A versatilidade e bondade com seus ocupantes — especialmente com quem o dirige — foram os aspectos mais relevantes da terceira semana com o Peugeot 208 Allure com seu motor tricilindro. Rodei mais de 600 quilômetros tendo como ponto alto a ida (mais uma vez…) ao litoral norte de São Paulo. No entanto, diferentemente da viagem realizada na primeira semana a este mesmo destino, desta vez o carrinho francês foi com lotação máxima, cinco pessoas (dois adultos, três adolescentes), porta-malas bem cheio e toda e qualquer fresta do interior ocupada.
Primeira constatação é que, ao contrário de alguns dos carros testados aqui no Teste de 30 Dias e submetidos a este mesmo roteiro/tratamento, este 208 não sentiu tanto a carga máxima. As suspensões, apesar do ajuste macio, não cederam demasiadamente com o peso e o comportamento dinâmico do 208 não se alterou de maneira exagerada. Outro bom dado é que lombadas e outros acidentes de nossas vias não representaram problema, já que mesmo com lotação total nada raspou, nem frente nem traseira. Antes de iniciar a viagem, noturna, temendo o desajuste dos faróis em função do porta-malas totalmente cheio, procurei algum tipo de dispositivo que permitisse variar a altura do facho e… nada! Assistência elétrica não parece haver, mas o medo de ofuscar outros motoristas não se constatou. O 208 “agacha” pouco e por igual, e uma vez na escuridão da rodovia notei que um item no qual a marca francesa poderia melhorar seu já ótimo carro seria nos faróis.
O facho baixo me pareceu “curto” e especialmente no trecho mais sinuoso da viagem recorri constantemente ao facho alto. No topo da serra a neblina deu chance testar a eficácia do par de faróis auxiliares e… mais uma vez a sensação foi de que eles poderiam iluminar melhor, espalhar mais luz na área imediatamente à frente do para-choque.
Na chegada ao destino, o computador de bordo assinalava o excelente consumo de 15,4 km/l, pior do que os 16,1 km/l vistos neste mesmo trajeto duas semanas atrás, declínio que considerei natural tendo em vista a presença de mais carga e passageiro suplementar. Falando nela, na “vítima” que se sentou no meio do banco traseiro, a garota de 14 anos não se queixou do conforto: o 208 traz encosto de cabeça central e cinto de segurança de três pontos. O que falta ao banco traseiro não é espaço para pernas, mas sim o encosto bipartido, sempre útil.
Quanto ao espaço do porta-malas, os 285 litros declarados parecem mesmo estar todos ali. O formato regular das laterais ajuda acomodar a carga e há iluminação. Totalmente forrado, o compartimento peca apenas pelo fato de a forração do fundo não ser feita de material mais parrudo. O carpete é fino e colado a uma chapa de fibra de madeira não muito robusta. E abaixo dela há o macaco, ferramentas e estepe de medida 185/60R15, malvadeza tendo em vista que a rodagem usa os 195/60R15…
Rodando no leve off-road praiano, subindo e descendo uma estradinha muito íngreme e cheia de curvinhas, onde perda de aderência é regra e não exceção mesmo com tempo seco, o 208 mostrou ter boa capacidade de colocar potência no chão sem patinagem excessiva. Mérito multidisciplinar: suspensões de curso razoável, pneus (Pirelli P1) que mesmo sendo de baixo atrito de rolamento não são de baixa aderência, e comandos — embreagem e acelerador — com a sensibilidade correta. Controle de tração (assim como o de estabilidade) não há. Tampouco o sistema de assistência para partida em ladeiras. Todos equipamentos que seriam bem-vindos, mas dos quais não se sente falta.
Na volta do litoral, também noturna, uma breve mas intensa chuva deu chance para notar que as palhetas do limpador do tipo flat-blade são eficazes e a tripulação fez elogios também ao sistema de áudio. Usando a conexão da porta USB as garotas alternaram o uso dos celulares carregados de música (?), me dando ordens para aumentar essa faixa ou pular aquela outra, coisa que com os práticos comandos do volante foi moleza. Idem o uso do controlador automático de velocidade, apesar de seu comando, situado em um apêndice do lado esquerdo, estar escondidinho.
Como na viagem anterior a este mesmo destino a marca de consumo da volta foi levemente melhor do que a da ida, 15,9 km/l. Engraçado isso, gastar menos para subir a serra do que para descer… Talvez seja a pressa de chegar à praia, e zero vontade de voltar ao batente!
No restante do período, rodei em cidade. Detalhe relevante foi ter ido e voltado com o mesmo tanque de gasolina e ainda poder rodar muitos quilômetros antes de a luz amarela indicando a reserva acender. Autonomia de 630 km comprovada, e no tanque de 50 litros restaram algo mais do que dois litros, media global de 13,2 km/l. Realmente o baixo consumo é um ponto alto deste 208, que se alia a características já mencionadas nos relatos anteriores, dentre as quais a mais destacada é o vigor impressionante do motor em baixas rotação, que deixa usar sempre uma marcha acima da que seria usual em um hatch desta classe. Está aí parte do segredo do consumo baixo, pois o 1,2 litro batizado de PureTech, não instiga ir às altas rotações.
No cenário urbano, o interior luminoso proporcionado pelo amplo teto de vidro, os comandos macios, a boa ergonomia fazem do Peugeot 208 um carrinho apaixonante, cujo diminutivo só tem cabimento pelo tamanho externo mas não pelas excelentes qualidades dinâmicas. Um tom abaixo está o câmbio. Não exatamente a escolha das relações, adequadas, mas sim o trambulador folgadão, o curso longo da alavanca e a completa ojeriza a trocas de marchas rápidas.
Para a semana final, programação variada: mais estrada e cidade, um “mezzo a mezzo” onde estreará no tanque o álcool. Tendo em vista a marcante diferença que a ficha técnica indica em potência (90 contra 84 cv) e torque (13 contra 12,2 m·kgf) em favor do combustível vegetal, achei o caso de saber como se comporta o triciindro bebendo cachaça. Ao final disso tudo, acontecerá a sempre ilustrativa visita à Suspentécnica para saber o que Alberto Trivellato tem a dizer sobre as entranhas desse moderno e surpreendente Peugeot.
RA
PEUGEOT 208 ALLURE 1,2 PURETECH
Dias: 21
Quilometragem total: 1.421 km
Distância na cidade: 581 km (40,9%)
Distância na estrada: 840 km (59,1%)
Consumo médio: 12,1 km/l (gasolina)
Melhor média: 16,4 km/l (gasolina)
Pior média: 8,4 km/l (gasolina)
Média horária: 36,9 km/h
Tempo ao volante: 38h30 minutos
Veja os relatórios anteriores: 1ª semana e 2ª semana
FICHA TÉCNICA PEUGEOT 208 ALLURE 1,2 | |
MOTOR | |
Denominação | PureTech 1,2 |
Tipo de motor, instalação | Otto, arrefecido a líquido, transversal, flex |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio |
Nº de cilindros e disposição | Três, em linha |
Diâmetro x curso | 75 x 90,34 mm |
Cilindrada | 1.197,3 cm³ |
Comprimento da biela | 145,6 mm |
Relação r/l | 0,31 |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Nº de comandos/localização | Dois, cabeçote, variador de fase na admissão e escapamento |
Acionamento dos comandos | Correia dentada |
Válvulas por cilindro | Quatro |
Potência máxima | 84 cv (G) e 90 cv (A), a 5.750 rpm |
Torque máximo | 12,2 m·kgf (G) e 13 m·kgf (A), a 2.750 rpm |
Rotação limite | 6.500 rpm (corte “sujo”) |
Formação de mistura | Injeção no duto |
Combustível | Gasolina e/ou álcool |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão/bateria/alternador | 12 V / 60 A·h / 120 A |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Tipo | Transeixo manual de 5 marchas + ré |
Relações das marchas | 1ª 3,636:1; 2ª 1,950:1; 3ª 1,281:1; 4ª 0,975:1; 5ª 0,767:a; ré 3,330:1 |
Relação de diferencial | 4,692:1 |
Embreagem | Monodisco a seco, acionamento hidráulico |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora integrada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Relação de direção | n.d. |
Diâmetro do volante | 350 mm na horizontal e 330 mm na vertical |
Diâmetro mínimo de curva | 10,4 metros |
FREIOS | |
Dianteiros | Disco não ventilado Ø 266 mm |
Traseiros | Tambor Ø 203 mm |
Operação | Servoassistência a vácuo, ABS e EBD |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx15 |
Pneus | 195/60R15, de baixo atrito de rolamento |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, hatchback 4-portas, 5 lugares; subchassi dianteiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,33 |
Área frontal | 2,09 m² |
Área frontal corrigida | 0,69 m² |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 3.975 mm |
Largura | 1.702 mm |
Altura | 1.472 mm |
Distância entre eixos | 2.541 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.475/1.470 mm |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha | 1.073 kg |
Peso rebocável sem freio/com freio | 400 kg |
Capacidade do tanque | 55 litros |
Capacidade do porta-malas | 285 litros/com banco rebatido 1.076 litros |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 14,3 s (G) e 12,8s (A) |
Velocidade máxima | 171 km/h (G) e 177 km/h (A) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBE) | |
Cidade | 15,1 km/l (G) e 10,9 km/l (A) |
Estrada | 16,9 km/l (G) e 11,7 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 em 5ª | 31,3 km/h |
Rotação a 120 km/h em 5ª | 3.830 rpm |
Rotação à velocidade máxima em 5ª | 5.650 rpm |
Alcance nas marchas (6.500 rpm) | 1ª 42,9 km/h; 2ª 80 km/h; 3ª 121 km/h; 4ª 160 km/h |