Depois de duas etapas, muitas queixas e inúmeros muda-não-muda, a FIA (Federação Internacional do Automóvel) e a FOM (Formula One Management) decidiram capitular e voltar atrás. Nessa performance digna de uma brincadeira infantil dos tempos em que a F-1 começava a conhecer carros com motor traseiro, ter voltado ao mesmo sistema de classificação de 2015 é uma demonstração inequívoca daquilo que a juventude inocente de hoje em dia definiria em uma frase sutilmente mordaz: “Inocentes, não sabem de nada”.
Na foto de abertura, a largada do GP do Bahrein, domingo retrasado (3 de abril).
Pelo bem ou pelo mal, vem à mente uma declaração célebre de Ron Dennis, o verdadeiro Mr. Perfeccionista, que na época áurea de Alain Prost e Ayrton Senna soltou um postulado digno de virar lei nessa milionária categoria. “Mais difícil que chegar ao topo da F-1 é se manter nessa posição”. Para Bernie Ecclestone e seus pares, essa situação há muito se tornou corriqueira e a cada corrida ganha semelhança com o código de sinalização do automobilismo: tentam soluções de várias cores e matizes e o que se tem conseguido é a bandeira quadriculada, que ao misturar preto e branco acaba não agradando nem gregos, tampouco troianos.
A mudança do sistema de classificação foi uma das tentativas de trazer de volta emoção às provas de classificação e agradar aos promotores dos eventos, que sobrevivem basicamente da bilheteria e, numa segunda etapa, aumentar os dividendos da FOM. Com tomadas de tempo mais disputadas, o público dos sábados, normalmente fraco , iria aumentar e, a médio prazo, seria possível renovar contratos cobrando valores (ainda) mais elevados… Não deu certo: pilotos reclamaram, equipes protestaram e o público reprovou.
Neste fim de semana o circuito de Xangai vai ser palco de uma audiência que poderá, ou não, mostrar que se alguma mudança tinha que ser feita, não deveria ser no formato da classificação. Sauber e Force India, por exemplo, estão contestando junto à Comissão Europeia o sistema de distribuição de prêmios. Se a situação não está lá às mil maravilhas para a primeira equipe, a segunda sobrevive de crise em crise e nos últimos dias aumentaram os rumores de que a FCA, controladora da Ferrari e da Alfa Romeo, estaria perto de assumir o controle da equipe suíça para relançar a marca milanesa na F-1. O assunto anda tão em alta que até mesmo a Williams também assumiu publicamente que espera renegociar seu contrato com os detentores dos direitos comerciais — eufemismo para identificar Ecclestone e a FOM —, antes do término do acordo em vigor, em 2020.
“Nada contra a Ferrari receber um bônus por ser a única equipe que participou de todos os campeonatos disputados até hoje”, declarou Claire Williams. “Mas não não precisa ser um bônus tão grande assim.” Acredita-se que esse pagamento é na ordem de US$ 80 milhões, o que explica o fato da conta-corrente da Scuderia ter um saldo bem maior que o da Mercedes, campeã das últimas duas temporadas e líder da atual. O assunto vai render no paddock chinês.
China
A alta poluição local, a baixa utilização da pista e um asfalto que apresenta uma curva extremamente ampla de índice de aderência e degradação, são pontos importantes a considerar na corrida deste fim de semana. Além disso, as 16 curvas espalhados pelo traçado de 5,5 quilômetros geram maior desgaste nos pneus dianteiros. Considerado bem diferente dos cenários da Melbourne e Sakhir, Xangai será importante para consolidar o potencial de equipes intermediárias como Force India e a novata Haas e deixar claro se a Ferrari e a Red Bull tem mesmo chances de superar, respectivamente, Mercedes e Williams como as principais equipes do grid. Sobre o retorno de Fernando Alonso — substituído pelo belga Stoffel Vandoorne no Bahrein —, uma decisão só será tomada nesta quinta-feira: os médicos da FIA aguardam a chegada do espanhol com laudos de exames que identifiquem claramente se ele se recuperou das fissuras sofridas no acidente durante a prova de abertura da temporada.
Monza
Corria o ano de 1993 e Ivan Capelli fazia o possível e o impossível para se manter na F-1 após uma temporada desastrosa como piloto da Ferrari. Sem se classificar para o GP do Brasil, o italiano disputou em Kyalami (11/4/1993) o último GP de sua carreira e duas semanas depois, em Imola, não escondia sua decepção por ter perdido sua credencial de acesso aos paddocks da categoria. Um quarto de século depois, um novo entrevero entre ele e Bernie Ecclestone ganha espaço na mídia especializada: o inglês conseguiu que a Sias, entidade que administra o autódromo de Monza, anunciasse a demissão de Capelli do cargo de administrador desse circuito. Segundo o jornal italiano Tuttosport, a medida teria sido manobra de Ecclestone para reabrir negociações para manter Monza no calendário da F-1; para outros, Capelli estaria dando atenção demais aos promotores do Campeonato Mundial de Motociclismo.
Pilotos unidos
A Associação Brasileira de Pilotos de Automobilismo (ABPA) faz sua apresentação oficial nesta quinta-feira (14) no Kartódromo da Granja Viana, sede da nova entidade. A aproximação dos pilotos com a Liga Paulista de Automobilismo — liderada por Felipe Giaffone (proprietário do kartódromo) e Dito Gianetti (líder do Esporte Clube Piracicabano de Automobilismo) —, indica a consolidação de uma nova frente política no automobilismo, o que é positivo: há décadas o poder constituído peca pela inoperância e falta de habilidade para justificar o poder exercido. Mais detalhes sobre a ABPA no site www.abpa.esp.
WG