O 4° Passeio Anual do Sedan Clube do Brasil foi realizado no domingo 20/11/88 e foi dedicado aos 35 anos da Volkswagen no Brasil, completado no dia 23 de março daquele ano. Com este passeio foi dado prosseguimento à tradição iniciada em 1985 com o 1° Passeio que marcou a fundação do Clube; naquela oportunidade fomos ao Pico do Jaraguá. Em seguida foram realizados o segundo e terceiro Passeios, à Aldeia da Serra e ao Pouso de Paranapiacaba, respectivamente. Quem sabe algum deles volte no contexto desta série “De volta para o passado”…
O dia amanheceu nublado, caia uma garoa fina, as perspectivas de comparecimento de carros eram muito ruins. No terceiro Passeio participaram 78 Fusquinhas e uma Kombi. Quantos participariam no 4º Passeio?
O esquema estava armado e o passeio era irreversível. Porém, tomando por base que, no passado, um Fusca adaptado “navegou” no lago do Parque do Ibirapuera, outro atravessou o Adriático, um terceiro foi da Ilha de Man à Inglaterra pelo Mar da Irlanda, não seria uma chuva que impediria os valentes Fuscas do Sedan Clube do Brasil de participarem de um Passeio.
Os carros foram chegando. Após serem registrados e receberem um diploma de participação e um brinde de boas-vindas, eram conduzidos para o estacionamento da Bienal, localizado em frente ao prédio do Detran. Lá foram formadas colunas divididas por cores.
Este passeio foi realizado com a participação da Volkswagen do Brasil. O plano inicial previa uma participação ainda maior, mas problemas de cronograma transferiram a colaboração mais intensa da fábrica para o I Encontro Nacional dos Fuscas, que seria realizado pouco depois, em janeiro de 1989. A VW patrocinou os cartazes das portas, os diplomas de participação e ofertou brindes variados.
Órgãos da imprensa escrita, falada e televisada chegaram para dar cobertura ao evento. Para o clube a cobertura de imprensa era um ponto muito positivo para a captação de novos associados. E a chuva continuava… A boa vontade da equipe do programa de tevê “Feira-Livre do Automóvel”, que não se intimidou com a chuva, foi marcante.
Todos os carros receberam o seguinte material para a decoração e caracterização como participantes do Passeio:
a) Dois cartazes para as portas (com o logotipo do Sedan Clube e a frase “IV Passeio dos Fuscas), item de segurança para sinalizar que eram carros andando em comboio;
b) Uma faixa de pára-brisa autoadesiva ofertada pela Rádio Cidade e pela Gran-Via (concepção do colega Bob Floriano);
c) Bandeirolas com o logotipo VW que foram afixadas nas antenas dos carros.
Policiais do DSV já estavam a postos, com um Fusca, de placas GC 4133, que também foi devidamente caracterizado como carro participante do Passeio. Além do Fusca, foram destacadas duas motos que liberaram o trânsito do comboio durante o Passeio.
Já estava chegando a hora da partida e o registro apontava 109 Fuscas e uma Kombi, um recorde de comparecimento! Quando a equipe de registro chegou ao ponto de concentração verificou-se que vários carros tinham ido direto para o estacionamento do DSV. Portanto não tinham sido registrados. Na verdade, após a atualização dos dados, participaram mais de 120 carros; e, repetindo, isto com chuva! O resultado da contagem dos carros registrou o seguinte (AAxNN onde AA é o ano de fabricação e NN a quantidade de carros daquele ano-modelo):
51×1 (convertido para Bajanete), Fuscas 52×1, 53×3, 55×2, 57×3, 59×1, 61×5, 62×2, 63×6, 64×3, 65×4, 66×5, 67×2, 68×4, 69×4, 70×9, 71×6, 72×6, 73×5, 74×3, 75×2, 76×4, 77×2, 78×4, 79×2, 80×2, 81×2, 82×1, 83×3, 84×1, 85×3, 86×6, Kombi 62×1, Zé do Caixão 69×1.
Entre a grande quantidade de Fuscas, alguns de destacaram, por um ou outro motivo. Dentre eles citamos:
– Um Fusca ano 78, cor amarela, conduzido por D. Dóris que estava acompanhada por dois cães Basset e por um Pastor Alemão. Aliás, outros seis Fuscas foram igualmente conduzidos por mulheres, o que demonstra que elas também estavam começando a participar ativamente dos eventos do Sedan Clube do Brasil.
– Um Fusca saia-e-blusa, cinza e preto, cabriolé, ano 1953, que veio rodando de Curitiba especialmente para participar do Passeio conduzido por Paulo Brás, fundador do Sedan Clube do Paraná.
– Um Fusca vermelho, ano 1980, encurtado em quase 90 cm, um verdadeiro Funny-Car conduzido pelo Júlio Árguila Heringer.
– Dois Fuscas convertidos para “Bajanetes” que fizeram parte da equipe de batedores, juntamente com um Santana adaptado para servir como Pace Car, veículos pertencentes ao colega Carlos Menon (infelizmente já falecido).
Um pouco antes das 9h00 da manhã as sirenes foram acionadas. Mais de uma centena de motores começou a roncar numa sinfonia de roncos sibilantes característicos dos motores boxer arrefecidos a ar.
Os Fuscas, já separados por cores, num imenso arco-íris sobre rodas entraram na Av. Pedro Álvares Cabral e deram início a um alegre cortejo, acompanhado pelo toque de suas buzinas.
O roteiro seguido foi rua Sena Madureira, av. Domingos de Morais, rua Lins de Vasconcelos, rua da Independência, av. D. Pedro I, praça do Monumento, rua Tabor, rua Silva Bueno, rua Brigadeiro Jordão, chegando à rua do Manifesto.
Em todo o caminho o público saudava a interminável coluna de Fuscas. O cortejo era tão grande que ocupou todo o comprimento da rua Lins de Vasconcelos. De ponta a ponta, só Fuscas!
Na rua do Manifesto foi feita uma parada para homenagear os 35 anos da Volkswagen no Brasil, pois em 23 de março de 1953 a Volkswagen se estabeleceu num galpão alugado, no nº 1.183 desta rua. O imóvel ainda mantinha todas suas características originais e, na época, era ocupado pela Toledo do Brasil. Cinco Fuscas e a Kombi foram dispostos de modo a refazer uma antiga foto da época da instalação da fábrica. A única coisa que não conseguimos, apesar de termos batalhado muito para conseguir isto, foi refazer a placa “VW VOLKSWAGEN DO BRASIL VW”.
.
Enquanto isto, os demais participantes do passeio confraternizavam-se e recordavam o início da montagem de Fuscas pela VW do Brasil (convém observar que a Brasmotor já havia iniciado a montagem de Fuscas no Brasil em 1951 tendo, até 1953, montado cerca de 1.300 unidades e comercializado outros 1.600 que vieram montados da Alemanha. Mas a Brasmotor acabou perdendo sua concessão quando a própria Volkswagen se estabeleceu no Brasil).
Às 10h30 o comboio se pôs novamente em marcha, agora com destino à fábrica da VW do Brasil em São Bernardo do Campo. O roteiro, então, foi rua dos Patriotas, av. Nazaré, rua Gentil de Moura, rua Baraúna, praça do Sacomã e, finalmente, via Anchieta.
.
No primeiro posto da Polícia Militar Rodoviária, uma viatura da força rendeu as motocicletas e o Fusca do DSV e o comboio seguiu adiante, agora sob supervisão da Polícia Rodoviária que o acompanhou até a entrada da Fábrica Anchieta. O trabalho tanto do DSV quanto da Polícia Militar Rodoviária foram importantes para a segurança e o sucesso do evento e foram motivo de agradecimento do Sedan Clube do Brasil.
Ao chegar à portaria da Via Anchieta da Fábrica de São Bernardo do Campo, os Fusca foram admitidos para uma “visita motorizada à Fabrica” um sonho para qualquer fuscamaníaco de raiz, dirigir seu Fusca pelas ruas internas da Fábrica Anchieta! O comportamento dos Fuscas durante esta visita foi elogiado pela Segurança da Fábrica. Com esta “visita motorizada”, boa parte dos Fuscas do Passeio voltou à sua origem, ao local aonde eles “nasceram”. Veja algumas fotos desta visita:
Para a maioria dos participantes este foi o primeiro contato mais “íntimo” com a Fábrica. Todos admiraram as proporções das instalações que atingem as dimensões de uma pequena cidade.
Os carros saíram pela portaria 4, que dá acesso a av. Maria Servidei Demarchi. Já era 11h30 e o ronco dos estômagos começou a abafar o ruído dos motores. Os carros chegaram ao Restaurante Florestal e foi iniciado o almoço. Um dos critérios para a escolha do restaurante foi o seu estacionamento, e o Florestal tinha um estacionamento de dimensões adequadas.
.
.
A maioria dos participantes do passeio ficou para o almoço, que foi mais uma excelente oportunidade para socializar com os demais colegas de clube, e a comida estava muito boa.
.
Durante a refeição, que transcorreu num clima de harmonia e alegria, foram sorteados inúmeros brindes aos participantes, oferta de várias empresas, entre elas Volkswagen do Brasil, Glasurit, Osram do Brasil, Pneus Maggion e jornal Primeira Mão.
Após o almoço o comboio se dispersou e os Fuscas voltaram para suas casas. Não se registraram incidentes durante a realização do passeio e os participantes se despediram contentes pelo êxito do evento que foi mais uma realização vitoriosa do Sedan Clube do Brasil.
Tanto os organizadores do evento quanto todos os participantes consignaram de público seus agradecimentos às entidades públicas e particulares e aos órgãos de imprensa que apoiaram a realização deste Passeio do Sedan Clube do Brasil.
Com este almoço terminava mais um grande evento do clube, que apesar do mau tempo marcou um novo recorde de participantes.
Durante o meu tempo como presidente do Sedan Clube do Brasil, depois Fusca Clube do Brasil, passei por várias fases de relacionamento com a Volkswagen brasileira e alguns de seus funcionários ofereceram apoio e condições de alto nível no relacionamento com o clube. O amigo Luiz Cesar Basso Barbosa se destacou pelo impulso que foi dado ao relacionamento conosco e disto resultaram parcerias memoráveis e sem paralelo até os dias de hoje – como dois encontros em Interlagos registrados no Livro Guinness dos Recordes. Sendo assim, pedi ao Luiz Cesar que comentasse como ele viu aquela época, e ele, gentilmente como é de seu feitio, enviou o seguinte testemunho, que agradeço imensamente:
Tempos incríveis, ideias um tanto ousadas ou loucas e sonhos como os sonhos devem ser, livres, leves, soltos.
Cabeças incríveis e corações mais ainda.
Somente desta fórmula poderia sair um evento como aquele. E não falo por mim – uma simples peça na engrenagem e que entrou no circuito quando o projeto já estava andando… Falo de “gladiadores” abnegados que por paixão a um carro –o Fusca – se jogaram contra muitas adversidades para derrotar diversos “nãos” e abrir espaço para a comemoração e veneração do pequeno Beetle.
E naquela época (lá se vão décadas) não havia armas como, por exemplo, a internet, onde um sussurro vira grito em questão de segundos. Naqueles tempos quem quisesse eficiência era obrigado a gritar para ser ouvido. E mesmo assim por poucas pessoas.
Mas a compensação estava no fato de ser uma era de emoção; de coração pulsante; de mergulhar profundo nas idéias que se acreditava e, qual Don Quixote, fazer realidade dos sonhos que sonhavam.
Foi assim que eu, então trabalhando na VW, participei um pouco desta história.
Convencido (felizmente!) a participar do sonho de pacíficos-loucos comandados pelo comandante-mor Alexander Gromow, o presidente do Sedan Clube, incansável, já vinha buscando desde sempre fazer as homenagens públicas ao Fusca e, mais do que isso, estabelecer marcos com estas homenagens.
Este foi um dos momentos de profunda alegria e realização, por estar na montadora, em que também pude unir um pouco da minha devoção ao Fusca e da alegria de estar junto com pessoas que partilhavam do mesmo ideal.
Entre um hambúrguer e outro, analisamos, discutimos (pouco) e ajustamos o projeto do Dia Nacional do Fusca.
Em outras oportunidades, as comemorações também foram memoráveis. Como foi o 4º Passeio do Sedan Clube: passar por pontos turísticos de São Paulo; realizar fotos em marcos históricos da VW (rua do Manifesto, onde tudo começou); passar pela fábrica; dar uma paradinha nos restaurantes da famosa “rota do frango” dos Demarchi ou ver aquela centena de Fusquinhas serpenteando pelas ruas e avenidas da cidade, foi algo inenarrável.
Tudo isso teve um preço, cujo pagamento foi realizado com a devoção dos “Gromows” que se multiplicaram, seguindo sempre o sonho do mestre. E, em contrapartida, todo o suor, cansaço e dedicação não tiveram preço a pagar. Porque tudo foi feito com a mais humilde simplicidade, porém com muito profissionalismo da organização do Sedan Clube. E com o sentimento de vitória, a cada instante vivido.
Valeu muito estar presente e ter convivido naquele evento com o Alexander e com todos aqueles que o ajudaram a realizar o Passeio. É um pedacinho da história deste carro, que ficou marcada. No asfalto, na memória e no coração.
Luiz Cesar Basso Barbosa
AGr
A coluna “Falando de Fusca” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.