Fazer o balanço de um ano tão difícil para a indústria automobilística, como o de 2015, é tarefa nada agradável. Afinal, em dezembro de 2014 se imaginava pequena queda de vendas este ano porque o Produto Interno Bruto (PIB) iria cair 1%. As últimas previsões apontam para recuo do PIB no mínimo de 3,5% e isso explica parte do mergulho, sem ser a única nem a principal razão.
EUA e países europeus passaram por crises nos seus mercados internos que em alguns casos chegaram a 50% de encolhimento nos últimos sete anos. No entanto estão em plena recuperação, em especial os EUA. Japão teve queda menor e a China, sempre exceção, apenas diminuiu o ritmo de crescimento em 2015, embora mantenha com folga a posição de maior do mundo com mais de 23 milhões de veículos comercializados.
Quando esta coluna começou, em 1999, registrou grande decepção no emplacamento de veículos (somados automóveis e comerciais leves e pesados). O Brasil quase havia rompido a barreira de 2 milhões de unidades, exatas 1.943.458, e veio um tombo inesperado de 35% ao fim de dois anos para 1.078.215. A partir daí o mercado voltou a crescer e chegou perto de 4 milhões de unidades: 3.802.071. Falava-se até em vendas de 4,5 milhões, em 2017.
De lá para cá, só frustrações. Foram três quedas sucessivas: 1% em 2013, 7% em 2014 e no mínimo 27% em 2015, de acordo com projeções. Em três anos, acumulou-se perda acima de 37%. Mesmo previsões mais pessimistas do início deste ano estimavam menos 15%. Houve uma conjugação de fatores: antecipação de compras em 2012, aumento de impostos, encolhimento do crédito, menor poder aquisitivo, aumento do desemprego e, acima de tudo, a mistura explosiva de crise política e econômica que minou a confiança dos compradores.
O Brasil perdeu a quarta colocação (2,5 milhões de unidades em 2015 ou 1 milhão a menos) no ranking mundial de mercados e vai terminar em sexto ou sétimo este ano. Uma marcha à ré surpreendente em um País com apenas cinco habitantes/veículo. A Honda concluiu a fábrica nova de Itirapina (SP) e decidiu por enquanto não produzir, enquanto a Chery trabalhou com 5% de sua capacidade total na nova unidade de Jacareí (SP).
Nem tudo foi ruim em 2015. Novidades importantes de produção regional como HR-V, Renegade, 2008 e Duster Oroch (ordem cronológica) e boas reestilizações no Versa, Focus, HB20 e Cobalt, além do up! TSI. FCA inaugurou a fábrica de Goiana (PE). Audi voltou a produzir (A3 sedã) e a BMW completou os cinco modelos previstos. Apenas carros da faixa superior de preço cresceram em torno de 20%. Preços de tabela ficaram em média alinhados à inflação, mas quem pôde comprar recebeu descontos e bônus. As exportações subiram 12%.
Fabricantes que se concentram em automóveis mais acessíveis viram sua fatia de mercado encolher. Fiat, GM, VW e Ford (só esta conseguiu ligeiro aumento) ficaram até novembro com 56,5%, somando-se importados e produzidos no Mercosul de cada marca. Há 15 anos os chamados Quatro Grandes abocanhavam mais de 80% do mercado.
Perda de 10% no número de empregos diretos sobre 2014 foi menor que a queda de produção (cerca de 23%), mas a ociosidade média deve ter superado 30%.
RODA VIVA
ALGUNS fatos positivos também marcaram 2015: fim da obrigatoriedade dos extintores de incêndio (apesar da tentativa de retorno por meio de lobby no Congresso Nacional) e isenção do imposto de importação (II) para carros elétricos. Os híbridos recarregáveis ou não em tomada foram incentivados com II entre 0 e 7%, dependendo de consumo e montagem no País.
OUTRA boa notícia, agora no final de ano: previsão do controle eletrônico de estabilidade até 2020 para projetos novos ou com grandes mudanças. O prazo não precisava se estender até 2022 para modelos que estão à venda no momento. Possivelmente, o governo pensou nos anos difíceis ainda por vir. Retomada discreta das vendas pode se dar apenas em 2017.
HB20X Premium automático de seis marchas é prejudicado pelo preço alto (mais de R$ 65.000 com tela multimídia e bancos de couro marrom), mas atende proposta do conceito “aventureiro”. Direção eletroassistida, finalmente, chegou e deveria equipar todos os HB20. Vão livre aumentado em 4,1 cm absorve bem os buracos e, claro, não permite exageros em curvas.
ESTUDO da Delphi mostra crescente aceitação do sistema de ar-condicionado no mercado brasileiro, incluídos os carros importados. Em 2008, 67% dos modelos novos vendidos recebiam esse equipamento, mesmo se oferecidos opcionalmente. Para 2015 a estimativa é de o percentual subir para 84%. Há impacto no consumo de combustível, mas vale a pena.
GOVERNO de São Paulo reduziu de 90 para 60 dias o prazo para leilão de veículos apreendidos e não reclamados pelos donos. Se multas, impostos e taxas não pagos e preço das diárias no pátio ultrapassarem o valor do carro, leilão pode ser antecipado. Quem sabe parte das “sucatas” ambulantes saia de circulação, mesmo as isentas de IPVA (mais de 20 anos).
FC
fernando@calmon.jor.br
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