O assunto velocidade, limite, radar, “pardal”, multa está mesmo na ordem do dia. Limites impostos pela autoridade sobre a via raramente sobem, praticamente sempre descem. Sempre me pergunto se essa prática de impor limites, com penalização pesada, aqui e no mundo todo, faz sentido.
A Alemanha — sempre ela! — nos dá um bom exemplo, que é o tráfego nas suas fantásticas autoestradas que têm o nome quase mágico para nós, na língua de Goethe: Autobahn e seu plural Autobahnen.
Nelas a velocidade é ilimitada, isso querendo dizer que se anda a quanto se quiser, no sentido estrito da palavra. O alemão ou quem visite o país pode pegar seu carro veloz e viajar à velocidade que desejar. Simples, não? Mas há um detalhe: existe velocidade máxima recomendada, que é de 130 km/h. Ai do motorista se provocar um acidente (ficando provado, naturalmente) em velocidade superior à recomendada. Por aí se vê a seriedade com que os alemães tratam o assunto trânsito — e outros também, a última Copa do Mundo de Futebol está aí como exemplo, inclusive o festival de gols contra a seleção brasileira.
Tenho visto, e o leitor possivelmente também, nas estradas brasileiras placa de limite de velocidade combinada com mensagem abaixo delas dizendo “Velocidade de segurança”. Já andei estudando a sinalização de trânsito e nunca vi menção ou explicação desse aviso. Imagino que seja algo parecido com a velocidade recomendada das Autobahnen e que por isso mesmo não pode, ou não poderia, ensejar autuação. Mas vou continuar procurando, pois é no mínimo curiosa tal informação abaixo da placa de velocidade máxima permitida.
Por outro lado, é inegável que o sistema de limite de velocidade e seu controle, hoje muito facilitado pelos recursos da eletrônica, constitui um grande “reforço de caixa” de governos de todos os níveis de administração, não só aqui, mas no mundo todo.
Acredito que essa “perseguição à velocidade” seja um atavismo, gerado lá atrás, no início do século 19, com a popularização crescente e incessante do veículo automotor, mais o automóvel. veículo que trafegava bem mais rápido que os de tração animal. Para muitos era assustador, ameaçador, daí gerando limites de velocidade e fiscalização.
Sempre imagino um cenário em que todas as ruas, avenidas e estradas tivessem limite de velocidade recomendado e que motoristas os observassem, podendo entretanto excedê-lo sabendo das conseqüências se viesse a provocar um acidente ou atropelar alguém, tal como nas Autobahnen. Creio não haver melhor educação, por condicionamento, do que isso.
Hoje o controle está tão desenvolvido que os mapas dos navegadores GPS incluem o limite da via onde o carro está trafegando. Virou uma espécie de “guerra” entre motoristas e autoridade de trânsito sobre a via. Uma guerra travestida de indústria da multa e que tira a atenção do que realmente deve ser observado por quem dirige, que é o tráfego no qual o carro está inserido, a tal visão de conjunto, pois hoje todos hão de concordar que se passa muito tempo consultando o velocímetro para evitar uma multa.
É mais do que sabido por quem estuda trânsito que vias têm sua velocidade natural, aquela em que se imprime velocidade que pareça adequada para a situação sem necessidade de consultar o velocímetro. Inclusive, em países de trânsito levado a sério, usa-se o método 85 percêntil. pelo qual motoristas voluntários trafegam com o velocímetro tapado e se medem as velocidades que imprimem, achando-se como velocidade adequada a que 85% emprega, assim determinando o limite da via. Tanto que quando se dirige nesses países, ao trafegar normalmente e dar uma espiada no velocímetro, está-se exatamente no limite.
Estudo numa Autobahn mostrou que a velocidade média num determinado trecho era de 142 km/h, prova da tal velocidade natural da via. Aqui, na maioria das autoestradas de 120 km/h, 130 km/h é perfeitamente natural.
Tudo isso leva a uma conclusão, a de que é possível chegar a uma real (e duradoura) educação do motorista, o caminho lógico e certeiro para a erradicação desse grande mal do trânsito brasileiro que é o dejeto viário chamado lombada.
BS