Se é verdade que mulher tem cada vez mais peso na decisão pela compra de um carro — seja o único da família ou o que ela vai dirigir prioritariamente — qual é o modelo que ela prefere? Quem de nós já não ouviu que um determinado modelo é “carro de mulher”? Mas, afinal, qual é o “carro de mulher”?
Antigamente, era aquele tipo perua (gostaram da definição, diretamente do túnel do tempo?), o grupo formado pela Toyota Fielder, Fiat Palio Weekend, VW SpaceFox, Renault Grand Tour. Basicamente, aqueles modelos com duas fileiras de bancos e um porta-malas, tudo num volume só. Inexplicavelmente, durante muitos anos foram feitas com duas portas o que obrigava as mães a que fizessem contorções com crianças, cadeirinhas (OK, naquela época não eram obrigatórias, mas o bom senso sempre rezou que fossem usadas) e mochilas de escola.
Mas em algum momento, as mulheres começaram a achar que os carros mais altos lhes davam mais segurança e muitas, querendo se livrar do estigma de “carros de mãe”, quiseram um toque esportivo — mas ainda assim precisavam levar os pimpolhos para a escola — e passaram a pedir Picassos, Duster, CrossFox. Surgiu ainda uma categoria híbrida, mezzo calabresa, mezzo muzzarela e partiram simplesmente para os modelos jipinhos e tipo 4×4. Digo “tipo” pois há autênticos genéricos nesta linha, como alguns com motor 1,0 e potência, bem, potência?… deixa pra lá.
Nada contra carro 1,0. Eu mesma tive dois logo que foram lançados, mas é importante ter consciência de que tipo de carro se dirige e não achar que se está ao volante de jipinho ou de um 4×4. Antes que perguntem, os meus foram um Uno Mille e um Corsa — hatch, grafite escuro e não o sedã, nem o hatch vinho, como praticamente todas as mulheres que conheço tiveram. E por falar em carro 1,0, nunca ninguém me explicou por que todos eles saem de fábrica com um defeito no alinhamento: puxam para a esquerda. Ou alguém já viu um carrinho 1,0 andar pela direita? Sarcasmo meu, sarcasmo…
Voltando ao assunto de hoje, não sei exatamente se os fabricantes começaram a oferecer esses modelos focando nas mulheres ou se foram elas (sou mulher, mas neste caso não me incluo) as que pediram essa opção. A Fiat diz que os modelos como os Adventure e os esportivos compactos se destacam pela altura, dando às mulheres uma sensação de proteção no volante. A Renault lançou em maio o Sandero Stepway Tweed porque o visual aventureiro e suspensão elevada tem posição de dirigir mais alta, um dos motivos que “fazem a cabeça das mulheres”.
Mas uma coisa é certa. Brasileiro, realmente, gosta de carro. E mulher, mesmo que de uma forma um pouco diferente, também. Por isso não adianta você explicar que dirigir um carro mais alto exige que você faça as curvas de forma diferente, que a estabilidade é outra pois o centro de gravidade muda. E, principalmente, que ao contrário do que as mulheres acham, a visibilidade não é melhor, especialmente em relação às laterais. Acho engraçado porque depois elas ajustam a altura do banco e do volante e reclamam do ângulo dos retrovisores… E dependendo do modelo, ainda tem os malabarismos para subir e descer — de saia, então, nem falar. Tem um vídeo divertido no YouTube que ensina como subir num suve de forma “feminina” de saia, passo-a-passo.
E a sensação de que você tem mais poder é totalmente anulada quando você fica atrás ou ao lado de outro carro do mesmo tamanho do seu, que bloqueia sua visão. Talvez se uma mulher dirigisse um esportivo desses durante uns 15 dias mudasse de idéia, Mas ele deveria incluir curvas em estrada molhada, baliza e estacionar rigorosamente dentro das marcações da garagem de casa e do shopping. Mas é proibido o valet e o uso de vagas de idosos ou de deficientes!
Mas como já disse aqui, há número para tudo. Em julho, a Petrobrás publicou uma enquete (portanto, sem bases científicas) chamada Petrobras de Carona com Elas para saber qual o tipo de carro que as mulheres preferem para dirigir. A maioria das internautas (22%) que respondeu opta pelos compactos. Logo em seguida vêm os esportivos, com 20% da preferência. Os sedãs aparecem em terceiro lugar com 14%. Já os modelos suve e os estilo minivan representam 14% e 5%, respectivamente. Ou seja, nada, rigorosamente nada do que vemos nas ruas ou do que as mulheres comuns, com as quais conversamos todos os dias, dizem. Sei lá, vai ver que pesquisaram num universo paralelo ou que alguns internautas se divertiram respondendo bobagens só para passar o tempo. E não me perguntem o que pensam os outros 25% pois também percebi que o número não dá 100%, mas parece que o pessoal da Petrobrás não notou…
No meu caso, por mais que eu goste de carro, e gosto muito, muito mesmo, a escolha da compra tem de ser também racional. Quem vai dirigir? Para que ele vai servir? Claro que no caso do rodízio paulistano somos obrigados a ter flexibilidade e dirigir carro de cônjuge, filho, cunhado até dependendo da circunstância. Pessoalmente, além de trabalhar fora, sou dona de casa e o supermercado é uma das minhas muitas atribuições. Além disso, viajamos muito de carro. Ou seja, nossa compra é um porta-malas gigante com quatro rodas. Depois vêm as preferências: motor, cor, automático ou manual, bolsa inflável (sempre, e o máximo possível), ABS, custo x benefício, etc, etc. Já perceberam o cenário? Longas conversas que incluem amigos, mecânicos, matérias de jornal, o máximo de informação possível. E sinceramente, não dou a mínima à opinião das minhas amigas — a não ser que entendam de mecânica.
Mudando de assunto: Esta semana vi novamente o filme “Rush”. Sei que o fato não existiu, sou contra a violência e sou jornalista, mas a cena em que o personagem de James Hunt dá uns cascudos no impertinente repórter depois da coletiva em que ele desrespeita Niki Lauda é genial.
NG