O valorização do dólar fez desaparecer os chatonautas que acusavam o automóvel brasileiro de ser o mais caro do mundo,
A internet nos assediava até recentemente com textos que comparavam preços dos automóveis nacionais com similares produzidos em outros países ou dos nossos modelos em países para onde eram exportados, como o México, por exemplo.
Baseados em gráficos e infografias, os chatonautas insistiam nos lucros absurdos das fábricas brasileiras. Um Honda Fit custava no México a metade de seu preço no mercado brasileiro. Até o correspondente de uma revista norte-americana no Brasil enviou matéria ridicularizando o brasileiro que pagava aqui, por um Jeep Cherokee, mais que o dobro do preço nos EUA. E não adiantava tentar provar que as diferenças eram provocadas pela distorção cambial. Que o real estava artificialmente valorizado. E, além disso, o “custo Brasil” e os pesados impostos inflavam ainda mais o preço dos nossos automóveis. Eram todos radicais, emocionais, não se interessavam pelos argumentos e insistiam que a distorção era provocada pela sede com que as fabricantes iam ao pote. Pelo lucros absurdos que tinham no Brasil.
A desvalorização do real provocou uma verdadeira reviravolta. Além de estimular exportadores, outra vantagem foi ter silenciado os chatonautas. Como que num passe de mágica, desapareceram da internet com sua contas e gráficos mirabolantes.
Hoje, mesmo com o custo Brasil e os impostos ainda nas alturas, nosso automóvel passou a estar entre os mais baratos do mundo. Para o nosso bolso, continuam custando o mesmo, até um pouco mais, pois as fábricas reajustaram preços para enfrentar a inflação. Porém, com os valores referenciados em euro ou dólar, eles despencaram…
Exemplo? O VW take up! 1,0, 3-portas, fabricado na Europa, custa 10.100 euros que, convertidos para a nossa moeda, significam R$ 43.884. Entretanto, o mesmo take up! 1, 0 brasileiro custa R$ 31.990, ou seja, cerca de R$ 12 mil menos.
E os importados? O Mercedes-Benz A 200, 1,6, de 156 cv, produzido na Alemanha e importado para o Brasil, deveria custar aqui umas duas a três vezes mais que na Europa em função do transporte, seguro, despesas portuárias e a pesada carga de impostos. Não é o que acontece: sua tabela na Europa é de 29.300 euros. No Brasil, R$ 136.900 que, convertidos, significam 31.578 euros. Ou seja, sobram para a empresa 2.258 euros para todas as despesas e imposto de importação…
A grande distorção no comparativo de preços era provocada pelo real supervalorizado: quando a moeda norte-americana deixou de valer apenas R$ 2,00 e dobrou seu valor em dois anos, o subcompacto brasileiro que custava R$ 30.000 teve seu preço em dólares reduzido à metade, de US$ 15.000 para U$ 7.500. Sem se esquecer que, deste valor, quase US$ 3.000 são de impostos. Ou seja, a fábrica recebe, no Brasil, menos de US$ 5.000 pelo carro. Em que país se paga tão pouco por um automóvel? E lembrando que eles hoje incorporam airbags e freios ABS. Ou seja, um pouco mais caros em reais mas, mesmo assim, entre os mais baratos do mundo…
Quando eu fazia essas contas, exibia os números e dizia que a indústria tinha parte da culpa, mas a acusação do nosso automóvel ser o mais caro do mundo não se justificava, eu era chamado de “puxa-saco” das fábricas.
E o que dizem agora os chatonautas que raciocinavam em dólares? Continuam criticando, não dão o braço a torcer e apelam agora para o argumento de que não ganham em dólares, mas em reais…
BF