Acordo de US$ 100 milhões devolve a Bernie Ecclestone emprego de tempo integral na F-1 e pode trazer novidades na categoria, onde tudo deve continuar como era. Confuso? Nada disso, claro como a luz da noite Muita gente achava que desta vez Charles Bernard Ecclestone estava com uma mão no bilhete azul, ou P-Forty Five como se diz na Inglaterra. Processado na justiça alemã por causa de um pagamento de, supostamente, US$ 45 milhões ao banqueiro Gehrard Gribkowsky, o bem-sucedido empresário nunca esteve tão próximo de dizer adeus ao império que ele criou a partir dos anos 1970.
Quando a situação parecia realmente fora de controle, as 8,3 décadas de vida do inglês, um bem-estudado trabalho de advogados e o pagamento de US$ 100 milhões ajudaram a convencer o magistrado teuto a emitir um veredicto que, em poucas palavras, informou que não se chegou a uma conclusão do tipo culpado ou inocente. A decisão, já antológica pela soma recorde que garantiu o acordo, provocou reações de juristas alemães e manifestações de solidariedade de empresários, como o presidente da Daimler AG, Dieter Zetsche, que ao jornal Bild am Sonntag declarou que Bernie Ecclestone ainda ocupa um papel decisivo no que diz respeito ao futuro da F-1.
O magnata que fez fortuna com a categoria se comprometeu a pagar o equivalente a 2,4 % de sua fortuna (US$ 4, 2 bilhões segundo a revista Forbes) em até uma semana. Se o pagamento de tanto dinheiro assim agora não parece ser um problema para quem estava sendo julgado, uma quantia ainda foi o que gerou toda a confusão. Pouco mais de um ano atrás o banco Bayern LB sentiu-se prejudicado em uma negociação que garantiu à empresa CVC Partners (nada a ver com a homônima brasileira do ramo de viagens) o controle acionário das operações comerciais da F-1.
Quando veio a público que Gribkowsky recebeu o pagamento, segundo Ecclestone, como uma forma de evitar que ele denunciasse a estrutura financeira de suas empresas ao fisco inglês, foram abertos processos na Inglaterra e na Alemanha, onde o banqueiro alemão atualmente cumpre pena de 8,5 anos. Após ser inocentado em seu país, Bernie amargou um período de várias idas e vindas aos tribunais de Munique, saga encerrada ontem. Nesse período seu nome foi afastado do quadro de diretores da F-1 mas ninguém acredita que ele tenha perdido algum poder. Ao contrário, certamente há gente que, agora sim, deve estar preocupada com o que poderá acontecer com a volta ao batente do supremo mandatário do mundo dos GPs.
No momento em que a absolvição do inglês começou a tomar contornos mais nítidos, o grupo que arquitetava um processo de reformulação da F-1 coincidentemente começou a esvaziar sob pretextos como “é tempo de férias” ou similares. Até mesmo o banido Flávio Briatore — mentor intelectual da mais famosa marmelada em uma prova da categoria— reapareceu no pedaço como um possível nome a cuidar dos interesses do circo. O sempre frio e calculista Niki Lauda não perdeu tempo em declarar abertamente que a “a F-1 não precisa de Briatore”.
Um novo golpe nas intenções do italiano e dos descontentes. Se um cenário de tragédia já pipocou em sua imaginação, prepare-se para mais: o indiano Vijay Mallya, proprietário da equipe Force India, prova da mesma água de Ecclestone, mas com sabores não tão salubres do rio Ganges ou da baía da Guanabara. Afinal, ao ver sua empresa aérea Kingfisher Airlines falir, sua queda da condição de bilionário foi comparada à de Eike Batista pela Forbes. A cereja do bolo cenográfico desta história bem que poderia ser um abacaxi tropical: ontem começaram a circular rumores de que a Rede Globo deixará de transmitir as corridas de F-1 por causa da audiência cada vez mais baixa. Os autoentusiastas brasileiros, todavia, não ficarão sem acompanhar os GPs; ficarão, isto sim, mais pobres, já que as provas do calendário passariam a ser transmitidas pelo SporTV, canal fechado que só é acessado ante a compra de serviços de TV a cabo.
Como sempre resta uma esperança de que as coisas podem melhorar, o ex-piloto e chefe de equipe Amir Nasr confidenciou a este colunista que Felipe Massa tem contrato com a equipe Williams até 2016 e que seu sobrinho Felipe (piloto-reserva dessa equipe), tem chances de conseguir um lugar em outra equipe já em 2015. A Lotus, que terá motores Mercedes na próxima temporada, é uma aposta mais viável: terá motores Mercedes e sua política comercial tipo “página de classificados” facilitaria um acordo com o jovem brasileiro. Ser companheiro de equipe de Massa só lhe seria possível se alguém pagar uma boa quantia pelo passe de Valteri Bottas, algo que a McLaren e a Honda poderiam fazer.
Falando da marca japonesa, os nipônicos causaram certo alvoroço esta semana após circularem rumores de que o francês Simon Pagenaud, que compete há anos na F-Indy, deverá ser escalado para realizar os primeiros testes do motor Honda que equipará os carros da equipe McLaren a partir de 2015. A empresa fundada por Soichiro sempre se caracterizou por opções peculiares para seus programas de competição: ao estrear na categoria contratou dois americanos (Richie Ginther e Ronnie Bucknum), desenvolveu um motor refrigerado a ar que se revelou um fiasco e abandonado após um acidente fatal com Jo Schlesser no GP da França de 1968, trocava suas equipes de engenheiros no meio da temporada e por aí afora. Ou seja, trazer um piloto da F-Indy para testar um motor de F-1 pode ser considerado trivial.
Novato por novato, em se tratando de F-1 quem anda fazendo escola é a família Magnussen. Depois que o rebento Kevin soube aproveitar a chance na McLaren, agora é a vez do clã Verstappen repetir a dose de forma ainda mais contundente. Aos 16 anos, Max (filho de Jos) domina a F-3 e a lista de compras da Red Bull e da Mercedes. Entre as balas que adoçam a boca do garoto estão contratos longos e até mesmo asas para voar ainda mais alto já em 2015: a marca dos energéticos já teria oferecido um contrato para substituir o francês Jean-Éric Vergne na Toro Rosso.
O touro também mira o espanhol Carlos Sainz Jr, filho do “El Matador”, o que garante uma nova dinastia na categoria. O também francês Jules Bianchi já não desconversa com muita ênfase sobre a possibilidade de substituir Kimi Räikkönen na Ferrari já na próxima temporada. Como que aprovar que tem bons padrinhos não morre pagão, Bianchi tem apoio de Jean Todt, ex-vice-supremo da Ferrari e atual manda-chuva na FIA…
Falando da Scuderia, o italiano Luca Marmorini foi desligado de Maranello em mais um estágio da reforma que Marco Mattiaci impõe para levar a equipe italiana de volta às vitórias. Marmorini, especialista em motores e eletrônica, não deverá ficar muito tempo desempregado: seu nome poderá ser confirmado brevemente como nova aquisição da Renault Sport para melhorar o rendimento do V-6 francês. Outras mudanças no setor são a saída de Laurent Meekies da Toro Rosso, onde desembarcou Jody Eggington, ex-Caterham. Em fase de reestruturação, a equipe inglesa está sendo processada por cerca de 40 funcionários que foram dispensados após a chegada de Colin Kolles e Christjan Albers ao comando da operação.
A primeira de Barrichello e a última do câmbio
Em um fim de semana do gênero “minha corrida inesquecível”, Rubens Barrichello venceu a Corrida do Milhão, principal prova do calendário da Stock Car brasileira, disputada domingo em Goiânia. O paulista fez história ao tornar-se o primeiro piloto a vencer largando desde a pole position e, a exemplo de Valdeno Brito (2008) e Ricardo Zonta (2013), conquistar a sua primeira vitória na categoria ganhando a milionária prova. Thiago Camillo terminou em segundo a apenas 0,186 segundo.
O clima de festa das arquibancadas que receberam bom público contrastou com o ambiente entre muitos chefes de equipes e pilotos que novamente reclamaram do câmbio semi-automático adotado este ano. Constituído por um sistema que combina comando de trocas da italiana Magneti Marelli, acionamento do sistema da alemã Bosch e caixa de câmbio da australiana Xtrac, a solução tem sido alvo de reclamações por causa do funcionamento irregular. Em alguns casos, como o do gaúcho Vitor Genz, a falha do sistema acabou provocando acidentes e prejuízos financeiros às equipes. Por causa disso a pressão para que se volte a usar o sistema antigo, com alavanca única situada ao lado do volante, é enorme e poderá acontecer já na etapa de Cascavel, marcada para o dia 17.
Em Brasília reforma na pista e reconstrução da federação
Uma das cinco federações que deu origem à Confederação Brasileira de Automobilismo em 7 de setembro de 1961, a Federação de Automobilismo do Distrito Federal passa por nova crise e reformulação. Após ter sido desfiliada por má gestão — reza a lenda que a sede da federação chegou a ser vendida de forma ilegal — a entidade sofre intervenção da CBA para que volte a funcionar dentro das leis descritas no estatuto da confederação. O trabalho é coordenado por Robson Duarte, presidente da FAU do Espírito Santo. O autódromo local, inaugurado em 1974, deverá receber ainda este ano sua primeira reforma significativa e que inclui o recapeamento total do traçado de 5.475 metros e, posteriormente, a construção de um novo complexo de boxes e paddock. Embora autoridades locais insistam que em 2015 o autódromo receberá uma etapa da F-Indy e outra do Mundial de Motos, o mais provável é que aconteça apenas a segunda…e no autódromo de Goiânia.
WG
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