Chuva na sexta, classificação com anticlímax no sábado, um acidente espetacular no domingo e um pódio com cara conhecida: dois pilotos da Mercedes e um da Ferrari ocupando os três degraus. Este pode ser um bom resumo do GP da Austrália, a prova de abertura do Campeonato Mundial de F-1, mas o intervalo para a próxima etapa, dia 4 de abril, no Bahrein, esses tópicos terão companhia nas conversas de pista sobre a F-1: a competitividade das equipes do meio do pelotão, certamente, será assunto dos mais frequentes, em particular quando se falar de Felipe Massa e Felipe Nasr: os dois brasileiros estão, mais do que nunca, jogados à sorte de suas equipes.
Todo começo de temporada tem altas doses de interrogação, em particular a primeira etapa do ano; afinal, trata-se da primeira oportunidade dos carros andando em condições teoricamente iguais e, em princípio, dentro do regulamento. E nessas condições, mais uma vez viu-se Mercedes e Ferrari em um nível acima da concorrência: a primeira usufruindo da confiança e a tranquilidade que uma equipe que vem de duas temporadas dominantes pode ter e a segunda se esforçando para superar a rival.
Enquanto a Scuderia não rachar a aura do domínio alemão, seguirá demonstrando que sente a pressão cobrada por Sergio Marcchione — o bam-bam-bam da FCA, controladora da Ferrari —, e da sempre crítica imprensa italiana. A quebra do motor do carro de Kimi Räikkönnen e a saída de pista de Sebastian Vettel quando disputava o segundo lugar com Lewis Hamilton mostrou que falta pouco para se equiparar com os alemães. Falta pouco, mas ainda falta alguma coisa.
Casa de celebridades e celeiro de promessas, o grupo formado pelas equipes do touro com asas viveu o fim de semana de maneira intensa: Daniel Ricciardo, Daniil Kvyat (da Red Bull), Carlos Sainz e Max Verstappen (Toro Rosso) estiveram sempre entre os mais rápidos dos treinos. Na corrida, porém, a sorte não foi tão equitativa: Ricciardo terminou em um bom quarto lugar, para alegria dos fãs locais, Daniil Kvyat não largou pelo segundo GP consecutivo, para sua própria decepção, e os garotos Carlos Sainz Jr. e Max Verstappen se estranharam mais uma vez, para a preocupação de Franz Tost, o chefe da equipe júnior.
O embate entre esses dois promete, especialmente quando o o holandês ataca de político brasileiro e cobra da equipe o que não quer que façam com ele. No ano passado Verstappen se recusou a deixar Sainz ultrapassá-lo, mesmo com ordens de equipe. Desta vez criticou o companheiro de equipe por ter ficado à sua frente, Sainz em nono, Verstappen em décimo. O alemão Nico Hulkenberg ficou em sétimo, à frente do finlandês Valteri Bottas, irreconhecível em uma performance tolhida pela falta de aderência de seu Williams FW38 e a perda de cinco posições no grid em consequência da troca do câmbio após a prova de classificação.
Surpresa das surpresas, a equipe Haas estreou nos pontos com um bom sexto lugar conquistado pelo franco-suíço Romain Grosjean. Os treinos da escuderia americana não foram exatamente um hambúrguer ao ponto, mas a performance de Grosjean na corrida teve sabor de uma boa torta de maçã, especialmente em função do ocorrido com seu companheiro de equipe, Estebán Gutiérrez. O mexicano iniciava sua 17a volta quando, ao chegar na curva 3, tentou corrigir um problema eletrônico que fazia o motor Ferrari do seu carro perder rendimento.
Esse problema teve efeito de frenagem antes da hora e acabou contribuindo para um cálculo errado de Fernando Alonso, que vinha atrás. O espanhol ainda tentou desviar mas o choque foi inevitável, o McLaren-Honda bateu no guardrail e ricocheteou para caixa de brita, onde capotou e foi parar na proteção de pneus, já bastante danificado. Ainda cambaleante, Alonso saiu do carro e, 24 horas depois, ainda sentia dores no joelho direito. Sem dúvida, os carros da F-1 estão cada vez mais seguros… O acidente forçou a interrupção e, novidade, os carros ficaram parados na frente de boxe, em vez de no grid.
Estava escrito nas nuvens?
Se a chuva que acompanhou os treinos de sexta-feira fosse interpretada sob uma ótica telúrica, o desfecho da prova de classificação do dia seguinte estaria mais do que conhecido: da mesma forma que nenhuma equipe pôde avaliar seu status em relação aos concorrentes por causa da pista molhada, no sábado ninguém entendeu como, faltando quatro minutos para terminar a prova de classificação, não havia mais ninguém na pista.
Em um verdadeiro anticlímax, o que foi concebido para aumentar o suspense na definição do grid de largada revelou-se um fiasco sem precedentes, mesmo que a Q1 e a Q2, as duas primeiras fases do último treino, tivessem mostrado maior movimentação que o normal. O resumo da ópera é que tudo volta ao sistema antigo já na próxima corrida quando, espera-se, a disputa da pole position volte a ser interessante até o final da sessão.
Brasileiros
Apesar do desempenho razoável nos treinos e do quinto lugar na corrida, Felipe Massa não teve equipamento para confirmar a equipe Williams como a terceira força do grid. Nem ele, nem Valteri Bottas. Fala-se que um novo bico poderá ser usado na próxima corrida e, com isso, melhorar o desempenho dos carros brancos de Grove, algo que chegou a ser cogitado para estrear na Austrália. Quando se viu Massa andando junto de Lewis Hamilton ficou patente que o carro do inglês é bem mais equilibrado que o do brasileiro, nem falar da diferença de potência dos motores. Por essas e por outras, melhor pedir uma canja de galinha do que encarar um fish‘n’chips nesta altura do campeonato.
Felipe Nasr, por sua vez, parece numa situação ainda mais delicada: o Sauber C35-Ferrari ainda não foi desenvolvido o mínimo possível para dar ao piloto de Brasília e ao seu companheiro de equipe sueco as condições mínimas de disputar um lugar entre os dez que pontuam. Enquanto não chegar um reforço financeiro que permita à equipe de Hinwill trabalhar com mais serenidade, é melhor pensar em alternativas para 2017.
As demais
A volta da Renault como equipe oficial não foi tão auspiciosa como se poderia esperar: o arrojo de Kevin Magnussen foi esfriado por uma parada logo na primeira volta e o inglês Jolyon Palmer fez uma corrida burocrática para terminar como o melhor “new face” da abertura da temporada — ele terminou em décimo-primeiro lugar, exatamente à frente do dinamarquês. Pascal Wehrlein e Rio Haryanto, os dois estreantes inscritos pela equipe Manor, tiveram sorte diferente: o alemão preocupou-se em levar seu carro ao final da prova dentro do que lhe era possível e o indonésio abandonou no meio da corrida.
O resultado completo do GP da Austrália você vê clicando aqui.
Mais uma de Pipo Derani
O brasileiro Pipo Derani conseguiu sua segunda vitória consecutiva na disputa do IMSA WeatherTech SportsCar Championship, ao conquistar de maneira emocionante a 12 Horas de Sebring, segunda etapa desse torneio. Em uma prova marcada por mudanças climáticas que obrigaram até a paralisação da corrida por duas horas, Derani assumiu a ponta nos últimos 15 minutos da competição em que os cinco primeiros classificados cruzaram a linha de chegada separados por menos de 20 segundos e a diferença entre o segundo e o quarto colocados não passou de dois segundos.
Com esse resultado Derani ampliou a liderança na tabela de pontos, onde tem 72 pontos, contra 60 de Christian Fittipaldi, que terminou a prova em terceiro, mesma posição que ocupa no certame. A temporada IMSA prossegue dia 16 de abril em Long Beach , mesmo final de semana que Derani disputará a abertura do Campeonato Mundial de Resistência (WEC) em Silverstone, na Inglaterra. O resultado completo da corrida você encontra aqui e a situação do campeonato aqui
Novo acidente fatal em provas regionais
O automobilismo regional perdeu mais um piloto no último fim de semana: o gaúcho Rommel Toscan faleceu em consequência de acidente na disputa da segunda etapa do Campeonato Gaúcho de Marcas e Pilotos. Foi o segundo óbito em provas da categoria em pouco mais de um mês: no dia 29 de fevereiro, durante a abertura do Campeonato Metropolitano de Automobilismo, no Autódromo Zilmar Beux, Marcos Mocelin e Cesar Chimin, bateram e o primeiro faleceu após permanecer em estado crítico por cerca de uma semana.
Tal qual sugeriu o experiente piloto Djalma Fogaça em postagem nas redes sociais, esta coluna acredita que a Confederação Brasileira de Automobilismo e suas federações filiadas deveriam aumentar as exigências de segurança para os carros da categoria, normalmente modelos de entrada e, não raro, já bastante usados. Ainda que a obrigatoriedade de gaiolas e santantônios mais reforçados e pesados diminua o rendimento dos automóveis, o preço da perda de desempenho será muito mais barato que o custo para aumentar a proteção dos pilotos.
WG