Eu sempre tento manter o bom humor mas, sinceramente, tem coisas que me tiram do sério. Como vocês sabem, tenho muito xodó por carros, mas não é apenas por causa disso que me pus a escrever sobre o que se segue. É porque às vezes me surpreende a estupidez humana. Se tem gente brilhante, cientistas que dedicam uma vida inteira e criar, desenvolver coisas que salvam vidas ou facilitam nosso dia-a-dia, por que tem outras que simplesmente as ignoram?
Já perdi a conta de quantas vezes respondi comentários sobre remédios ditos naturais. Como vocês sabem, tanto meu pai quanto minha mãe estudaram Química na faculdade, assim como boa parte da minha família. Isso certamente explica boa parte da minha formação racional. Mas não é só isso. Por que eu devo acreditar que tomar algum chá pode me curar porque ele é “natural”? Ou, pior ainda, por que ele pode não me fazer mal por ser “natural”? Bom, na maior parte das vezes realmente desconhecemos a origem desses produtos mas, partindo do pressuposto de que realmente sejam retirados da Natureza sem nenhuma intervenção química, por que isso seria inofensivo? Afinal, como diz a minha mãe, urânio também é natural e ninguém vai engolir um pedaço de urânio propositadamente. Ou, se o fizer, haverá sérias consequências para sua sáude. Não é que não acredite em medicamentos a partir de substâncias da Natureza, é claro que isso é possível e acontece, só não acho que elas sejam inofensivas apenas pelo mesmo motivo. Tem milhares de plantas venenosas para confirmar minha teoria.
Dito isto, o que raios leva alguém a ignorar dispositivos que os fabricantes desenvolveram para facilitar nossa vida e melhorar nossa segurança no trânsito? E fiz uma pequena lista de coisas que gostaria que fossem criadas pelo Professor Pardal. Vamos a elas:
- Morcego? Não – dispositivo que acende o painel somente quando se acendem os faróis (foto acima, de abertura). Antigamente era assim na maioria dos carros mas por algum motivo torpe deixaram de vincular uma coisa com a outra. E dá-lhe morcegões transitando por ai. O ideal seria que o acendimento só acontecesse se todas as luzes estivessem funcionando perfeitamente, ou seja, nenhuma queimada, mas essa talvez nem o Professor Pardal resolva.
- Pare… Mesmo! – dispositivo que bloqueia a marcha à ré quando o manobrista insiste em recuar o carro depois que o sensor de estacionamento deu o último apito contínuo. Seria de especial utilidade para evitar aquele desnecessário risquinho na traseira do carro quando seu carro já tem tecnologia para avisar quando a parede está perto.
- Hello…! É com você! – dispositivo que bloqueia o uso simultâneo do limpador de para-brisa com o pisca-alerta. Seria de grande utilidade para evitar aquele péssimo hábito que muitos brasileiros têm (nunca vi isso fora do País) de ligar o pisca-alerta toda vez que São Pedro resolve esvaziar os baldes sobre nós. Mesmo que eles estejam trafegando pelas ruas e estradas, tem gente que insiste em usar os dois ao mesmo tempo. E para piorar, claro, andam com os vidros embaçados, o que os impede de me ver. Perdi a conta de quantas vezes me molhei, assim como boa parte do meu carro ao abrir a janela, apenas para avisar esses motoristas incautos que o que fazem é errado e podem provocar acidentes. Claro que seria um problema caso o carro estivesse parado, mas aí não enxergar pelo para-brisa seria o menor dos problemas comparado com olhar tudo em volta para não ser assaltado, abalroado etc.
- Isto não é seu – Fechadura com chave para trancar o porta-luvas. Alguns carros têm (ou tinham) como o Peugeot 306, mas é cada vez menos frequente. Especialmente util para evitar que larápios levem óculos de sol ou pen drives com “aquela” seleção de músicas que você levou dias gravando. Não, não é implicância minha com manobristas. É estatística, mesmo. Nos coloca outro problema: mais uma chave para carregar. Mas aí tem outro desafio para o Professor Pardal desvendar. Identificação biométrica, talvez?
- Isto também não é seu – Chave que não abre o porta-malas. Tive um carro que tinha isso (Citroën C4 Pallas). Bastava bloquear no computador de bordo que uma das chaves não abria o porta-malas nem apertando o botão no painel – apenas a chave principal. Assim, só deixava a segunda com o manobrista. O mesmo carro nas versões seguintes já não tinha esse útil dispositivo. Sim, hoje em dia tem muito carro que nem usa chave para dar partida… problema para o Professor Pardal resolver.
- Acabou a brincadeira – dispositivo que impede que se esterce a direção nos, sei lá, três segundos seguintes ao acionamento da seta. Seria de grande utilidade para evitar aqueles infelizes que jogam o carro em cima dos outros achando que seta é autorização para mudar de faixa ou fazer conversão. Não é. É apenas um indicativo de intenção e como tal deve ser usado. É claro que os mais Clodovil (aqueles que têm complexo de costureiro) provavelmente deixarão de acionar a seta, mas o Professor Pardal talvez tenha uma solução para isto. Tem gente que dá seta esterçando a direção, tudo numa manobra só. Talvez para não perder a viagem da mão…
- Agora vai – ainda preciso aperfeiçoar minha ideia, mas pensei em algo dramático, como os alarmes de aviso de tsunami ou terremoto. Seria um dispositivo que fizesse com que o motorista que trafega pela esquerda vá para a direita para dar passagem para quem vem mais rápido antes que o sujeito peça isso pela décima vez. Talvez algo vinculado ao tão brasileiro uso da seta para pedir passagem ou mesmo ao acionamento do farol mas, como disse, ainda preciso aperfeiçoar a ideia, pois seria um problema nas conversões. Ou, melhor ainda, tarefa para o Professor Pardal. Um modelo mais avançado poderia ser usado para caminhões e ônibus que acham que basta deixar uma faixa de rolamento livre à esquerda deles e tudo bem — mesmo que a da direita, ou as duas à direita deles, estejam livres. Ônibus e caminhões quando circulam pela direita e vão para a pista 2 apenas para ultrapassar facilitam demais o trânsito para todos — basta ver quando isso acontece nas estradas.
- Opa, aqui não! – dispositivo semelhante ao sinal de “Stop”que os ônibus escolares têm nos Estados Unidos e que é acionado quando param para embarque/desembarque, todo o tráfego tem de parar, no mesmo sentido e contrário. Mas neste caso seria uma placa ou mão gigante acionada automaticamente toda vez que um motorista furão tentasse fazer uma conversão vindo pela faixa errada, para levar vantagem enquanto os outros carros se mantêm alinhados pacientemente. Um tapão desses na fuça (ou no para-brisa) teria efeito didático, tenho certeza, e o espertinho pensaria duas vezes antes de fazer isso de novo. Sim, já sei, é algo meio violento e tem o problema dos cacos de vidro… Problema para o Professor Pardal melhorar.
- Opa, aqui também não – versão do anti-furão para os indigitados que andam pelo acostamento.
- Código Morse – dispositivo que bloqueia o acionamento do freio e do acelerador seguidamente quando isso acontece depois de, por exemplo, dez vezes seguidas. Ele impede que o motorista acelere e freie intermitentemente, como aquele sujeito que anda tipo traço-ponto-traço-ponto-traço. Tem a finalidade didática de fazer o motorista entender princípios como inércia e atrito.
Bom, agora que exercitei minha criatividade gostaria de esclarecer que:
- Não tentem fazer estas coisas sem a supervisão de um adulto. Aliás, é melhor nem tentar mesmo
- Estas sugestões foram baseadas em fatos reais e qualquer semelhança não terá sido mera coincidência
- Nenhum animal foi mal tratado na confecção desta lista
- Nada, mas nada disto deve ser levado totalmente ao pé da letra. Só parcialmente. Pensem nas minhas ideias como uma autêntica viagem na maionese, fruto de muita insônia.
Mudando de assunto: Nunca entendi por que é tão fácil entrar de carro em lojas em avenidas, estradas e vias marginais, especialmente aquelas de material de construção, mas é super difícil sair delas. As rampas de acesso são suaves, com vários metros de comprimento para chegar, mas para sair geralmente são abruptas e não raro em ângulo de 90 graus. Será que eles não querem que voltemos a fazer compras?
NG
A coluna “Visão feminina” é de total responsabilidade de sua autora e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.