Meu velho amigo Adelino Faccioli me contou ontem, indignado, ter sido alvo da uma pegadinha da CET, a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, algo inaceitável vindo de um órgão público.
Depois de buscar familiares bem cedo no aeroporto de Guarulhos, rumou para São Paulo. O caminho, rodovia Ayrton Senna, marginal do Tietê e acesso por alça à av. Tiradentes logo após passar sob a ponte das Bandeiras.
Como eu e muitos, ele sabia que a CET fecha aquele acesso em certos horários por meio de uma porteira metálica. Ao que tudo indica, é para impedir engarrafamento na pista lateral da marginal, na faixa mais à direita, devido à fila que costuma se formar no horário de pico da manhã devido à entrada complicada na av. Tiradentes de manhã cedo, ao sair da alça.
É bom que se diga que a solução da porteira é um absurdo em si mesmo, já que não se pode prejudicar o fluxo enquanto se aguarda a fila andar: não deu para entrar? Siga em frente, o que, aliás, pode ser determinado por um agente de trânsito — policial, não fiscal — a quem motoristas devem obediência, segundo o código de trânsito (Art. 89: A sinalização terá a seguinte ordem de prevalência (…) Inciso I: As ordens do agente de trânsito sobre as normas de circulação e outros sinais).
Portanto, não é preciso porteira, mesmo porque a alça de acesso não fica necessariamente engarrafada o tempo todo.
Mas, vamos à pegadinha propriamente dita. A foto abaixo, obtida do Street View do Google Maps, mostra uma situação que o amigo, eu e muitos conhecíamos:
A foto é de julho de 2011. Note uma das folhas da porteira, em amarelo, aberta (a outra folha está no lado direito, não aparece). Note que a placa de orientação está sozinha, não há a menor, de fundo branco, sob ela, como aparece no fac-simile da notificação de autuação que abre o post.
Veja agora a foto do mesmo ponto, feita pelo Google Maps em março de 2014:
Note que agora está lá a tal placa pequena sob a principal, estabelecendo a proibição de dobrar e horário (de segunda a sexta e provavelmente no horário da pico da manhã, não dá para ler direito).
Fica clara a pegadinha. Primeiro, a placa que se destaca é a maior, de fundo verde, logo lida; segundo, por conhecer a porteira, qualquer motorista ao vê-la aberta entende que o acesso é livre. Terceiro, ao iniciar o acesso à alça e só depois notar que é proibido tomá-la, não há mais como abortar a manobra, reforçado por cones que impedem deixar a faixa correta de entrada no acesso, além de não ser permitido cruzar faixa contínua. Por último, é claro, colocaram uma câmera, a que fotografou o Renault Scénic 2007 que o amigo dirigia para uso na notificação de autuação.
Não sei o que dá mais, vergonha ou náusea.
O meu amigo vai recorrer e o recurso provavelmente será indeferido. Restar-lhe-á pagar a multa — grave, R$ 127,69, e cinco pontos na CNH — e recorrer em segunda instância ao Conselho Estadual de Trânsito (Cetran), em que há possibilidade de ganhar diante de tamanho absurdo e também por se tratar de órgão estadual, com um viés político aí.
BS