Algo que sempre me fascina é como coisas que deveriam ser simples — e, de fato, são — se complicam no Brasil. E aí minha surpresa é quase infinita. Quando acho que já vi de tudo, aparece algo novo. E olha que neste quesito há vários parâmetros internacionais que têm de ser seguidos, o que deveria deixar menos margem para confusões.
Que atire o primeiro tênis quem já não recebeu uma encomenda para trazer algo dos Estados Unidos. Se aceitou ou não é outra coisa… É incrível como lá se pode comprar uma calça jeans e sair da loja com ela no corpo sem precisar fazer nenhum ajuste. Já pedi para meu marido trazer para mim jeans e não precisei nem fazer bainha, apesar da minha altura, digamos, limitada que no Brasil sempre me faz ter de fazer zilhões de ajustes para não parecer que herdei a roupa de alguém. Quando experimento roupa nas lojas no Brasil e me olho no espelho me sinto Annie, a pequena órfã.
Nos Estados Unidos, dependendo da marca, tem o número, o comprimento e a cintura. Camisa masculina é um espetáculo. Comprimento de manga, colarinho, largura do peito, etc. Na verdade, às vezes é tanta coisa que é necessário prestar muita atenção. Em compensação, costumo comprar coisas pela internet e mando entregar no hotel em que vou ficar, pois bater pernas nas férias só para passear, não para fazer compras. Encomendo até sapato com a largura que quero e comprimento de meio ponto. E não tem erro.
Já no Brasil… Normas, regras, padrões, para quê? Já briguei em loja porque um maiô com etiqueta G era menor do que o mesmo modelo, da mesma cor e tecido com etiqueta M. E eram de fabricação própria! Num caso parecido, minha mãe, química, perguntou como a atendente da loja de roupas se curaria de uma dor de cabeça se tomasse um remédio de uma determinada marca com 600 gramas de ácido acetilsalicílico ou de outra com somente 100 gramas. Claro que ficou sem resposta. No Brasil quase tudo é: “veja bem…”. Prazos são mais elásticos do que chiclete e parece que os dias não têm 24 horas nem as horas 60 minutos. A mesma coisa acontece com a sinalização viária.
Alguém poderia me explicar por que “metros” são sempre abreviados corretamente como “m” nas fórmulas matemáticas mas nas estradas ganham incompreensíveis “t” e ”s”, transformando-se em algo que poderia ser interpretado como “metros por sei lá o quê por segundo”. Mas, claro, essa unidade de tempo (?), distância (?) ou temperatura, sei lá, deve existir naquela dimensão paralela das normas de trânsito brasileiras. Nora, como você é desinformada!
E aqui generalizo mesmo. Não são apenas os órgãos que deveriam cuidar do trânsito os que fazem lambanças. Concessionárias de estradas e prefeituras têm a mesmíssima habilidade. Às vezes elas começam certo e colocam avisos “saída a 1.000 m”, mas conforme vai se chegando mais perto da tal saída, aparecem letras novas. Podem apostar que quando chega nos 300 metros o “m” já ganhou a companhia do “t” e/ou do “s”. Vai ver a letra se sentia sozinha…
Já vi também concessionária pedir para facilitar o troco do pedágio com moedas de R$ 0,05 centavos. Ué? O símbolo R$ e a segunda casa depois da vírgula já não indicam centavos? Ou seriam centavos de centavos? Nem o complicado sistema de moedas da Inglaterra consegue tal feito.
E a crase antes dos metros? É a mesma coisa que com os tais “mts”. Às vezes até começa certo, mas sorrateiramente a crase invade as placas e conforme a distância diminui os metros, que até então eram masculinos e plurais, viram femininos e singulares. Sei lá, vai ver que eu é que não entendo essas mudanças de sexo ou a distância também é transgênero, assim como o Laerte…
Outra fantástica que já foi comentada neste espaço por um leitor é “Retorno: mantenha a direita”. Aqui está tudo errado. Faltam a crase e o pronome reflexivo “se”, já que o verbo manter neste caso, por ser uma ordem direta a quem lê a placa exigem a reflexão. E o que são esses dois pontos? Será uma mensagem das autoridades que querem dar ordens ao retorno e o mandam ficar numa faixa específica? Alguém perguntou se ele quer mesmo seguir nessa direção ou ele, coitadinho, está sendo obrigado a fazer algo que não quer? Só mesmo adivinhando o que quem escreveu quer dizer, porque clareza que é bom, nadica de nada.
Mas além do conteúdo no mínimo confuso, temos que adivinhar o que está escrito quanto à forma. Em várias ruas e avenidas de São Paulo, as placas indicativas de velocidade máxima são refletivas apenas no círculo externo. Ou seja, você vê algo que, me desculpem a comparação chula mas é exatamente isso, parece uma hemorróida mas você não enxerga o número em si. Mas o círculo reflete muito bem a luz. Já o número dentro dele que indicaria a máxima permitida só é visível de dia.
E as placas que são encobertas pelas árvores? Vejam bem, não defendo a retirada do pouco verde que temos e muitas vezes nem a poda seria necessária. Às vezes é só colocá-las em outro lugar na mesma calçada ou suspensas, cruzando a rua, como é feito em tantos países para que sejam legíveis por todos. Talvez se elas fossem colocadas onde são fincados os radares… porque nesse caso, nunca, jamais, never, alguma coisa obstrui o alcance de um radar. Já o das placas ou dos sinais…
Mudando de assunto: Assisti a Stock Car domingo. O circuito de Campo Grande precisa urgentemente de um recapeamento decente. Não apenas pela decepcionante largada com safety car, mas porque ninguém merece correr num lugar que parece muito com as ruas de São Paulo – bem, sem os buracos, é verdade. E linda a múltipla ultrapassagem de Ricardo Maurício na primeira corrida quando chegou ao segundo lugar.
NG
Foto de abertura: huffingtonpost.com
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