Depois do teste ‘no uso’ do Etios Platinum ontem, pelo Arnaldo, fiquei impressionado com o número de comentários (106, enquanto escrevo esta matéria) e, principalmente, com o nível de rejeição do modelo baseado em dois aspectos, estilo e localização dos instrumentos. Estes, concordo pela leitura, mas não pela localização. Já respondi a alguns leitores falando sobre o Renault Twingo, um carro lançado em 1992, com instrumentos no centro do painel, mas que por serem digitais não apresentavam a menor dificuldade de leitura; o mesmo com o Citroën C4 Picasso.
Para lê-lo nem é preciso movimento de cabeça, basta o de olhos, pois num relance se sabe qual a velocidade quando o velocímetro é digital. Já num quadro de instrumentos de leitura através do volante é preciso ligeiro movimento de cabeça. Nesse caso é questão de altura e foi isso o que levou a PSA a introduzir no Peugeot 208, e recentemente no 2008, o quadro de instrumentos elevado, de leitura por cima do volante, para consulta com movimento de olhos apenas.
Se a Toyota resolvesse trocar o velocímetro e o conta-giros analógicos por digitais o problema ficaria resolvido, uma vez que a vantagem do quadro de instrumentos central é ficar no mesmo nível dos olhos.
Mas mais controverso ainda, alvo das maiores críticas, é o estilo. Olhando friamente, não vejo nada errado nele, tampouco ” linhas de carro do ano 2000″, como escreveu um leitor. São linhas típicas de um hatchback, sem excesso de vincos, limpas, desenho da dianteira e de traseira com tudo onde deve estar, sem rebuscados, e que não cansam.
Faço nisso um paralelo com o primeiro Corsa que tivemos, um desenho que considero obra-prima do japonês Hideo Kodama, da Opel, moderno porém nada revolucionário e que por isso mesmo não cansa. Até hoje, quando vejo um desses Corsa, admiro-me por passados 20 anos o carro não ter cara de “velho”.
Certos desenhos hoje trazem a cintura muito alta, com área envidraçada menor, que realmente não me atraem (mas que não me impediria de comprar um). No Etios o interior é arejado, boa visibilidade em qualquer direção, além do ótimo espaço interno num carro que não chega a 3,8 metros de comprimento.
Há também, e isso é visível em vários comentários, a questão do preconceito. Saber que o Etios foi projetado para “mercados emergentes”, para a Índia no caso, parece incomodar, como se ter um signifique rebaixamento de classe social. Talvez por isso se fale tanto “ah, a Toyota devia fabricar o Yaris”, que na cabeça de muitos é carro de mercados de Primeiro Mundo e aí, tudo bem.
O próprio Hyundai HB20, um sucesso de vendas, carro que caiu no gosto dos brasileiros, só tem aqui, foi projetado especialmente para um país emergente chamado Brasil. A Hyundai tem uma linha de produtos excelente e o HB20 não é exceção. Como o Etios também não é.
Esse preconceito também existe, embora bem menos hoje, em relação a carros do Leste europeu, caso dos Dacia “reemblemados” Renault, mesmo que a fabricante romena pertença à Renault desde 1998, sendo que fabricava veículos sob licença desta desde 1968.
O mercado brasileiro, de um modo geral, desconhece o fato de o Volkswagen up! alemão não ser fabricado lá, mas em Bratislava, na Eslováquia, e de o Porsche Cayenne ser produzido em Leipzig, ex-Alemanha Oriental, e não em Zuffenhausen/Stuttgart, e nem por isso são modelo rejeitados por questão de seu “berço”.
É claro que há muito de emocional na compra de um carro zero-quilômetro, principalmente ser for o primeiro, mas ao pôr de lado o racional muitas vezes se deixa de fazer a melhor compra. Tenho dito e repito: não existe mais carro ruim, todos chegaram a um nível tal que é muito difícil apontar um defeito ou erro de projeto. O leitor do Ae certamente já notou isso nossos testes, em que não ficamos buscando detalhes como “rebarbas” em algum item de plástico.
É por isso escolher um carro fica cada vez mais difícil, acho que todos têm ciência disso. Vale muito na hora da escolha analisar o “entorno”, tudo aquilo que o proprietário vivenciará após sair com o carro novo da concessionária, em especial manutenção e reparos.
BS