Quando o PK confirmou que teríamos o Audi Day aqui no Ae, todos os editores ficaram curiosos sobre quais carros estariam disponíveis. Na reunião que fizemos antes do passeio, falando sobre os carros que já sabíamos quais eram e do belo percurso que o MAO preparou, foi quase que unânime a curiosidade sobre o A1.
O carro de entrada diz muito a respeito de um fabricante, se o cuidado na fabricação e qualidade são destinados apenas aos carros mais caros, ou se a preocupação se estende a todos os seus produtos. A Audi é uma das que trata seus produtos com igualdade, o A1 tem a mesma atenção que um A8, nas devidas proporções, e isto deixa claro os princípios da marca. Qualidade sempre, afinal trata-se de uma marca premium.
O A1 é uma pequena grande surpresa. Pelo seu posicionamento na gama de produtos da Audi, ele é um carro realista. Inicialmente achei que seria um carro completo, cheio de equipamentos e recursos tecnológicos, mas muitas destas expectativas percebi depois que nasceram apenas em função do preço do carro, que comparado com outros compactos, não é barato. Depois de algum tempo convivendo com o A1, entendemos melhor sua proposta.
Em primeiro lugar, o que temos que ter em mente é que o A1 disputa mercado na Europa carros na faixa de preço menor e intermediária. No caso do nosso A1 branco, que é o topo da linha vendida no Brasil, a versão Ambition S-line, regula de preço com um Focus Titanium na Europa. Os recursos disponíveis no pequeno hatch germânico são condizentes com sua proposta, com algumas coisas que poderiam ser adicionadas. Falta uma câmera de ré, por exemplo, uma vez que o carro tem uma tela multifuncional colorida no topo do painel.
Um carro na faixa de preço do A1 normalmente gera polêmica. É importado e por isso já aumenta o valor. É Audi, tem a marca premium associada, também aumenta o valor. O carro que avaliamos, com os opcionais incluídos, fica em R$ 127.490,00 de acordo com o preço sugerido pela fábrica. Não é barato, mas o que o carro oferece em termos de qualidade e tecnologias nos entrega algo muito interessante.
A primeira impressão, vendo o A1 estacionado na garagem, é de um carro robusto e bem definido. Robusto pelas suas linhas, a cara invocada com a grade em destaque e os faróis de forte presença. As proporções da carroceria são muito bem balanceadas. O carro é relativamente baixo, as rodas e pneus são proporcionais ao tamanho da abertura da caixa de roda. Tudo muito bem resolvido.
Ao abrir a porta, luzes na sua parte inferior garantem boa iluminação e visibilidade mesmo no mais escuro dos ambientes. Toda a iluminação interna e externa do carro tende para o tom branco, sóbrio e eficiente. É possível regular a intensidade das luzes pelo sistema de controle central do carro, juntamente com muitas outras funções. Falando em iluminação, os faróis bi-xenônio são sensacionais e a barra de LEDs de iluminação diurna é muito bonita e útil, já marca registrada de todos os Audis modernos.
Para ligar o carro basta pisar no pedal de freio, colocar a chave e virar, como a maioria dos carros do nosso mercado. Não é do tipo keyless (sem chave) com botão de partida no painel, como nos Audis maiores. Poderia ser um mimo a mais, mas não faz falta nenhuma. Uma coisa boba mas que incomodou um pouco foi não ter um lugar prático para colocar o celular. Também fiquei procurando onde poderia ser o comando de rebatimento elétrico dos retrovisores externos, mas não há esta função.
Quando começamos a rodar com o carro pela cidade, vamos descobrindo os recursos e as funcionalidades do painel. A tela multifuncional escamoteável na parte de cima do painel mostra as principais funções do carro, algumas delas comuns com as informações que estão disponíveis na tela central do painel de instrumentos. O rádio é complicado demais, trocar de estação requer menus e botões demais. Não há nada de errado com os rádios comuns, com um botão para subir e um para descer a sintonia. Até a memória é complicada, não precisa de nada disso para um rádio. Em compensação, parear o celular via Bluetooth é simples e muito prático, funciona muito bem. Vai entender.
Uma das minhas maiores preocupações era sobre o conforto ao rodar. As vias de São Paulo são ruins e podem estragar o prazer ao dirigir de muitos carros bons, e se isto acontecesse com o A1 seria uma pena, mas surpreendentemente o carro não repassa ao motorista o desconforto da via como imaginei. Os pneus baixos (215/40R17) até sofrem um pouco nas piores ruas, mas nada que incomode muito. Reduzir a velocidade nestes trechos esburacados já resolve o problema, pois o amortecimento da suspensão é muito bom e absorve o resto dos impactos.
Rodar com o A1 no trânsito é uma experiência muito agradável. É um carrinho pequeno (3.954 mm de comprimento) e ágil. Você consegue colocá-lo onde quer no trânsito, basta uma brecha e uma acelerada. Pronto, carro reposicionado para onde você quiser. A posição de dirigir é boa, não cansa, mesmo para motoristas altos. Por ser uma carroceria curta, os balanços dianteiro e traseiro são pequenos. Em momento algum o carro raspou a frente em lombadas e valetas. Para a minha posição de dirigir, a visibilidade lateral traseira não é das melhores, uma dose extra de atenção cai bem.
É interessante ver como as pessoas na rua reagem ao carro. De modo geral ele chama pouca atenção, muitas vezes passa desapercebido. Em São Paulo há vários A1 rodando, é engraçado que reparei que os homens olham bastante se em um A1 há uma mulher dirigindo, ainda mais se for bonita. Talvez não seja apenas pelo carro, claro, quem não olharia para um Audi nestas condições? Há interesses e interesses.
Talvez o ápice do carro seja o conjunto motor e transmissão. O motor é uma pequena jóia lapidada de quatro cilindros e 1,4 litro com injeção direta de combustível e superalimentação. A versão Ambition possui o motor mais potente da linha, com 185 cv. São 132 cv/l, possível graças ao sistema de superalimentação dupla, com um compressor mecânico tralhando em conjunto com um turbocompressor. Em baixas rotações (1.500 a 2.500/3.000 rpm) o compressor atua para subir rapidamente a curva de torque e potência, depois o turbo entra em ação para as rotações mais elevadas. A potência máxima vem a 6.200, enquanto que o torque máximo de 25,5 m·kgf está disponível de 2.000 a 4.500 rpm. O Bob explicou muito bem o funcionamento do sistema turbo + compressor do A1 nesta matéria.
Na cidade, a aceleração em saída de semáforo e retomadas de velocidade impressiona, graças aos sistemas de alimentação do motor que trabalham em perfeita sincronia. Falando em sincronia, a caixa S tronic de sete marchas e dupla embreagem é uma obra-prima. Quando andamos nos modelos RS no Audi Day do Ae, imaginei que este tipo de tecnologia só era empregada em carros mais caros da marca, pois é realmente impressionante o funcionamento perfeito do sistema.
Quando estamos rodando no modo automático (posição D da alavanca), as trocas de marcha são tão suaves que mal as percebemos. Muitas vezes o carro estava até duas marchas acima do que eu pensava estar. As reduções também são perfeitas. A vantagem do sistema de dupla embreagem é a velocidade de troca, pois o sistema fica sempre com duas marchas engatas, basta apenas desacoplar uma embreagem e acoplar a outra, coisa de milisegundos. As trocas são tão rápidas que o ponteiro do conta-giros move-se bem mais rápido que de outros carros, para acompanhar a velocidade das trocas. Para andar nas grandes cidades este câmbio é ótimo, a suavidade das trocas ameniza a canseira do trânsito pesado.
O A1 não é muito grande por dentro. Os dois ocupantes dianteiros não sofrem nada, mas os do banco de trás já podem passar um pouco de aperto se os da frente forem grandes. O porta-malas de 270 litros acomoda pouca bagagem para uma viagem, talvez o suficiente para uma pessoa ou um casal com poucas malas. Pela proposta do carro, famílias grandes talvez não sejam o público-alvo do carro. Talvez um segundo carro. Acredito que homens mais jovens são os que se interessam pelo desempenho do A1, enquanto que as mulheres se apegam ao visual moderno.
O carro testado possui o pacote S line, que é a linha de acessórios esportivo tipo as rodas e acabamentos como frisos, emblemas e volante diferenciado. O público que procura este carro já deve ser os que gostam de uma tocada mais rápida, mais esportiva.
Esse pequeno foguetinho fica mais que a vontade nas estradas secundárias e grandes rodovias. A potência do motor é mais que suficiente para andar bem e fazer ultrapassagens quando necessário, com boa retomada de velocidade. Entretanto, o A1 brilha mesmo nas estradinhas cheias de curvas. O acerto do chassi é muito bom, bem equilibrado, e junto com os pneus Bridgestone Potenza grudam o carro no chão. Os gremlins eletrônicos ajudam a manter o carro no trilho, mas poucas vezes foram solicitados, tamanha é a compostura do chassi.
Com a direção rápida e precisa, com o peso ideal para uma tocada mais esportiva, ou seja, um pouco mais pesado mas bem comunicativo, é fácil encaixar o carro nas curvas sem muito trabalho de braço. Comparado com outros carros do mercado, o peso do volante pode incomodar alguns clientes, na hora de manobrar por exemplo. Como o carro é leve para os padrões de hoje (1.215 kg), a relação potência-peso é de 152 cv/t (ou peso-potência de 6,6 kg/cv) . O entreeixos de 2.469 mm (o mesmo do primeiro Passat!) é de certa forma curto, o que o deixa bem ágil. A cada curva feita um pouco mais forte, o A1 agarrava-se ao asfalto com vontade semelhante a de seus irmãos maiores com tração integral. O A1 é tração-dianteira, sem a opção quattro.
A suavidade do carro mesmo andando mais forte impressiona. Com o câmbio na posição S da alavanca, o sistema segura as marchas por mais tempo, levando a rotação do motor perto da faixa de corte, e quando necessário, passa as marchas com a mesma precisão, porém trocando um pouco da suavidade pela eficiência, sempre sem deixar de ter uma entrega de potência linear. É um modo automático focado mais para o desempenho.
Trocando as marchas manualmente pelas borboletas atrás do volante, o motorista tem mais liberdade para prever algumas situações como uma redução para melhor entrar em uma curva. O funcionamento é tão bom que dá vontade de trocar de marchas a toda hora. Não precisa aliviar o acelerador para passar as marchas para cima, o sistema compensa tudo sozinho para ter sempre a melhor troca.
A resposta do motor é muito rápida, o compromisso entre o turbo e o compressor é bem resolvido e sempre há torque disponível com a melhor marcha, para cada situação. Os freios são fortes, o pedal é bem sensível. Em uma curva mais arrojada, pode-se frear forte e reduzir manualmente, entrando na curva com o carro bem equilibrado e dar motor cedo, pois o carro escorrega pouco e traciona muito bem. Se provocado, algumas escorregadas podem ser feitas com bastante controle. O dia em que fizemos o vídeo desta avaliação foi a primeira vez que andei mais rápido com o carro, e logo de cara ele transmite segurança para o motorista, que gradativamente pode explorar mais o que o A1 tem a oferecer em termos de dinâmica.
Os bancos são muito bons, com bom apoio lateral que seguram bem o corpo nos momentos mais próximos dos limites legais permitidos de diversão. Mais ou menos isso, pois com o A1 é fácil passar desapercebido destes limites. Afinal, com este motor, câmbio e suspensão, auto-controle é um pré-requisito básico para dirigir este carro.
O ronco do motor, quando mais solicitado, empolga. É um som encorpado e pouco abafado pela superalimentação, curiosamente. O ronco vem mais do cofre do motor que do escapamento, e um baixo assovio de admissão pode ser ouvido, o que nos lembra do turbo e do compressor Roots escondidos debaixo do capô, estes que fazem com que o pequeno 1,4-litro assemelhe-se com um 2-litros em resposta no acelerador. Em números, 0-100 km/h em 7 segundos e velocidade máxima de 227 km/h.
Ao longo dos dias da nossa avaliação, o carro fez uma média de 10,5 km/l de consumo de combustível, contando com o dia de gravação do vídeo nos Romeiros, quando o consumo foi um pouco mais solicitados, digamos assim. Antes deste dia, estava rondando na faixa dos 13 km/l na cidade.
Com a cobertura do teto solar panorâmico Open Sky aberta, a sensação de espaço interno aumenta significativamente. O teto solar é amplo, começando perto do pára-brisas e terminando depois do motorista, então a sensação de abertura é ainda maior. Este teto solar é opcional, custa R$ 5.000,00, preço mais que justo pelo retorno que trás. Recomendo!
Tanto na estrada como na cidade, a qualidade do Audi é respeitável. Tudo nele é bem feito, desde a dinâmica do chassi até a simples sensação ao utilizar os comandos do painel, das chaves de seta, abertura e fechamento de portas. Os botões tem a resistência e o feeling (sensação ao toque e operação) de algo muito bem projetado, tudo muito agradável de se operar. Podemos resumir o A1 como um carro relativamente simples, porém de alta qualidade, no seu jeito perfeccionista de ser, mais racional que emocional.
Este A1 Ambition é uma opção mais acessível que substitui os modelos esportivos, como um S4, por exemplo. É um carro para o mundo real. Não é possível andar todo o dia por ai de RS4 Avant azul, por mais legal que seja, tampouco usar as centenas de cv a mais que possuem, por isso o A1 está na medida certa. É rápido, prático e custa uma fração do preço de um dos Audis maiores e é divertido o suficiente para andar pela cidade e pegar uma boa estrada.
MB