Se você dispõe R$ 601.100 na sua conta bancária e quer sair em busca do imensurável prazer de possuir e dirigir uma obra-prima sobre quatro (largas) rodas, o Audi RS 7 Sportback está à sua espera. A satisfação que dá ao dirigir um sedã com jeito de cupê mas que tem quatro portas, acelera que nem uma supermoto (mas protegido das intempéries e faz muito mais curva) e pode chegar a mais de 300 km/h, e ainda levá-lo e mais três pessoas e toda sua bagagem no porta-malas de 535 litros, cuja tampa abre e fecha eletricamente, é uma combinação difícil de imaginar. Mas ela existe, e funciona com gasolina comum, informado no lado de dentro da portinhola do bocal de abastecimento.
A carroceria pode ser considerada uma liftback, em que o vidro traseiro abre-se junto com a porta de carga. Outro pormenor é os vidros das janelas não contarem com molduras, o que dá um toque de esportividade ao modelo.
O Audi A7 foi lançado no verão europeu de 2010 com motores V-6, um 2,8-L de aspiração atmosférica, injeção direta, 204 cv, e outro de 3 litros com compressor, 310 cv (há versões a diesel também). Passado pouco mais de um ano, no Salão de Frankfurt, surgiu o S7, a versão de alto desempenho marcada pela letra ‘S’ em vez de “A”, prática da Audi, com um V-8 de 4 litros biturbo de 420 cv que já andava muito, 0-100 km/h em 4,7 s. O motor trazia desativação de cilindros visando reduzir o consumo em velocidades de viagem e, na esteira, o de CO2, visando acalmar os histéricos que temem o derretimento da Terra causado pelo efeito-estufa. Em janeiro de 2013 a Audi lançou o RS 7 e em julho ano passado dotou-o de novos faróis Matrix, a LEDs, e aplicou pequenas mudanças de estilo.
É um carro grande, 5.012 x 1.911 x 1.419 mm (comprimento.largura sem os espelhos/altura) com entreeixos de 2.915 mm, e pesa em ordem de marcha, com o tanque de 65 litros cheio, 1.920 kg. Seu Cx não é excepcional, mas é bom, 0,30, com área frontal de 2,29 m², o que dá uma área frontal corrigida de 0,687 m². Tudo isso apoiado em pneus Pirelli PZero 275/30ZR21, que são opcionais incluídos no pacote para o Brasil; os de série são 275/35ZR20. Outro item opcional mas que faz parte deste pacote é o aerofólio traseiro, que levanta ao ser atingida velocidade de 120 km/h.
O RS 7 não tem estepe, no seu lugar kit selante e bomba pneumática elétrica, mas como o carro havia ido ao Rio de Janeiro para filmagem de comercial, foi colocada uma roda completa no porta-malas. Tirei-a para ver o subwoofer que fica no poço do estepe e fiquei impressionado com o peso da roda mais pneu, 30 kg por baixo.
O câmbio é automático epicíclico ZF de oito marchas, com modo Sport e trocas pela alavanca ou pelas borboletas. Não pôde ser usado o robotizado de duas embreagens do S7 devido ao maior torque do motor. Mas a ZF conseguiu excelente resultado na questão das trocas de marchas, que são quase tão rápidas quanto no robotizado em qualquer situação. No modo manual a marcha em uso não sobe ao ser atingida a rotação-limite de 6.800 rpm. Nas reduções, aceleração interina perfeita, claro.
Aliás, chegar a essa rotação é mero diletantismo, pois ir até 6.000 rpm dá e sobra, uma vez que a 5.700 rpm o motor já está entregando a potência máxima de 560 cv e assim vai até 6.600 rpm. O torque máximo de 71,4 m·kgf já vem a apenas 1.750 rpm e continua nesse patamar até 5.500 rpm. É um platô que pode ser chamado de planalto de tão extenso. A 1.000 rpm já são 38,7 m·kgf (380 N·m).
O resultado é uma resposta ao acelerador impressionante em qualquer rotação. O 0-100 km/h é feito em 3.9 segundos, aceleração de supercarro. Mas não é só o “GP do 0 a 100 km/h” que deixa qualquer motorista autoentusiasta em êxtase: 0 a 160 km/h em 8,2 s, 0 a 200 km/h em 13,2 e 0 a 250 km/h em 23 s dão melhor idéia do que este felino alemão anda. Ou, por exemplo, estar-se 80 km/h em 8ª, acelerar a fundo, entrar a 4ª e em 2,9 segundos chegar-se a 120 km/h.
Mas a maneira como o carro pode ser dirigido calma e elegantemente é notável. O passageiro que não o conhece não pode imaginar que o rodar calmo e silencioso se transforme num de carro esporte ao menor toque no acelerador.
A velocidade máxima regulada é 250 km/h, mas na Alemanha (e certamente com jeitinho aqui) pode-se optar por 280 km/h e 305 km/h. A v/1000 em 8ª é 62,3 km/h, para 120 km/h a 1.900 rpm. No caso da velocidade máxima mais alta, é atingida em 7ª a 6.100 rpm. A 250 km/h em 8ª, apenas 4.000 rpm.
O motor é estado da arte: bloco e cabeçotes de alumínio, duplo comando de acionamento por corrente, 4 válvulas por cilindro, injeção direta, dois turbocompressores de dupla voluta no vale do “V”, interresfriadores ar-água. A pressão de superalimentação é 1,2 bar. Conta com desliga/liga que pode ser desativado e assim fica até ser acionado, não sendo do inconveniente tipo em que o padrão volta a cada partida de motor.
Para parar, gigantescos freios a disco carbocerâmicos, dianteiros com 420 mm de diâmetro. O duplo-cicuito, mantendo a tradição Audi, é em diagonal, uma vantagem sobre seus concorrentes alemães ao garantir um freio dianteiro em caso da falha hidráulica. Aliás, duplos também são os fechos do capô (como no Passat brasileiro até 1977!). A direção assistida elétrica tem relação de 13:1, a mais baixa que já experimentei, e o diâmetro mínimo de curva é de razoáveis 11,9 metros considerando o tamanho do carro. Na verdade, dá impressão de ser menos, tal a facilidade de manobra em lugares conhecidos como a própria garagem do prédio.
A tração é integral (quattro) cujo diferencial central distribui o torque 40% na dianteira e 60% na traseira como padrão, mas que dependendo da necessidade manda até 70% para a dianteira ou 85% para a traseira. Isso mais a suspensão (pneumática com amortecimento adaptativo) em si, com geometria feita por quem entende do assunto, não poderia resultar senão num comportamento irrepreensível. Há ainda o diferencial traseiro autobloqueante pelo freio que produz o efeito de vetoração de torque, ajudando o RS 7 a “mergulhar” nas curvas.
O motor tem desativação automática de cilindros quando não é exigida potência e não se nota nenhuma diferença na passagem de V-8 e “V-4” e vice-versa. Segundo a Audi, a economia de combustível chega a 10% com a solução. O consumo europeu (New European Driving Cycle, NEDC)) do RS 7 é 7,5 km/l cidade e 13,7 km/l estrada, médio 10,5 km/l. Viajando do nosso “campo de provas” (Estrada dos Romeiros) até Moema o computador de bordo indicou média de 8,7 km/l, embora dirigindo sem preocupação com consumo e o ar-condicionado ligado.
Importante salientar que a fábrica indica gasolina de 95 ou 98 octanas RON e o carro estava com gasolina aditivada (95 RON), em que com mais octanagem o desempenho aumenta e o consumo melhora, e certamente nas medições de consumo na Europa é feita com a gasolina mais favorável, a Super Plus de 98 RON. E, claro, nada a ver a nossa maldita gasálcool que sabidamente faz elevar o consumo. Portanto, caso se queira o máximo de desempenho, utilize-se gasolina premium ou Podium.
No interior, o padrão Audi de instrumentos, de leitura fácil e com conta-giros no lado certo, mostrador multi-informação entre os dois instrumentos principais (que são voltados para o motorista, perfeito), mostrador projetado no pára-brisa com indicação de velocidade e, quando acionado o GPS, a rota seguir, e a grande tela de 8 pol. escamoteável do painel onde, entre outros ajustes, os do veiculo, pelo Audi Drive Select. De ajuste de amortecedores ao som dos escapamentos. Até leitura da pressão dos pneus. E ainda toda a seleção do sistema de áudio Bang & Olusen (opcional, não está no preço informado no começo). A partida é por botão com chave de presença. O carro testado não tinha a faixa degradê no pára-brisa que consta da lista do pacote Brasil; faz falta.
O ar-condicionado é de quatro zonas e há saídas para os bancos traseiros até mesmo nas colunas centrais. Não poderia faltar o teto solar de vidro inclinante e deslizante, tampouco o controlador automático de velocidade.
Andar uns dias com um carro como o Audi RS 7 traz à lembrança o velho ditado, adaptado, “dinheiro não traz a felicidade, mas faz a infelicidade bem mais confortável”. E, no caso, bem mais emocionante.
BS
Fotos e vídeo: Paulo Keller
FICHA TÉCNICA AUDI RS 7 SPORTBACK | |
MOTOR | |
Tipo | Ignição por centelha, 4 tempos |
Instalação | Dianteiro, longitudinal |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio/alumínio |
N° de cilindros/configuração | 8 / em “V” a 90º |
Diâmetro x curso | 84,5 x 89 mm |
Cilindrada | 3.993 cm³ |
Aspiração | Forçada por dois turbocompressores com interresfriador, pressão 1,2 bar |
Taxa de compressão | 9,3:1 |
Potência máxima | 560 cv de 5.700 a 6.600 rpm |
Torque máximo | 71,4 m·kgf de 1.750 a 5.500 rpm |
N° de válvulas por cilindro | 4 |
N° de comando de válvulas /localização | 2 / cabeçote, com variador de fase de admissão, corrente |
Formação de mistura | Injeção eletrônica direta |
ALIMENTAÇÃO | |
Combustível | Gasolina E20/25, 95/98 octanas RON |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão | 12 volts |
Gerador | Alternador 190 A arrefecido a água |
Capacidade da bateria | 92 A·h |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Quatro |
Câmbio | Automático epicíclico ZF |
N° de marchas | 8 à frente e uma à ré |
Relações das marchas | 1ª. 4,714:1; 2ª. 3,143:1; 3ª. 2,106:1; 4ª.1,667:1; 5ª. 1,285; 6ª 1,000; 7ª 0,839; 8ª 0,667; ré 3,317 |
Relações de diferencial | 3,076:1 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo circuito em diagonal, servoassistido, ABS com EBD |
Dianteiro | Disco carbocerâmico ventilado Ø 420 mm |
Traseiro | Disco carbocerâmico ventilado Ø 400 mm |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, braços triangulares superpostos com 5 braços, subchassi de alumínio, mola pneumática, amortecimento eletrônico e barra estabilizadora |
Traseira | Independente, multibraço com subchassi de aço, mola pneumática, amortecimento eletrônico e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 11,9 m |
Relação de direção | 13:1 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio 9J x 21 |
Pneus | 275/30ZR21 |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 1.920 kg |
Carga máxima | 595 kg |
CARROCERIA | |
Tipo | Monobloco em aço, capô e pára-lamas dianteiros de alumínio, 4 portas liftback, 4 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 5.012 mm |
Largura sem espelhos | 1.911 mm |
Altura | 1.419 mm |
Distância entre eixos | 2.915 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.634/ 1.625 mm |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,30 |
Área frontal (A) | 2,29 m² |
Área frontal corrigida (Cx x A) | 0,687 m² |
CAPACIDADES | |
Porta-malas conforme VDA (V211) | 535 litros |
Tanque de combustível | 65 litros |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima | 250 km/h (opcional 280 e 305 km/h) |
Aceleração 0-100 km | 3,9 s |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL | |
Cidade (dado de fábrica, NEDC) | 7,5 km/l (13,3 l/100 km) |
Estrada (dado de fábrica, NEDC) | 13,7 km/l (7,3 l/100 km) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 8ª | 62,3 km/h |
Rotação do motor a 120 km/h em 8ª | 1.900 rpm |
Rotação do motor à vel. máxima, 7ª | 6.100 rpm (305 km/h) |
Mais fotos:
Nota: fotos adicionais incluídas às 19:00 do dia 23/01/14.