Poucos dias atrás falei sobre a questão da câmbio manual ou automático, o que gerou até agora 123 comentários, incluindo minhas respostas. Como é assunto que parece ser de interesse de muitos, vamos falar um pouco mais a respeito disso tudo.
Se o câmbio automático prático e eficaz foi inventado pela GM em 1939, aplicando-o num Oldsmobile modelo 1940, pode-se concluir que dois fatos levaram à sua criação: a inventividade do Homem pura e simples ou a necessidade de ajudar motoristas na tarefa de dirigir. Como acredito na segunda hipótese, vejo que para muitos operar um câmbio manual representa certa dificuldade ou, dito de outra forma, um trabalho desnecessário. Prova disso é que o aprendizado de dirigir tem no uso da embreagem e do câmbio uma certa dificuldade, especialmente o primeiro.
É sabido que nos Estados Unidos a esmagadora maioria dos automóveis — fala-se em 95% — dos automóveis, picapes e suves têm câmbio automático e se sabe também que nos dois lados do mundo esse tipo de câmbio vem ganhando terreno, com ênfase na Alemanha.
O que sempre me intrigou é a habilitação para dirigir não especificar que tipo de carro a pessoa pode dirigir no tocante ao tipo de câmbio. Pode-se ter uma pessoa com carteira de habilitação que não sabe dirigir carro com câmbio automático (comum no Brasil, já vi até no meu meio de jornalistas) e vice-versa (EUA). Há tempo eu soube de cursos, treinamento para motoristas lá e no Canadá para aprender a dirigir com câmbio manual por uma razão específica, a de ir fazer turismo na Europa e, ao procurar carro para alugar, as tarifas mais baixas só se encontrarem em carros de câmbio manual.
O fato é que não ter de ficar passando marchas facilita o dirigir. É pôr o carro para andar (alavanca em “D”, drive) e só acelerar e frear. Muitos até se habituam a frear sistematicamente com o pé esquerdo (não é o meu caso). Mas será tão difícil ou trabalhoso dirigir “à moda antiga”, um carro manual? De modo algum.
Escolher a marcha a ser usada, ir trocando-as por meio da alavanca existente para esse fim, será mesmo tanto trabalho? Não creio. Câmbio manual em alemão é Schaltgetriebe, em que “Schalt” é comutar, escolher. O manuseio da alavanca torna-se cada vez mais leve, preciso e fácil, em nível inimaginável 15 ou 20 anos atrás.
A outra parte de operação do câmbio manual é a que mais dificuldade impõe para os iniciantes, o uso da embreagem. Isso, sempre acreditei, por falta de entendimento do que é esse sistema, por falta sobretudo de explicação. Quem começa a dirigir, e por toda a vida de motorista, precisa entender que a embreagem é apenas um mecanismo para prover ligação gradual entre algo que esta girando — uma peça do motor, o virabrequim — e que está parado — o veículo. E que tem de ser gradual porque o motor exige um mínimo de rotação para funcionar, para produzir trabalho.
Quando se começa a soltar o pedal de embreagem, as duas partes, a parada e a que está em movimento, começam a se aproximar e ligação entre elas vai se fazendo gradualmente até o ponto em que o contato é total e o carro já esteja numa velocidade tal em que o motor já consegue produzir o trabalho necessário. A embreagem é apenas isso.
Essa operação em pouco tempo, ou quilômetros, fica automática para o motorista, mas se ele(a) entender o que acontece se lembrará para sempre desse “contato gradual”.
Outra função da embreagem, secundária, é separar o motor do câmbio nas trocas de marchas, essencial para que as trocas se dêem de maneira correta e suave.
É claro que nas trocas tem de haver movimento coordenado de pé (embreagem) e mão (alavanca), mas isso também fica automático em pouco tempo.
O que é importante salientar é que não constitui nada feio ou desonroso ter um carro de câmbio manual ou, inversamente, que ter um de câmbio automático dê status, seja um diferenciador de condição social ou econômica. Trata-se meramente de tipo de câmbio diferentes.
BS