Anteontem falei aqui sobre sobre velocidades incoerentes, referindo-me à cidade de São Paulo, e choveram comentários sobre outros exemplos de limites de velocidade errados e/ou abaixo do ideal em outras cidades e rodovias. Fica a certeza de que muito há de errado na questão de trânsito no nosso país.
Pior, não apenas essa questão em si, mas, e principalmente, quando determinados limites são intencionalmente baixos para pegar incautos e com isso arrecadar por meio de multas. Pior ainda quando é notório que o estado de São Paulo conta com magnífica malha rodoviária, com muitas rodovias de Primeiro Mundo. Onde, então, estaria o problema?
Aposto na incompetência técnica para administrar trânsito. Além de, em havendo competência, autoridades maldosas que impõem armadilhas com finalidade de tirar dinheiro do bolso do cidadão-motorista teriam certo freio no âmbito do próprio establishment em fazê-lo. Não seria tudo, mas seria alguma coisa.
É desnecessário ser especialista em trânsito para detectar verdadeiros absurdos quando se trata de limites de velocidade. Rodovias de pista dupla com separação física e limite de 80 km/h contam-se às dezenas.
O exemplo mais eloquente que encontro é o atual trecho de descida de serra da rodovia dos Imigrantes, moderno, construído com toda a técnica e do que se dizia que teria limite de 110 km/h, nada mais razoável tendo em vista que a subida, quando invertida para descida, tinha limite de 100 km/h. Pois quando foi inaugurada a descida permanente em 2002 a comunidade automobilística ficou atônita: 80 km/h. Numa serra suave de 5% a 6% de declividade!
Na época questionei muito a concessionária da rodovia, a Ecovias, que justificava a medida em razão do aquecimento dos freios, chegando ao cúmulo de dizerem que os carros perdiam as calotas de plástico devido ao calor. Acredite se quiser.
Diversas vezes desafiei-lhes a fazermos juntos testes de descer a 110 km/h, mas sempre se recusaram. Obviamente.
Em São Paulo existe a Artesp – Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo, criada por decreto (nº 46.708) em 22 de abril de 2002, instituída como autarquia de regime especial, dotada de autonomia orçamentária, financeira, técnica, funcional, administrativa e poder de polícia, com a finalidade de regulamentar e fiscalizar todas as modalidades de serviços públicos de transporte autorizados, permitidos ou concedidos a entidades de direito privado, no âmbito da Secretaria de Estado de Logística e Transportes.
Obviamente, caberia a essa autarquia ver essa questão dos limites de velocidade nas rodovias que são verdadeiros absurdos. Se esse quadro existe, trata-se de sua total inoperância ou, na pior hipótese, conivência. A citada “autonomia financeira” e o “poder de polícia” podem perfeitamente explicar o porquê de tantas armadilhas de velocidade. Afinal, a Polícia Militar age sob comando do poder executivo estadual.
Todo mundo sabe o trânsito no Brasil mata muito. O número de mortes anuais aqui é igual ao dos Estados Unidos (39~40 mil/ano), cuja frota é de 255 milhões de veículos e a nossa, 42 milhões (fora motocicletas, 10 e 14 milhões, respectivamente). Se temos esse alarmante nível de fatalidades certamente ele não é motivado por trafegarmos rápido demais.
As causas são mais do que conhecidas, desde formação deficiente de motoristas a má qualidade e sinalização de vias, passando pelo desrespeito às regras de trânsito como um todo, limite de velocidade apenas um deles. Motoristas alcoolizados incluem-se nessas causas (não quem tomou duas latas de cerveja, mas os bêbados de fato).
O fato é que trânsito no Brasil está entregue ao Deus-dará, está na mão de incompetentes. Está faltando gente capacitada (e honesta, que não faça armadilhas) para dirigi-lo e evitar que o Brasil pare.
AE/BS