Fim de ano é a época dos melhores, maiores, dos eleitos nisso e naquilo. Mas o nosso “anti-prêmio” é o troféu para a maior mentira do ano: a grande vencedora de 2015 foi a fábrica de amortecedores Monroe.
Se o motorista norte-americano recorre ao site dos Amortecedores Monroe para se orientar sobre sua manutenção, é informado pela Tenneco (empresa que detém a marca Monroe) de que deverá verificá-los a cada 50 mil milhas (80 mil km).
Já o motorista brasileiro, quando recorria exatamente ao mesmo site, com mesma disposição, formato, fotos e ilustrações, se deparava com a recomendação de “substituir” os amortecedores a cada 40 mil km…
Erro de “tradução”? Qualidade pior do produto nacional? Ou das nossas estradas? Ou pura “empurroterapia” para cima do consumidor brasileiro?
Seja lá como for, a Monroe mudou rapidamente sua recomendação depois que publicamos matéria em junho deste ano, apontando a diferença entre seus sites nos EUA e no Brasil. E passou a informar corretamente que os amortecedores devem ser verificados a cada 10 mil km, prazo até inferior ao dos EUA mas que se justifica pela baixa qualidade das nossas estradas. E desapareceu qualquer prazo indicado para sua substituição.
A rigor, amortecedor não tem prazo para troca: rodando em estradas de terra e esburacadas ele pode não resistir 10 mil km. Ou menos: se passar por uma dessas crateras asfálticas, ele se danifica na hora. Por outro lado, o automóvel que roda em “tapetes de asfalto” pode até ultrapassar os 100 mil km sem necessidade de trocar o amortecedor. Tanto que, nos EUA, a própria Monroe sugere verificá-los apenas aos 80 mil km.
Menção Honrosa…
Quem leva este ano é a Volkswagen, que teve respingado no Brasil o problema da mentira dos onze milhões de motores diesel em diversos países, o grande escândalo de simular emissões dentro do padrão quando, na verdade, emitia óxidos de nitrogênio até 40 vezes mais , refletiu aqui em cerca de 17 mil picapes Amarok com esta motorização.
O “cachorrinho” da Cofap…
Quem inventou esta história de prazo para trocar amortecedores foi a Cofap, há mais de 30 anos. Ela divulgou um filme publicitário muito divertido, com um cachorrinho “bassê” fugindo de um cão grandão pelos corredores de um prédio conseguindo se safar, enquanto o perseguidor não fazia as curvas, para mostrar os perigos da falta de estabilidade de um automóvel. E fazendo alusão à importância do amortecedor para garantir curvas seguras, com a recomendação de que este componente deveria ser necessariamente substituído aos 40 mil km. Uma propaganda enganosa mas que, segundo sua agência, funcionou e estimulou as vendas do produto. A Cofap, que pertencia a Abraão Kazinski, foi vendida para a italiana Magneti Marelli. Outras fábricas gostaram da ideia e a Nakata também decidiu partir para a mesma “empurroterapia”. Mais tarde, a Monroe também resolveu iludir o mercado. Mas só a filial brasileira, pois nos EUA as empresas que fazem propaganda enganosa são punidas e tratadas há muito tempo com todo o rigor da lei. Uma idéia que só agora vem ganhando terreno no Brasil.
P.S. A respeito da campanha publicitária da Cofap, um dos resultados mais visíveis foi uma venda sem precedentes de cachorrinhos “bassê”…
BF