Como a maioria de vocês, leitores do AUTOentusiastas e de outros meios, sou um profundo admirador da máquina do século 20, o automóvel. É natural, portanto, que eu sempre me sinta incentivado a conviver intimamente com os carros, se não profissionalmente, ao menos como companheiro tanto de demandas pragmáticas quanto de devaneios lúdicos (o dirigir por dirigir).
Mas viver harmonicamente com os carros parece cada vez mais difícil atualmente; e em grande parte, isso é causado pelas entidades ditas “reguladoras” do bom andamento do trânsito desta imensa nação.
Preciso fazer essa pequena introdução para comentar algumas coisas sobre o que me motivou, a escrever um e-mail indignado para o Bob ontem, dia 30/10 – agora, com a poeira baixando um pouco, fica mais claro escrever e teorizar um pouco mais.
Bem, eu levei uma multa de excesso de velocidade —”Grande novidade!”, diriam alguns — mas eu insisto que uma anônima e aparentemente insignificante infração é o reflexo mais fiel de um aparato arrecadador digno da polícia nazista, quando estes corriam atrás de judeus.
Vamos ao caso:
Estava eu me deslocando para Porto Alegre, para fazer um favor a alguns parentes, guiando despreocupadamente um utilitário Kombi, carro relativamente modesto em desempenho, mesmo propulsionado pelo bom 1.400-cm³ do Fox de exportação.
A estrada é a RS-122, duas faixas que vão, duas faixas que vêm, canteiro central — asfalto em ótimas condições na maioria do trecho. A estrada é regulamentada pelos famigerados e obsoletos 80 km/h, por si só um absurdo dadas as condições da via, que comportaria 100/110 km/h com sobras.
Bem, eu consegui levar uma multa ao ser pego (o delinqüente…) a 88 km/h reais, o que, subtraída a tolerância legal estabelecida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), de 7 km/h para velocidades até 100 km/h, resultou em 81 km/h, ultrapassando em 1 km/h a (grande) velocidade máxima permitida.
Até aí tudo bem…”Vacilaste, meu chapa! Assume que tu não és um piloto automático (cruise control) tão bom assim…” Mas a questão é mais profunda do que isso, mais do que os 4 pontos debitados na CNH ou em relação aos R$ 85,13 de multa, correspondentes a infração média.
Vamos às condições do local da infração:
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Descida curta para média, de gradiente bem pequena, precedendo uma curva de raio longo para a esquerda — curva quem em tempos mais felizes (sem tanta sede por arrecadação) tinha sua velocidade natural especulada para ao menos 110/120 km/h indicados, sem nenhum problema. Podia ser cortada da faixa da direita até o apex (sem carros do lado, claro) de forma fluida, suave e macia, sem perder nada daquela velocidade totalmente coerente com a via. Era virar o volante alguns graus e pronto, não havia cruzamento, trevo, divisão do canteiro…era pouco mais que uma “reta curva” que poderia ser tomada a mais de 160 km/h se alguém quisesse andar rápido de verdade. Sua entrada e saída, margeada por largo acostamento, têm excelente visibilidade, não existe nada que — como no resto da via – justificasse os jurássicos 80 km/h.
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Onde o guarda estava posicionado: um pirulito para quem acertar essa! O “agente da lei” estava lá onde vocês estão pensando, sim: no final da descida, do lado externo da curva (para ficar “escondido”, pois se olha para o lado interno da curva, certo?), mirando o secador de cabelo para todos os “delinqüentes” em potencial. O detalhe é que esse trecho de rodovia ganhou vários “pardais” (radares fixos de velocidade), somando-se aos que já existiam. No total, são 8 pardais nesse sentido interior–capital, e quase o mesmo número na volta. Tudo isso em 60 ou 70 quilômetros.
O “puliça” me multou depois de eu ter percorrido 1.500 metros após um radar, e a apenas 800 metros de um novo pardal….ou seja, qual é a deles? Que tipo de reeducação é essa? Eu andava a 90 km/h indicados na Kombi, contando com o providencial erro do velocímetro para não ter nenhum problema, imaginando também a tolerância permitida. Mas cheguei à descida, e eu, apesar de despreocupado e com tempo de sobra, mantive o pé na mesma posição, ganhando cerca de 2 a 3 km/h nesse processo — malgrado a má aerodinâmica da van — e onde estava o “puliça”?
Sim, repito, lá embaixo, no único ponto onde você pode ganhar 1 ou 2 km/h. Se isso não é má-fé, não sei mais o que é. Fosse na proximidade ou na frente de um cruzamento, curva fechada, via mal pavimentada…vá lá! Mas não, era apenas a oportunidade perfeita para pegar os incautos. Baita maldade, sanha arrecadadora pura e simples.
Estamos chegando ao tempo de ter de frear em todas as descidas, de manter o ponteiro estabilizado nos oitenta mesmo na melhor das estradas, de ter a certeza que a polícia rodoviária estará sempre ali, de tocaia que nem um bandido, para te puxar uma graninha do bolso, posicionados nos lugares onde tu vais “errar”, seja em descida, ou até mesmo em subidas com terceira faixa para veículos pesados — no momento que tu puxares uma terceira para passar a fila de caminhões, e passar dos 80…a polícia vai estar lá, vigilante, para te aplicar uma multa em plena subida. O importante não é realizar a manobra de forma segura e rápida, é ser encarado como uma “ameaça das estradas”.
Meu respeito pela polícia rodoviária acabou de vez. Quando eles poderiam agir fiscalizando de verdade (em movimento) as estradas saturadas de fluxo, coibindo esquerdistas que provocam enormes gargalos, verificando visualmente veículos em mau estado de conservação, analisando comportamento estranho de motoristas causado por embriaguez ou uso de drogas, isso eles não fazem. Mas quando precisam estrangular vias de entrada e saída das grandes cidades com blitze e afunilamentos de pista sem sentido, isso eles executam com perfeição.
Estamos mesmo bem mal servidos, para não usar um termo chulo em respeito aos leitores e ao AUTOentusiastas.
“Mr. Fórmula Finesse”