Em fevereiro de 2016 a Toyota lançou a nova geração do SW4 nas versões 4-em-linha de 2,8 litros de 177 cv Diesel e V-6 4-litros de 238 cv gasolina. O Juvenal Jorge esteve no lançamento e escreveu uma matéria bem detalhada que pode ser lida ou relida aqui: Toyota SW4.
Naquela época alguns se assustaram com o preço salgado. Porém aqui no AE, como sabido, evitamos fazer um julgamento baseado no preço e preferimos que o mercado aponte um erro estratégico ou não no peso da mão dos fabricantes. Bem, como já abordamos em outras matérias, o segmento de suves no Brasil, na definição da Fenabrave, é um balaio de tudo que é gato e é composto por nada menos que 40 modelos que vão desde o Suzuki Jimny até o Range Rover da Land Rover.
E desses 40 modelos, o SW4 é foi o quinto suve mais emplacado no país em 2016, com 12.186 unidades, ficando atrás apenas do Honda HR-V, Jeep Renegade, Ford Ecosport e Renault Duster. Ficou à frente do Tucson, ix35, Kicks, Tracker e outros. O seu concorrente direto mais próximo, o Land Rover Discovery, ficou na 17ª posição com 3.933 unidades emplacadas. Parece que a mão da Toyota não foi tão pesada assim quando se considera o tipo de consumidor que o SW4 atrai.
E esse consumidor com certeza quer a resistência e a capacidade de um trator porém com muito conforto e desempenho para viagens longas pelas estradas castigadas de nosso país. Pelo que noto aqui em São Paulo, não é um carro para desfilar, mesmo que agora seu desenho seja bem sofisticado e atraente, pois quase não vejo esse Toyota nas ruas. O paulistano parece preferir algo mais “civilizado”. Já quem mora na região Centro-Oeste ou capitais do Nordeste pode se manifestar e nos dizer se há muitos SW4 rodando por aí, pois acredito que sim.
Essa desejada resistência aliada ao desempenho vem de dois fatores importantes: o SW4 é um dos poucos suves montados com carroceria sobre chassis de longarinas, e tem motor Diesel com elevado torque mais a tração 4×4. E para quem quer mais de conforto há também a versão com motor V-6, embora o Diesel dessa geração esteja muito mais silencioso que o da anterior.
Mas a Toyota entende ou acredita que há quem não precise ou queira todo o desempenho ou a capacidade fora-de-estrada de trator das versões com os motores diesel ou V-6, mas não abrem mão do jeitão forte do SW4 e das qualidades da marca. Por isso existe a versão um pouco mais simples em equipamentos, com tração 4×2 e com motor flex. E assim, os R$ 241.920 que custam a versão Diesel 4×4 de 5 lugares se transformam em 163.500 da versão flex, com significativos quase R$ 80.000 de diferença. E por mais R$ 5.930 ainda pode levar a versão de 7 lugares, útil ou necessária para alguns.
Mas antes de entrar na descrição do carro e nas minhas impressões vou contar como eu fui impelido a tentar fazer algo que meu instinto dizia para eu não fazer. Eu praticamente fui enganado pelo SW4. Ou melhor, para não parecer culpa do carro, eu é que me enganei. Me empolguei demais.
Empolgação
O SW4 tem no Brasil e no mundo uma herança de capacidade fora-de-estrada construída ao longo de décadas e iniciada com o icônico FJ-40, nosso conhecido Bandeirante (muitos falam Bandeirantes, o que está errado). Não sei dizer e nem quero entrar em polêmica qual “jipe” é o mais icônico; o próprio Jeep, a linhagem do Land Rover Defender ou o Toyota FJ-40. Cada um tem a sua rica trajetória de lama e trilhas incríveis na construção de suas imagens.
Pois bem. Essa herança habita nosso imaginário. Ao menos o meu. E toda vez que vejo um desses ou seus descendentes, imagino trilhas, barro e desafios. Uma bela altura do solo, pneus grandes e mistos, bons ângulos de ataque e saída, e o estilo jipão que exala robustez. Por pura coincidência, bem na semana do meu “no uso” com o SW4 fiz uma visita ao nosso amigo Luís Fernando Cardoso, que é o responsável pelo Box 54, lugar que o AE adora. E o Luís me levou para conhecer a área fora-de-estrada que ele está preparando lá.
Para ele me mostrar toda a área subimos uma trilha pelos morros nos fundos do Box 54. E eu achei que o SW4 mesmo sendo 4×2 foi muitíssimo bem. Apesar de que numa curva muito apertada e que necessitava manobra para contorná-la, eu acabei preso por perder a tração dando ré e sem poder ir para frente. Foi uma daquelas situações em que a gente sabe que a chance de não dar certo é alta mas mesmo assim insiste. Com um pouco de insistência consegui aos poucos sair do enrosco sem ajuda externa, o que elevou a minha confiança.
Em seguida o Luís me mostrou uma pista em construção. Confiante em mim e na capacidade do carro tive o ímpeto de colocar o 4×2 lá de imediato. Mas resolvi deixar para o próximo dia, quando voltaria ao Box 54 com o outro Luís Fernando, o Carqueijo, nosso editor especialista em 4×4, para avaliar a pista para um evento 4×4 com leitores do AE (não esqueci disso!) e também encontrar o JJ para fazermos o vídeo da Audi A4 Avant.
Nesse outro dia, com o Carqueijo e o Cardoso, mais o JJ, fomos conhecer a pista e eu pedi ao Carqueijo que me ajudasse a colocar o SW4 ali para confirmar o meu achismo de que ele passaria com facilidade. O especialista logo mexeu a cabeça negativamente. Mas eu sou daqueles decididos: retruquei dizendo que sabia do risco mas faria assim mesmo. No entanto precisava de uma orientação para procurar o trajeto menos complicado e arriscado. Mesmo que a contragosto ele topou me orientar. Não foi nada fácil! E teve um momento em que o Luís precisou me alertar para que eu não capotasse a peruona de quase duas toneladas. Eu também me assustei, mas consegui, triunfante, passar pela pista.
Bem, dessa pista seguimos para a trilha do dia anterior. Eu queria mostrar para o Luís o 4×2 trabalhando em conjunto com o controle de tração. Mas nesse dia o piso estava mais úmido, um pouco mais difícil e assim aprendi um truque com o Luís Carqueijo. Em situações assim o ideal é deixar a caixa em modo manual para tentar ganham um pouco mais de patinação nas rodas, e assim algum movimento, e evitando a troca de marcha automática. Em uma curva com subida na terra úmida tive que usar essa técnica para após algumas tentativas conseguir ganhar tração e continuar a trilha. A partir dali meu desejo em testar a minha percepção de que aquele carro 4×2 seria capaz de enfrentar algumas situações difíceis já estava satisfeito.
Então o Luís Cardoso nos mostrou um outro lugar, com um riachinho no final de uma descida e uma subida do outro lado. O Luís Carqueijo desceu lá e empolgado com a minha determinação anterior disse ser possível transpor o riachinho. Desci a ladeira bem devagar e quando vi a encrenca eu estava certo de que não passaria. Mas a minha empolgação anterior havia empolgado o especialista, que depois me empolgou de novo. Aí fomos. O resultado é esse aí da foto abaixo.
Calma! Como na verdade a frente foi apenas apoiada na lama, sem impacto, não houve danos. Tudo voltou perfeitamente para o lugar. Desmontamos a grade e empurramos o para-choques por dentro e pronto. Nem presilhas ou fixações se quebraram. Achei isso fantástico! Mostra que robustez não é apenas ser inquebrável. Mas também não se danificar com muita facilidade.
Com essa experiência aprendi algumas novas lições. A primeira: não brinque com um 4×2, a menos que seja necessário, e saiba que a chance de não dar certo é grande. A segunda: confie no seu instinto, não na sua vontade. E a terceira: se for fazer arte, leve os amigos e um trator!
Voltando para o SW4!
Duas coisas são muito bacanas nesse carro. O exterior, muito arrojado, principalmente a frente, mas também o recorte dos vidros laterais traseiros. A Toyota, sempre acusada de conservadorismo extremo, nesse SW4 foi mais ousada e sem perder o equilíbrio. O porte grandalhão, com altura do solo de 279 mm, rodas de 17″ (nas outras versões são de 18″) e cara de suve autêntico logo remetem à tradição da marca nesse segmento. E na rua, apenas os mais atentos e fanáticos sabem que se trata da versão de entrada.
E o interior muito caprichado, em acabamento e desenho. Materiais muito suaves ao toque e uma combinação de cores muito agradável, de preto, marrom e cinza. Bancos bonitos e confortáveis, mesmo em tecido. No geral o carro agrada muito os olhos e o tato. O volante é revestido em couro e tem a parte superior em madeira. Parece algo antiquado, mas a tonalidade e o acabamento fosco anulam essa ideia e apontam para requinte. Os instrumentos são bem legíveis e com um visual atraente. Sofisticação é uma palavra que vem à minha mente para descrever o interior.
O nível de equipamentos é muito bom. Tudo que é necessário ou mais demandado está presente mesmo que em relação as outras versões tenha perdido alguns mimos. Há ajuste de altura e distância do volante, computador de bordo, sistema multimídia Toyota Play com tela tátil de 7” com sistema de navegação, TV Digital e leitor de DVD, rádio com CD Player/MP3, câmera de ré, Bluetooth, conexões USB e AUX e seis alto-falantes. No volante há comandos de telefone, áudio, vídeo e computador de bordo além do controle de velocidade de cruzeiro. O sistema de ar-condicionado é analógico, mas com saídas para segunda e terceira fila de bancos (quando equipado).
Ligados à segurança além do obrigatório ABS, há distribuição eletrônica de frenagem (EBD), assistente de frenagens emergenciais (BAS), controle eletrônico de tração (ATRC), controle eletrônico de estabilidade (VSC), sensor de estacionamento traseiro, assistente de Subida (HAC), três bolsas infláveis, duas frontais e uma para joelho (motorista) e cintos de segurança de três pontos também na posição central do banco traseiro.
O motor 4-cilindros flex já era conhecido do modelo anterior da SW4. Seus 2,7 litros de duplo comando com variador de fase na admissão e escapamento e injeção no duto geram 159/163 cv a 5.000 rpm e 25 m·kgf a 4.000 rpm com ambos os combustíveis. E a caixa é automática de seis marchas, fabricada pela Toyota. Essa combinação, mais a tração traseira, e o peso de 1.845 kg, não nos proporcionam muita emoção. A Toyota não informa dados de desempenho mas na média de algumas passagens o 0-a-100 km/h ficou em 14,8 s.
Acredito que o desempenho está de acordo com a proposta dessa versão. O destaque é para suavidade do conjunto e para excelente calibração da caixa que responde com precisão e certa rapidez às solicitações do acelerador. Não há borboletas, que são presentes nas outras versões.
O consumo de combustível é a vantagem sobre o V-6. Este, só a gasolina, faz de acordo com o Inmetro, 6,0 km/l na cidade e 7,3 km/l na estrada. O 4-cilindros flex faz 7,1/4,9 km/l na cidade e 8,5/5,9 km/l na estrada. O primeiro abastecimento foi com álcool e o tancão de 80 litros acabou logo. Meu pé direito dificultou as coisas para fazer médias melhores que as do Inmetro. Coloquei gasolina e também não consegui números muito melhores. Talvez eu devesse ter usado mais o modo Eco. Há ainda o modo Power.
Juntando 0 rodar suave e muito silencioso, com excelentes isolamentos de ruídos, de vento, trem de força e rodagem, com o conforto de suspensão (com molas traseiras helicoidais —na Hilux são semielípticas) é possível fazer viagens longas e sem o menor stress. E pelo que pude constatar, também com segurança. Essa versão tem altura do solo de 279 mm, quase 30 centímetros. E intrigado com esses vídeos virais que aparecem de tempos em tempos na internet, mostrando sustos fortes em situações extremas e muitas vezes por imperícia, eu forcei bastante algumas guinadas bruscas de direção mas não consegui sentir nem um friozinho na barriga. O controle de estabilidade nem se manifestou. Gostei do comportamento dinâmico. Freios a disco nas quatro rodas completam o pacote.
O espaço interno é excelente para todos ocupantes e para bagagem. Incrivelmente não há a informação do volume do porta-malas em nenhuma ficha técnica e nem no manual do proprietário, mas eu estimo algo entre 550 e 600 litros.
Para quem ainda gosta ou prefere suves autênticos, mas não vai encarar trilhas ou caminhos muito difíceis, o SW4 SR pode ser uma boa opção. Por mais que sendo um autoentusiasta eu adore peruas, como a Audi A4 Avant que o JJ testou e aparece no vídeo e nas fotos, em viagens para lugares desconhecidos e com chance de estradas e vias mais esburacadas, eu reconheço as vantagens dos suves.
Eu gostaria de fazer viagens longas com a minha família em um carro desses e tenho a certeza que minha família também gostaria.
Nota: enquanto visitava o Box 54 fiquei sabendo que o Luís Fernando Cardoso tem uma banda, onde toca bateria, e que eu gostei muito. Tanto que disse ao Luís que colocaria o link para o vídeo da música de trabalho do álbum recém-lançado chamada “Criança”. Veja e curta o som do Luís no vídeo mais abaixo.
PK
Vídeos:
O Carro
A Aventura
A Banda do Luís Fernando Cardoso do Box 54
Fotos adicionais
FICHA TÉCNICA TOYOTA SW4 SR FLEX AUTOMÁTICO 4×2 | |
MOTOR | |
Designação | 2TR-FBE |
Tipo | Ciclo Otto, flexível, álcool / gasolina |
Instalação | Dianteiro, logitudinal |
Material do bloco/cabeçote | ferro fundido/alumínio |
N° de cilindros/configuração | 4/verticais |
Diâmetro x curso (mm) | 95 x 95 |
Cilindrada (cm³) | 2.694 |
Aspiração | Natural |
Taxa de compressão (:1) | 12 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 163/159/5.000 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 25/25/5.000 |
N° de comando de válvulas/localização | 2 /cabeçote |
N° válvulas por cilindro | 4 |
Formação de mistura | Injeção eletrônica, sequencial |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Câmbio | Automática, 6 marchas à frente e uma à ré |
Relações das marchas (:1) | 1ª – 3,6 / 2ª – 2,09 /3ª – 1,488 / 4ª – 1,0 / 5ª – 0,687 / 6ª – 0,58 / Ré – 3,732 |
Relação de diferencial | 4,555 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico com ABS, ESP, ASR, BAS e assistente de saída em rampa |
Dianteiro (tipo, Ø mm) | A disco ventilado / n.d. |
Traseiro (tipo, Ø mm) | A disco ventilado / n.d. |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, braços duplo triangulares, mola helicoidal, amortecedor pressurizado, barra estabilizadora |
Traseira | Eixo rígido, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira com assistência hidráulica |
Diâmetro mínimo de curva (m) | n.d. |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio 17″ |
Pneus | 265/65 R17 |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.845 |
Carga máxima | 655 |
Peso bruto total | 2.500 |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.795 |
Largura sem/com espelhos | 1.855 / n.d. |
Altura | 1.835 |
Distância entre eixos | 2.745 |
Bitola dianteira/traseira | 1.540/1.555 |
Altura do solo | 279 |
Ângulo de ataque | 29° |
Ângulo de saída | 25° |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | n.d. |
Tanque de combustível | 60 |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h. G/A) | n.d. |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | n.d. |
Relação peso-potência (kg/cv, A) | 11,3 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBVE) | |
Cidade (km/l, G/A) | 7,1/4,9 |
Estrada (km/l, G/A) | 5,9/8,5 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 na última marcha (km/h) | 55,4 |
Rotação do motor a 120 km/h em 6ª (rpm) | 2.170 |
PREÇO (R$) | 163.500 |
GARANTIA | |
Termo | 3 anos |