Dieta da McLaren pode ser ilegal
O resultado surpreendente obtido pela McLaren no GP da Hungria ainda não foi digerido integralmente pela comunidade da F-1 e poderá gerar (mais) uma crise na categoria caso se confirmem as suspeitas de que os carros de Fernando Alonso (5º colocado) e Jenson Button (9º) teriam disputado o evento com peso abaixo do mínimo da categoria. Oficialmente os carros dos dois pilotos foram pesados ao final da prova de Hungaroring e declarados legais, mas no passado da F-1 o comunicado não informa se estavam dentro ou fora do regulamento.
O passado da categoria, porém, deixa margem à dúvida. Ken Tyrrell, por exemplo, fez com que seus carros andassem abaixo do peso mínimo durante a primeira metade da temporada de 1984… Seus carros largavam abaixo do peso e, no terço final da prova paravam nos boxes para um reabastecimento de… bolinhas de chumbo!
Para entender a gravidade do que por enquanto circula a boxe fechado é preciso recordar alguns lances do passado e colocar a situação atual da F-1 em perspectiva: a quem interessa ver a McLaren na beira do abismo ou correr o risco da Honda deixar, novamente, a categoria? Trata-se de um jogo onde egos, interesses econômicos e, principalmente, a sobrevivência de uma galinha que já botou muitos ovos de ouro são os principais elementos em cena de uma ópera com fantasmas, palhaços e vilões, muitos vilões.
Comecemos pela organização McLaren, atualmente um complexo cujo controle administrativo absoluto é objeto de desejo de um dos seus principais acionistas: Ron Dennis. Severo, determinado (teimoso diriam alguns) e visionário, este inglês de 68 anos que começou a vida como mecânico na equipe Cooper pode ser considerado um autoentusiasta bem sucedido: tem sua própria coleção de F-1, lidera uma empresa cuja imagem é baseada na sobriedade e eficiência tecnológica de ponta e, óbvio, tem seus inimigos. Dois deles são ninguém menos que Bernie Ecclestone e Max Mosley. Este último foi vítima de uma cena bizarra: seu encontro com, digamos, damas de entretenimento alternativo, foi fotografado e publicado em várias mídias. Há quem jure de pés e mãos atadas que se tratou de uma vingança por conta de uma severa multa que a FIA, então presidida por Mosley, aplicou à equipe McLaren um ano antes, em 2007.
Desde que assumiu, em 1981, o controle da equipe fundada pelo neozelandês Bruce McLaren, Ron Dennis a levou por ciclos de sucesso em parcerias com a Porsche, Honda e Daimler, em meio a associações menos duradouras com a Ford e a Peugeot e um rápido namoro com a Lamborghini. Sua capacidade em atrair patrocinadores de peso e potência dignos da aceleração de um F-1 também pode ser interpretada como claro sinal de sucesso. O lado ruim de tudo isso é a recepção clandestina de um dossiê técnico da Ferrari, caso que gerou a tal punição de 2007: multa de US$ 100 milhões e exclusão do campeonato daquele ano.
A julgar pelos resultados que a equipe vem obtendo este ano é plausível ver um novo capítulo nesse tema: os resultados tem sido patéticos, se tanto, e o motor Honda atual não corresponde às expectativas. Além disso, a equipe não conta com um patrocinador principal há algum tempo e os resultados piorando pelo segundo ano consecutivo terão forte impacto na distribuição de bônus e ajuda de custo que a FOM (Formula One Management, empresa que detém os direitos comerciais da categoria) distribui entre as equipes. Em outras palavras, a McLaren vai ter seus dias de salário mínimo em breve. E é neste ponto que um acordo peculiar poderia ter surgido. Ainda que inimigo de Dennis, não interessa a Ecclestone que a McLaren se afunde de vez. Estivesse Maquiavel circulando pelo paddock ele poderia ter sugerido ao mandatário da categoria que uma pequena ajuda neste momento crucial poderia ser paga em moeda forte, com juros e correção monetária e fazer o rival se tornar mais flexível às suas propostas. Num momento que todos clamam melhorias, atitudes e uma fase digna de Fênix para a F-1 atual, a Bernie interessa contar com todo apoio possível para superar a crise de hoje em dia que já dura meses e nasceu há alguns anos.
E aqui surge o espaço para um favor especial em uma condição atípica. É pouco provável que até o final do ano a Manor deixe de ser a última colocada entre os construtores e supere a McLaren na contagem de pontos deste ano; é pouco provável até que a equipe marque pontos. Assim, o resultado da Hungria serve como bálsamo aos samurais da Honda com poder de decisão sobre manter ou anular o atual programa de F-1. Abandono que se por acaso acontecer, não será o primeiro. Em 1968, quando conquistou sua primeira pole position na categoria (com John Surtees, no GP da Itália), ela encerrou o programa marcado por um projeto fracassado de motor arrefecido a ar. Vale lembrar que Surtees rejeitou peremptoriamente correr com o chassi RA 302 e usava um motor V-12 ortodoxo montado em chassi feito pela Lola. Em 2008, após três temporadas de atuações dignas do rótulo “melhor esquecer”, a estrutura da sua equipe própria foi vendida a Ross Brown por um preço simbólico.
Se um abandono acontecer novamente seria um golpe quase fatal na Fórmula 1 que conhecemos e pela qual nos apaixonamos. E seria um golpe praticamente fatal caso seja imitado pela Renault, ainda por divulgar se continua ou não na categoria, Pressões para anular as restrições no desenvolvimento de motores — marca do regulamento atual — ganharam força esta semana com declarações públicas de Franz Tost (diretor da Toro Rosso) e do próprio Fernando Alonso.
Por enquanto, o acordo comentado neste artigo é uma especulação, especulação que a história alimenta com requintes.
Mais McLaren
Ainda no campo das possibilidades: anunciada por diversos sites e revistas européias como negócio fechado, a chegada do belga Stoffel Vandoorne como companheiro de equipe de Fernando Alonso em 2016 foi desmentida pela assessoria de imprensa da McLaren. Segundo o comunicado, nenhuma decisão a respeito foi tomada pela equipe até o momento.
Para reforçar anda mais o inferno astral de Jenson Button, a casa onde o piloto e sua esposa passavam férias na Riviera Francesa foi assaltada, com prejuízos consideráveis em jóias e valores. Após alegar que os ladrões teriam entrado na casa após injetar gás entorpecente pelo sistema de ar-condicionado da mansão onde estava hospedado com amigos, o piloto teve sua tese desmentida por médicos anestesistas ingleses e autoridades francesas, para quem a desculpa é um mito. Para a polícia é mais provável que o consumo excessivo de álcool na noite anterior poderia ter facilitado a entrada dos assaltantes.
Elétricos em alta tensão
Três mudanças importantes aconteceram na lista de inscritos para a segunda temporada mundial da F-E, a categoria de carros elétricos que termina hoje, em Donington Park, sua primeira rodada de treinos livres para a temporada 2015/2016. O resultado do treino inaugural da entressafra, ontem, não mostrou nenhuma novidade com relança ao mais velozes: Sebastién Buemi, Lucas Di Grassi e Nicolas Prost foram os mais rápidos em uma sessão parcialmente prejudicada pela chuva. Entre o que trocaram de CEP, Nick Heidfeld foi o melhor (sexto) enquanto Jacques Villeneuve, que deverá disputar sua primeira temporada completa em uma categoria após muitos anos, foi o mais lento do dia (1’38”176), cerca de seis segundos acima do melhor tempo de Buemi.
Entre as mudanças de pilotos está a contratação de Nick Heidfeld pela Mahindra, onde corre Bruno Senna, e Jean-Éric Vergne na Virgin Racing, mudanças que ajudam a consolidar a categoria como um novo mercado para pilotos profissionais. Entre os que deixaram a categoria está Jaime Alguersuari, que desmaiou durante a etapa de Moscou e teve sua habilitação suspensa pela FIA. O espanhol anunciou seu afastamento temporário das competições para realizar uma bateria de exames médicos afim de ser avaliada sua real condição física.
O resultado dos treinos de ontem: 1) Sebastién Buemi, Renault e.dams, 1’32”095s; 2) Lucas di Grassi, ABT Schaeffler Audi Sport, 1’32”158s; 3) Nicolas Prost, Renault e.dams, 1’32”286s 4) Sam Bird, DS Virgin Racing, 1’32”523s 5) Salvador Duran, Team Aguri, 1’32”549s 6) Bruno Senna, Mahindra Racing, 1’35”653s 7) Nick Heidfeld, Mahindra Racing, 1’35”700s 8) Jerome D’Ambrosio, Dragon Racing, 1’36”324s 9) Tom Dillmann, Team Aguri, 1’36”329s 10) Stephane Sarrazin, Venturi, 1’36”361s 11) Jean-Eric Vergne, DS Virgin Racing, 1’36”704s 12) Loic Duval, Dragon Racing, 1’37”987s 13) Nelson Piquet Jr, NextEV TCR, 1’38”052s 14) Jacques Villeneuve, Venturi, 1’38”176s 15) Jarno Trulli, Trulli, sem tempo 16) Simona de Silvestro, Andretti, sem tempo.
Varela e Gugelmin dominaram os Sertões
A dupla Reinaldo Varela/Gustavo Gugelmin venceu com autoridade e regularidade a edição 2015 do Rally dos Sertões. A dupla liderou a competição desde a primeira etapa e não teve maiores problemas com a picape Toyota que usa para disputar o Campeonato Mundial de Rally Off Road, modalidade onde conquistou o título da categoria T-2 em 2012.
Resultado final, geral, carros: 1) Reinaldo Varela/Gustavo Gugelmin, Toyota Hilux, 14h53’25”; 2) Marcos Baumgarten/Kleber Cincea, Ford Ranger, 15h7’47”6; 3) Cristian Baumgart/Beco Andreotti, Ford Ranger, 15h53’58”8.
WG