Os primeiros automóveis eram carruagens sem o cavalo à frente. Os autônomos vão perder a besta atrás do volante.
Além dos automóveis, também os caminhões autônomos foram autorizados a circular experimentalmente nos EUA. Espanto geral: um caminhão autônomo rodando em elevadas velocidades assusta muito mais que o automóvel, por suas dimensões e peso.
Espanto sem nenhum fundamento, pois as estatísticas americanas indicam o contrário. A entidade responsável pela segurança rodoviária (NHTSA) revela que nada menos de 94% dos acidentes de trânsito são provocados pelo homem. Os três motivos principais: alcoolizado, em excesso de velocidade ou distraído. O caminhão autônomo não bebe nem toma “rebite”, respeita o limite de velocidade, não se cansa nem fica sonolento e não se distrai enviando mensagens pelo celular.
No frigir dos ovos, o veículo sem motorista inspira muito mais confiança e reduz as chances de acidentes. Outro órgão independente nos EUA calcula que, se 90% dos veículos rodando nas estradas fossem autônomos, o número de acidentes cairia de 5,5 milhões para 1,3 milhão por ano.
Além dos acidentes, caminhões (e ônibus…) autônomos reduziriam também significativamente o custo do transporte pois poderiam rodar milhares de quilômetros sem necessidade de descanso. Ou de um segundo motorista. Nem o risco de greves por melhores salários. Enfim, na estrada, todas as vantagens da robotização na fábrica que tanto assustam os sindicatos. Outro setor duramente atingido pelo caminhão autônomo seria o de restaurantes e motéis nas estradas, que perderia uma razoável parcela de clientes. Além disso, a frota de automóveis e caminhões poderia ser drasticamente reduzida pois teriam sua ociosidade praticamente eliminada: calcula-se também que um carro não chega a ser utilizado em 10% das 24 horas. No resto do tempo ele permanece imobilizado na garagem da casa ou do trabalho.
Automóveis autônomos vão revolucionar a infraestrutura dos transportes. Nas metrópoles, reduziriam a necessidade de estacionamentos. E aumentariam a capacidade das estradas, pois rodariam mais próximos uns dos outros graças ao sistema “Lidar”: radares e sensores que mantêm o carro dentro de sua faixa e a distância entre um veículo e o da frente. Aliás, tecnologia já disponível em automóveis mais sofisticados, os chamados semiautônomos.
No final do século 19, a grande virada no setor de transportes foi a carruagem ter perdido o cavalo que a tracionava. Os primeiros automóveis nos EUA, no início do século 20, eram identificados nas placas como ‘Horseless Carriage” ou “Carruagem sem cavalo”. E seu design lembrava mesmo uma carruagem com o quadrúpede substituído pelo motor.
Neste início do século 21, a grande virada será o automóvel perder a verdadeira besta que, em geral, vai atrás do volante. As placas dos carros autônomos poderiam identificá-los como “Beastless Automobile”. Assim como os primeiros automóveis produzidos há mais de um século lembravam as carruagens, a primeira geração de autônomos ainda tem carroceria semelhante à dos carros convencionais. Mas — a curto prazo — terão outro design pois serão elétricos (sem grade nem capô na dianteira) e seu interior vai dispensar painel, volante, pedais, alavancas…. Uma ideia de como serão é o autônomo projetado pelo Google que já roda experimentalmente na Califórnia (EUA).
Computadores já dirigem também os aviões, que contam com o piloto automático de fato: eles hoje já poderiam deixar a porta de embarque do aeroporto de origem, taxiar na pista, decolar, voar, aterrissar na pista de destino e encostar no portão de desembarque sem nenhuma interferência do piloto. Não é à toa que circula uma piada sobre o avião do futuro: ele só terá na cabine de comando o piloto e um buldogue. O piloto para alimentar o cachorro e este para avançar no piloto caso ele queira tocar em qualquer instrumento da cabine…
BF