Praticar automobilismo no Brasil é uma atividade que já passou por fases das mais variadas, sempre marcadas por sacrifício, paixão e, em vários momentos, decepção. O empresário Marcos Galassi, pouco conhecido no meio até poucos anos atrás, parece ter nas mãos e na cabeça as condições para criar uma nova era positiva no esporte e, se os dirigentes não atrapalharem, fazer uma nova esperança ganhar corpo. Se tudo correr bem, ele vai proporcionar o surgimento de uma nova geração de pilotos em condição de repetir a era iniciada pelos irmãos Fittipaldi e José Carlos Pace. Galassi é responsável pela criação da F-Inter, categoria que pouco a pouco se transforma de semente em árvore: na semana passada os primeiros monopostos construídos por José Minelli andaram juntos pela primeira vez durante uma apresentação formal no Autódromo de Piracicaba, no interior de São Paulo.
Além de ter seus primeiros monopostos batizados por nomes como Alfredo Guaraná, Angi Munhoz, Artur Bragantini, Chiquinho Lameirão, Dito Gianetti, Luciano Zangirolami e Roberto Moreno, cujos currículos e páginas no automobilismo brasileiro dispensam detalhes, a categoria mostrou que seu fim não termina na formação de pilotos. Ao lançar sua categoria em Piracicaba, numa praça construída pela família Gianetti fora da zona de desconforto que Interlagos representa hoje, e reunir nomes que sempre levantaram a bandeira do automobilismo de raiz, Galassi mostrou que é um empresário calculista, mas jamais frio.
Uma parceria com a Bosch gerou a criação da Academia Técnica Motorpsort, que vai utilizar a nova fórmula para como plataforma didática para a formação de técnicos especializados no automobilismo de competição. O curso será aberto a estudantes de engenharia e profissionais do setor e deverá ter seu custo subsidiado pela multinacional alemã. Haverá aulas presenciais no Centro de Treinamento Automotivo da Bosch, em Campinas, e espera-se uma ampla participação dos alunos nas competições. Paralelamente, a categoria se encarrega de formar sua própria equipe de manutenção e apoio nas pistas, abrindo mais postos de trabalho em setores que raramente recebem atenção dos dirigentes e promotores.
Se a iniciativa junto à Bosch explica o alcance da proposta da F-Inter, a complexidade da promoção do campeonato traz à tona os entraves que um promotor enfrenta para criar uma nova categoria no Brasil. Para evitar a burocracia de ter uma categoria homologada pela Confederação Brasileira de Automobilismo, o calendário terá caráter regional e será disputado inicialmente apenas em São Paulo. Como todo o projeto tem um único dono e administrador e não há vínculo com nenhuma fábrica, nada impede que as competições sejam de caráter particular usando como circuitos as pistas de Interlagos, Piracicaba e Velo Città.
De qualquer forma, a Federação de Automobilismo de São Paulo já aprovou tacitamente o projeto, uma vez que o sucesso do empreendimento renderá mais pilotos filiados e, consequentemente, maior faturamento à entidade. Caso um promotor de outra praça tenha interesse em promover a categoria em outro estado, Galassi admite a possibilidade de faze-lo pelo sistema de franquia. Não deixa de ser interessante, por exemplo, para os organizadores do Circuito dos Cristais, em Curvelo (MG).
Disputar uma temporada da F-Inter terá o custo aproximado de R$ 14 mil por etapa em um calendário de 11 provas. Nesse preço estão todos os custos de preparação, revisão, combustível, pneus, transporte, apoio na pista, treinamento de mídia, espaço reservado para apoiadores e patrocinadores e todas as possibilidades de aprendizado na incubadora de pilotos montada por Galassi, o que inclui até mesmo o uso de um simulador em escala 1:1.
O carro projetado e construído por José Minelli utiliza um motor nacional de quatro cilindros e dois litros, com 191 cv de potência e 21 m·kgf de torque, instalado em um chassi tubular e acoplado a um câmbio de cinco marchas, construído pelo mesmo Minelli, ex-piloto e eterno apaixonado pelo esporte. As rodas de aro 13 têm tala de 8” (dianteira) e 11” (traseira), associadas a pneus Pirelli PZero VR 225/40VR13 e 265/40VR13, respectivamente. Até o momento nove pilotos já confirmaram participação na primeira temporada da F-Inter, cuja primeira competição deverá se realizar ainda este ano.
CAVALO CORRE ATRÁS DO TOURO
A renovação do contrato de Nico Rosberg com a Mercedes por mais dois anos — os dois ficam juntos até o final de 2018 —, parece ter trazido assopros de paz na equipe alemã: ao final do GP da Hungria ele e o vencedor Lewis Hamilton voltaram a se cumprimentar ao final da corrida. O australiano Daniel Ricciardo completou o pódio e assistiu, certamente surpreso, a tal demonstração de estima e consideração, particularmente porque o resultado inverteu a classificação do campeonato de pilotos, agora liderado pelo inglês.
No andar de baixo da antessala do pódio, porém, a atmosfera era bem mais agitada, a começar pelo box da Ferrari: mais uma vez os carros de Maranello não conseguiram superar os da Red Bull. O progresso da Scuderia não acontece no galope esperado e os touros da RBR mantém as quatro patas no chão para andar mais rápido. O saldo positivo dessa história foi a boa briga entre o novato Max Verstappen e o já veterano Kimi Räikkönen. Apesar de todos os esforços do finlandês, desta vez quem não derreteu foi o jovem holandês, que soube manter-se à frente do rival até o final da prova.
Decepção por decepção, a Williams (equipe que mais perto ficou da Scuderia nas duas últimas temporadas), amargou mais uma corrida nas trevas. Não seria exagero afirmar que nem mesmo a propalada contratação de Jenson Button, já acertado como sucessor de Felipe Massa segundo a imprensa inglesa, serviu para amenizar a ressaca de um fim de semana digno de vinho de garrafão. Na Hungria, até mesmo Fernando Alonso andou à frente dos carros de Grove.
Interlagos terá menos assentos para o GP
A crise econômica do País, o preço dos ingressos, o domínio da equipe Mercedes e as poucas chances de Felipe Massa e Felipe Nasr em disputar as principais posições fizeram diminuir a capacidade de público para o próximo Grande Prêmio do Brasil. A previsão dos organizadores é de reduzir em 10 mil lugares os assentos das arquibancadas descobertas, onde o ingresso mais barato custa R$ 570 para os três dias do evento. O ingresso mais caro (R$ 2.860) garante lugar na arquibancada premium em frente aos boxes, com direito a serviço de bar e lanches incluído no preço.
WG