Em modo crescente, novas tecnologias estão invadindo as fábricas automobilísticas no mundo, em parte para cumprir as cada vez mais rigorosas exigências governamentais que regem o comportamento dos veículos e por outro lado chegando como modernidade nos sistemas de informação e entretenimento (infotenimento). E vêm na mesma esteira os sistemas autônomos que alertam e ajudam corrigir potenciais riscos de acidentes.
Em verdade, tecnologia é caro. Por exemplo, motores com usinagens mais precisas, folgas menores para o uso de óleos lubrificantes menos viscosos e com redução de atrito requerem forte investimento em máquinas, equipamentos e controles. Posso citar também os turbocompressores, menores e mais eficientes, com geometria e vazão de ar variável que aumenta e muito o controle do ar comprimido no motor. Utilizando materiais mais nobres e mais leves, incluindo ligas de titânio, às modernas turbinas nada têm a ver com as antigas, maiores, mais pesadas e menos duráveis, para não dizer bem mais problemáticas.
O que está cada vez mais sofisticado são os sistemas de infotenimento, nos quais componentes eletrônicos são baratos, de maneira geral e o que sai caro é o desenvolvimento do programa de atuação das tarefas, o software. Lembro-me quando era um jovem engenheiro, trabalhando na Ford nos idos dos anos 1970, a informática estava praticamente engatinhando na indústria automobilística. Nesta época tínhamos alguns poucos computadores IBM e HP, caríssimos, que comparados aos de hoje caberiam em uma cabeça de alfinete. Mesmo assim já preparávamos softwares importantes para cálculo de sistemas de freio, desempenho, consumo de combustível e de analises estruturais de chassis e carroceria. Ambos eram caros, o hardware (equipamento) e o software (programação).
E quem paga o custo da modernidade é sempre o consumidor; não adianta espernear. O segredo é garantir uma produção que consiga diluir os altos custos das tecnologias embarcadas. Sem produção não existe lucro e sem lucro as empresas entram em colapso. É ai que entra a globalização, aproveitando um desenvolvimento veicular único para aplicação mundial, em vários países. Escuto e leio comentários das mais variadas fontes, com afirmativas que carro novo no Brasil é muito caro e a preferência para os carros usados está cada vez presente. O que o consumidor deve ponderar é que sem as vendas dos novos, a falência é próxima e creio que ninguém deseja isso.
Na realidade o verdadeiro Brasil consumidor é pobre de maneira geral e as indústrias deveriam entender isso muito bem, oferecendo veículos mais básicos e mais baratos para a maioria da população. E nesta linha faço algumas sugestões para baratear os veículos sem prejuízo ao funcional:
– Rodas de aço estampadas, com desenho estruturado e uma boa pintura podem ser tão leves e bonitas quanto as de liga leve.
– Oferecer o sistema de infotenimento como item opcional. Manter somente um bom sistema com velocímetro, conta-giros, temperatura do líquido de arrefecimento do motor e nível de combustível como padrão.
– Dependendo do peso do veículo, rodas e pneus menores e mais estreitos são perfeitamente possíveis. Como exemplo, tenho um Renault Twingo 1994 com pneus 145/80R13 que dão conta do recado perfeitamente. Inclusive a direção mesmo sem assistência é leve em manobras. Durante muito tempo essa foi a medida do Ford Ka, Corsa e Celta.
– Câmbio manual com 5 ou 6 marchas, mantendo o automático e outros como opcionais.
– Pintura sólida da carroceria com cores outras que não o vermelho, o preto, o branco e prata.
– Catalisador menor e integrado ao coletor de escape. Mais barato e melhor em termos funcionais, pois o elemento atinge rapidamente a temperatura ideal de funcionamento, além de se manter mais estável.
– Tanque de combustível de plástico com menor capacidade volumétrica, compatível com 500 km de autonomia na estrada.
– Sistema de escapamento menor e mais leve. O uso de ressonador atenua algumas frequências importantes, possibilitando a utilização de abafadores menores e mais baratos.
– Freio a disco nas quatro rodas. Hoje em dia, por incrível que pareça, o freio a tambor é mais caro, sem falar da manutenção mais difícil.
– Eliminar apropriadamente alguns isolantes de carroceria, o do capô do motor, por exemplo, mantendo obviamente o limite sonoro permitido pela regulamentação governamental. Quem se importa com um pouquinho a mais de ruído na cabine?
– Manter acionamento elétrico somente nos vidros das portas dianteiras. E por que não acionamento manual em todas as portas?
– Desenho da carroceria com estudos topológicos em termos de vincos estruturais, espessura de chapa e reforços podem ser feitos hoje com muita facilidade, graças aos eficientes softwares disponíveis. Veículos bonitos, leves, seguros, duráveis e mais baratos são perfeitamente viáveis, basta querer.
Creio que listar outros possíveis itens inteligentes para a redução de custos, barateando os veículos, é um bom exercício ao leitor.
Aproveitando a apresentação do Ford Fusion Hybrid 2017, à qual estive presente, fiz algumas contas de padaria para entender seu possível custo-beneficio ao consumidor. A comparação que eu faço é o Hybrid versus o Flex e como hipótese, considerei 10 anos de utilização do veiculo, perfazendo um total de 250.000 km na cidade. O valor do consumo Inmetro é referente a gasolina para os dois modelos.
Versão | Fusion 2,5 Flex | Fusion Hybrid |
Potência (cv) | 175 | 190 |
Consumo cidade (km/l) | 7,9 | 16,8 |
Litros/250.000 km | 31.646 | 14.881 |
Preço do veículo (R$) | 121.500 | 159.500 |
O Hybrid é R$ 38.000,00 mais caro que o Flex.
Em 250.000 km, o Hybrid consome 16.765 litros de gasolina a menos que o Flex. Transformado em dinheiro, considerando o preço do litro da gasolina de R$ 3,40, o Hybrid economizará R$ 57.001,00
Então, em dez anos a economia em favor do Fusion Hybrid será de R$ 19.001,00, obviamente não considerando o custo do dinheiro a partir do investimento inicial.
Detalhe importante: se a bateria precisar ser substituída após os oito anos de garantia, o consumidor vai ter que arcar com a enorme despesa de R$ 36.000,00 que é o preço do conjunto elétrico de íons de lítio, à base de troca, nas concessionárias da marca.
Há também que se pensar na poluição causada para a fabricação das baterias, além da toxidade dos materiais envolvidos e do processo de reciclagem mandatório. É assunto polêmico e que vale uma nova matéria específica no AE.
Enfim, economizar dinheiro e contribuir com o nosso ecossistema em termos de menos poluição e menor efeito estufa, realmente não tem preço. Creio que os veículos híbridos terão cada vez mais espaço, barateando o conjunto ao longo do tempo com inteligência e aumento de produção.
Hoje homenageio os engenheiros dedicados que lutam continuamente em sua verdadeira função de sempre conseguir mais com menos, agregando valor ao produto final.
CM