“Vocês gostariam de andar no Voyage 1,0 BlueMotion?”, perguntou-me o responsável pelos carros de teste da Volkswagen. Pensei por uns segundos, afinal temos andado no Voyage, a última vez não faz muito tempo, a versão Evidence, 1,6-L. Mas eu só o havia dirigido na Fazenda Capuava, quando a VW chamou a imprensa para dirigir os modelos 2013, isso em julho de 2012. “OK, vamos andar”, respondi.
Por vezes acontece de dirigirmos um velho conhecido e nos surpreendermos com ele. Mais ou menos como assistir a um filme antigo e descobrir certos detalhes deixando passar antes. Pois foi o que aconteceu ao dirigir este Voyage por uma semana na cidade e ir a voltar a Campinas. Só surpresas — boas. Nada que se possa chamar de maravilhoso, excepcional, mas tudo rigorosamente certo. Com se o cérebro estivesse conectado à máquina.
Carro simples, nada supérfluo, nada de GPS, nada de ar-condicionado de duas zonas, mas tudo o que se tem de ter num carro, pelo menos na minha ótica. Uma assistência hidráulica de direção irrepreensível, o I-System (diversas informações, inclusive o bem-vindo velocímetro de leitura digital), um belo e fácil de usar rádio (ótimo som), sensor de distância traseiro com visualização no mostrador do rádio. O BlueMotion da história consiste de econômetro, indicador de trocar de marchas e pneus de baixo atrito de rolamento 175/70R14.
Preços? O carro básico, R$ 36.570; o pacote BlueMotion, R$ 378; conjunto Conforto para quatro portas (inclui o ar-condicionado), R$ 4.592; a cor metálica, R$ 1.111. Total: R$ 42.651. Isso num sedã, com bom espaço interno, porta-malas de 480 litros que não é pequeno, comprimento adequado para o trânsito urbano, 4.215 mm.
Portanto, assistindo ao filme de novo, boas surpresas. Mas elas não param aí.
A suavidade do “velho” motor EA111 de sufixo TEC (tecnologia de economia de combustível), pequenas mudanças na curva de torque para reduzir o consumo em 4% com comparado com a versão de motor VHT anterior, foi uma (agradável) surpresa ao “rever o filme”. Essa suavidade nos leva a refletir se os econômicos e potentes motores de 3 cilindros da marca e da concorrência, frutos da histeria mundial pelo medo de ver o planeta derreter de tanto calor, de fato compensam. Nem manta fonoabsorvente no capô o 4-cilindros monocomando de duas válvulas por cilindro precisa.
O que o motor de 72/76 cv a 5.250 rpm e 9,7/10,6 m·kgf a 3.850 rpm puxa (tração dianteira) o sedã de apenas 988 kg, é só alegria. Andando por aí, arrancando com mais ímpeto nos semáforos, é de custar a acreditar que lá na frente está um 1.000. Se colocássemos um Passat TS ao lado iriam praticamente juntos até 100 km/h e no finalzinho o Voyage abriria lentamente, pois atinge 164 km/h com gasolina (166 km/h com álcool) e o velho campeão TS, 160 km/h. A elasticidade desse motor é incrível. A partir de 1.500 rpm já responde com vitalidade.
E o consumo? Nessa ida a Campinas o computador de bordo mostrou 14,5 km/l, isso a 130 km/h indicados e com ar-condicionado ligado. Certo, a gasolina era a E22, 22% de álcool, controlada, mas mesmo com 25% (de verdade, sem batismos) mudaria pouco. E note-se que a v/1000 em 5ª é de 28,8 km/h, curta, 120 km/h a 4.170 rpm. Só que a suavidade do motor mascara completamente essa rotação alta em viagem.
Mesmo com pneus de seção estreita esse Voyage faz curva feito gente grande, o perfil 70 é boa defesa contra o nosso piso e por ser estreito, teoricamente é menos sujeito a aquaplanagem. Nada de muletas como controle de tração e estabilidade. Não precisa. O rodar é confortável sem prejudicar o comportamento nas curvas, definição dos parâmetros de suspensão na medida certa.
Peso no volante de direção perfeito, direção rápida (14,9:1), um comando de câmbio que é referência na indústria, o quadro de instrumentos “Wolfsburg”, um ar-condicionado potente, vidros/espelhos/travas de acionamento elétrico. interruptor de luzes giratório na alavanca de seta (minha preferência a botão no painel das versões mais caras). e acho que as exigências da maioria das pessoas estão atendidas.
Só poderão não estar na questão de status, pois o Voyage é de setembro de 2008, lá se vão seis anos e possivelmente não impressione tanto os vizinhos. Mas a quem interessa de fato, o proprietário e seus passageiros, ainda impressiona. E como!
BS