido a corrida no ano 2000, foi cerca de U$$ 2.449.055…
Will Power, seu companheiro na equipe Penske e que liderou várias das 200 voltas da clássica competição, terminou em segundo pela escassa margem de 0”1046. Os brasileiros Tony Kannan e Hélio Castro Neves não tiveram bons resultados: o primeiro despontava como candidato a vitória e andava no pelotão dianteiro até bater após uma troca de pneus com três quartos de corrida; Helinho ameaçou mas um ataque na fase final mas um toque com um concorrente desalinhou seu carro e ele fechou em sétimo lugar.
Piquet Jr lidera F-E
Lucas Di Grassi venceu a etapa de Berlim do Campeonato FIA de F-E, disputada sábado no circuito de Tempelhof, mas foi desclassificado depois que os comissários técnicos da categoria descobriram um reforço ilegal na fixação da asa dianteira do seu carro. O belga Jêrome d’Ambrosio herdou o primeiro lugar e Nélson Piquet foi promovido a terceiro, atrás do francês Loic Duval e agora soma 103 pontos no torneio, contra 101 do suíço Sébastien Buemi e 93 de Di Grassi. O campeonato prossegue dia 6 de junho, em Moscou. Atração à parte nessa etapa foi o desfile que reuniu nada menos de 577 carros elétricos, número que superou em 70 veículos o recorde mundial da “especialidade” estabelecido em setembro de 2014, no Vale do Silício, em setembro último.
WG