Um amigo, o “Z”, volta e meia vinha criticando um ou outro carro. Críticas infundadas, a meu ver, e toca a discutir com ele, explicar que as coisas não eram bem assim como ele dizia. Era cisma do cara. Ele cismava com um carro e pronto; e se tem uma coisa que me irrita é discutir com um cara cismado. Parece uma mula que empaca.
Mas eu levava na boa, porque esse meu amigo é muito legal e era só nessa questão que ele me enchia a paciência.
Bom, eu levava na boa, até que um dia ele encasquetou com o Porsche 911 de 1997 dizendo que “era uma porcaria”. Aí foi demais e perdi a paciência.
— Escute aqui, “Z”, acho que você está a fim de bancar o tonto mesmo. Você pode falar uma asneira dessas para mim, que sou seu amigo, conheço você e lhe dou um desconto, mas não vá saindo por aí repetindo essa besteira, que vão achá-lo um otário. Porsche, Ferrari, Lamborghini, esse tipo de carro, não é para você julgar assim. Ninguém precisa da sua aprovação ou desaprovação. É como dizer que acha Rolls-Royce uma droga porque ele é pesado. Ora bolas, ele é assim e o que ele oferece é o que se espera dele. Um Ferrari é algo duro de suspensão e é assim que é para ser. Faltava você descer de um Ferrari e sair reclamando que é duro. O máximo que você pode dizer é que não se adapta bem ao 911 e ponto final. E tem mais, esse 911 de que você fala é o último arrefecido a ar, e como tal terá sempre um grande valor, tipo o último dos moicanos. Acho esse carro incrível.
E assim ia o “Z”. A cisma dele então era, além do 911, um modelo Volvo que não me lembro exatamente qual. Segundo ele, os dois eram lixo. Antes, que me lembre, tinha sido Opala Diplomata e Santana automático, fora outros que não lembro quais. Mas desses dois eu lembro.
Foi então que por acaso passamos na casa de sua irmã, uma gata que eu conhecia desde pequena e que por ser irmã de amigo era intocável. Ela estava casada há anos e vivia num belo apartamento. Desde o seu casamento que eu nunca mais a vira. Ele tinha que passar lá para pegar algo e, como estávamos por perto, lá paramos.
O cunhado do “Z” veio nos atender, um sujeito meio esquisito, mas que tentava ser simpático comigo. Tentava. E como ele sabia que eu gostava de carro, acabou por me arrastar à sua garagem lá embaixo. O “Z” não foi e ficou tomando um café com a irmã.
E na garagem havia o quê? Ora, um Volvo e um Porsche 911.
E foi batata. Logo saquei de onde vinham as cismas do “Z”, e para confirmar a teoria tratei de ir soltando “uns verdes” na conversa com o cunhado do “Z”, para ver se eu colhia “uns maduros”. Puxei assunto para o lado dos Opalas, ao que o cunhado logo veio falando de um Diplomata que ele teve. Falei de Santana, e toca ele a contar histórias de um Santana automático que tivera. Ele falava muito e só besteira, e simplesmente não escutava nada do que eu argumentava. Enquanto eu falava, notava que ele não prestava a mínima atenção ao que eu dizia e ele estava era bolando lá o que ia me falar.
Conclusão: o cunhado do “Z” é um cara muito chato, mesmo. Nem o “Z”, nem o 911, nem o Volvo, nem o Diplomata, nem o Santana automático têm culpa. Nenhum deles tem culpa. É o cunhado do “Z” que é chato demais. Chato mesmo. Superchato, opa se é chato! Vai ser chato assim lá na ….!
AK