O assunto do dia (e dos últimos meses) é velocidade, os absurdos que estão sendo cometidos aqui e em alguns países, notadamente Estados Unidos e Inglaterra, em termos de reduzi-la especialmente nas cidades. Essas medidas vão de encontro ao progresso tecnológico, justamente quando automóveis e mesmo veículos pesados têm sua segurança ativa (a que dá ao motorista condições de manobras evasivas e de reduzir abruptamente a velocidade ou parar) vastamente melhorada. É um dos grandes contrassensos do nosso tempo.
Mas, em meio a isso, a pergunta: o veio antes, o velocímetro ou o limite de velocidade?
No dia 21 de junho de 1901 o estado americano de Connecticut promulgou a primeira lei do país estabelecendo limite de velocidade, 12 milhas por hora (19,3 km/h) na cidade e 15 milhas por hora (24,1 km/h) fora dela, segundo o site do History Channel. Mas houve imposição de limite velocidade antes para veículos de tração animal, como em 1562 na colônia de New Amsterdam (atualmente Nova York), por meio de um decreto determinando que charretes, carroções ou trenós não podiam trafegar em velocidade de galope, havendo multa de “2 libras Flemish”, cerca de 150 dólares hoje. Em 1899 o taxista de Nova York Jacob German foi preso por dirigir seu táxi elétrico a 24,1 km/h, velocidade provavelmente medida por meio de cronômetro.
O caminho para a lei de Connecticut começou por lei proposta pelo representante legislativo Robert Woodruff falando em 8/12 mph (12,8/19,3 km/h), cidade e campo. Os limites acabaram sendo maiores, os citados acima, mas determinava que os motoristas reduzissem a velocidade ao se aproximarem de veículos de tração animal ou até parassem para não assustar os animais. O resto da história não é preciso contar.
Na Inglaterra, já falamos bastante no Ae, a coisa começou com a Lei da Bandeira Vermelha, um homem agitando uma bandeira vermelha caminhando à frente de todo veículo motorizado.
E o velocímetro? Os romanos contavam as voltas das rodas, que tinha marcas para facilitar a contagem, que multiplicado pelo seu perímetro dava a distância percorrida num determinado tempo. No século 11, os chineses criaram mecanismo consistido de um trem de engrenagens e um braço móvel que impactava num tambor em espaços determinados. No mar, uma invenção nos anos 1500 foi uma corda com nós que era solta e arrastada e contavam-se os nós num determinado tempo. O incrível é que até hoje utiliza o nó como unidade de velocidade no mar e no ar, em que 1 nó é 1 milha náutica (1,852 km) por hora. Vimos na recente matéria do Juvenal Jorge a velocidade do HondaJet expressa em KTAS, abreviação de knots true air speed — nós velocidade verdadeira.
Para entender, em vôo a velocidade indicada nunca é a verdadeira, pois depende de altitude e temperatura do ar. Os pilotos usam práticos calculadores de mão aeronáuticos para saber qual a velocidade verdadeira — importante saber, mas o que importa mais num vôo de cruzeiro é a velocidade en relação ao solo (ground speed), que é a que determina a duração do vôo dividindo distância pela velocidade verdadeira. A velocidade em relação ao solo depende da direção e da intensidade do vento. Claro, hoje todos esses cálculos são feitos pelo computador de bordo do avião.
Mas invenção do primeiro velocímetro é creditada a A. P. Warner, fundador da Warner Electric Company, dos EUA. Na virada do século 19 para o 20, ele inventou um mecanismo chamado medidor de corte (cut-meter) para uso na indústria de maneira a medir a velocidade de corte das chapas. Ao deduzir que o medidor de corte poderia ser adaptado para o automóvel, ele modificou o dispositivo e lançou uma grande campanha promocional para que o público conhecesse o seu velocímetro. Surgiram na época vários conceitos para o instrumento, mas foi o de Warner que teve grande sucesso. O primeiro automóvel a ter velocímetro foi o Oldsmobile Curved Dash 1901. Por volta do fim da Primeira Guerra Mundial (1918) a Warner Instrument Company produzia nove de cada dez velocímetros utilizados nos automóveis.
Portanto, em resposta à pergunta-título desta matéria, o velocímetro veio antes. Por pouco, mais veio. Pode-se até dizer que vieram juntos.
Mas na esteira desta invenção e na imposição de limites de velocidade veio o lucrativo negócio das multas, hoje muito rentável graças ao auxílio de equipamentos de detecção de velocidade, com registro fotográfico. Mas vou falar mais a respeito disso — velocidade e multas — numa próxima matéria.
BS
Fotos da abertura: 163bus.ru, rodosol.com.br