Um dos nomes mais respeitados do automobilismo mundial é o inglês Frank Williams, o homem por trás da bem-sucedida equipe Williams de F-1, que possui uma longa história, com seus altos e baixos. Nascido em 1942 na Inglaterra com o nome de Francis Owen Garbett Williams, desde jovem estava envolvido com automóveis e competições.
Outro personagem muito conhecido no mundo automobilístico é o argentino Alejandro de Tomaso, nascido em Buenos Aires no ano de 1928 e que se tornou um bem-sucedido construtor de carros esporte na Itália com a empresa que leva seu nome. A De Tomaso criou ícones como o Pantera e o Mangusta.
Alejandro sempre foi um apaixonado pela mecânica e por corridas. Nos anos 1950 participou de algumas provas de F-1 e GP, correndo com Maserati, OSCA, Ferrari e também com o Cooper, sem grandes resultados, mas de grande importância para afinar seu gosto pelo esporte e pela mecânica. Em 1959 fundou sua empresa, a De Tomaso Modena Automobili SpA na cidade italiana de Modena, com o intuito de fabricar carros de corrida e prestar serviços de engenharia.
Voltando ao Reino Unido, o jovem Frank Williams que também era um entusiasta das competições, teve um começo de carreira de piloto e mecânico, mas também com pouco sucesso, e direcionou seus esforços em criar uma equipe e administrá-la. Em 1966 o sonho foi concretizado, e nasceu a Frank Williams Racing Cars, primeiramente na Fórmula 2 e depois chegando à Fórmula 1, ainda com carros comprados e não de fabricação própria.
Williams tinha como piloto um de seus amigos pessoais, o inglês Piers Courage, que já teve bons resultados na F-1 em 1968 pilotando um BRM, e neste mesmo ano, Frank Williams deu-lhe um carro competitivo para disputar a F-2. No primeiro ano da Frank Williams Racing Cars na F-1, o carro utilizado foi um Brabham BT26, comprado diretamente de Jack Brabham em circunstâncias que acabaram não muito amistosas entre os dois, mas que mesmo com problemas de durabilidade deu a Courage dois ótimos segundos lugares (Mônaco e Estados Unidos).
Os caminhos de Williams e de Alejandro de Tomaso logo se cruzariam nas pistas de corrida. A De Tomaso estava fabricando carros de corrida para diversas categorias, como Fórmula Júnior e F-2 e já tivera uma breve passagem pela F-1 em 1961, com um chassi próprio e motores que variavam de Alfa Romeo a OSCA. Na verdade, este F-1 era o F-2 que nunca correu na sua categoria original, e a mudança de regulamento da F-1, limitando os motores a 1,5 litro, permitiu que seu F-2 fosse “aproveitável” na categoria superior. Infelizmente o carro era fraco e não conseguiu sair das últimas posições nas poucas corridas em que conseguiu se classificar.
O sonho de ter um carro na principal categoria do automobilismo de fórmulas não terminou por aí. Anos depois do De Tomaso-Alfa Romeo F-1, a Frank Williams Racing Cars viria a ser sua porta de entrada para a Fórmula 1. Paralelamente aos carros de corrida, Alejandro trabalhava em seus carros esporte de rua que iam muito bem, mas esta é outra história.
Sempre atento ao mundo do automobilismo, de Tomaso teve contato com Frank Williams, que estava bem empolgado com o desempenho de sua equipe e de seu amigo Piers Courage ao volante. O Brabham usado em 1969 poderia ser substituído por um modelo mais novo e moderno, e o argentino seria a fonte certa para o desafio.
Com sua empresa já estabelecida, de Tomaso entregou a responsabilidade do projeto do novo F-1 para o italiano Gian Paolo Dallara, engenheiro que já havia projetado carros de respeito como o Lamborghini Miura. Dallara, mesmo jovem, também já havia trabalhado com de Tomaso na construção do F-2 de 1969 com o qual Piers Courage correu. O projeto do novo F-1 para Williams poderia ser uma boa surpresa, uma vez que as novas regras do campeonato em 1961 (durariam até 1965) deixaram diversos carros obsoletos, e o novo De Tomaso seria novo em folha.
O projeto não teve grandes inovações. Um chassi de alumínio, convencional para a época, e suspensão independente na dianteira e traseira, também sem novidades, não se destacaram. A escolha do motor foi o Cosworth DFV V-8, o revolucionário motor inglês de 3 litros que mudou a cara da F-1 na sua época a partir do regulamento adotado a partir de 1966 estabelecendo motor 1,5 litro superalimentado ou 3 litros de aspiração natural. O fato da De Tomaso ter contatos com a Ford nos EUA pode ter sido um facilitador para conseguirem o motor, de certa forma uma ajuda importante.
O novo carro foi chamado de modelo 505/38. Na sua primeira corrida já ficou evidente que mesmo sendo um novo projeto, o carro era lento. Mal conseguiu se classificar entre os últimos colocados e na corrida teve problemas e não terminou. Courage reclamava de problemas de durabilidade e também do carro ser pesado demais.
Depois de duas corridas o 505 foi reformulado. O chassi recebeu diversos componentes em magnésio para reduzir o peso e ser mais rápido. De fato, a redução de peso foi efetiva e o Williams-De Tomaso melhorou muito. Nas corridas seguintes, Mônaco e Spa, o 505 mostrou-se mais rápido, porém os problemas de durabilidade persistiam e nenhuma corrida foi concluída com o carro inteiro, fosse por falhas ou por acidentes, muitos causados por falhas.
A equipe Williams trabalhava no carro junto com Dallara, aprimorando os pontos que Courage apontava conforme o carro era mais usado. Os bons tempos da corrida de Spa mostravam a melhoria do carro em termos de velocidade, faltava melhorar a confiabilidade e terminar uma corrida.
Na corrida de Zandvoort, na Holanda, a classificação foi bem sucedida e Courage conseguiu a nona posição. Durante a corrida, uma falha mecânica em uma das curvas de alta velocidade fez com que o 505 fosse reto em direção ao barranco, batendo com força e capotando. Uma das rodas parece ter atingido a cabeça de Courage, arrancando seu capacete. O motor Cosworth foi arrancado do chassi e o tanque de combustível se rompeu, incendiando o carro todo. O magnésio utilizado nos alívios de peso do chassi colaboraram com o incêndio. Courage morreu na hora, ou pelo fogo ou pela roda que atingiu sua cabeça.
Foi um choque para todos. Frank Williams viu seu amigo partir em um carro de sua equipe. Eles eram muito próximos, e este acidente alterou muito a forma de como Frank viria a interagir com seus futuros pilotos, mais distante e reservado. A dor de perder o amigo fez com que ele não permitisse mais tanta proximidade, provavelmente com receio de acontecer algo novamente.
Alejandro de Tomaso levou a fama de criar um carro ruim e perigoso. O 505/38 foi o último carro de corrida da categoria que a empresa fabricaria. A ordem de Alejandro era concentrar os esforços nos carros de rua, nicho que seguia bem com o Pantera. Nos anos seguintes, a empresa cresceu bastante, chegando ao ponto de adquirir outras marcas como a Maserati que estava à beira da falência, os estúdios de design Ghia e Vignale, e ainda os fabricantes de moto Moto Guzzi e Benelli.
Dallara talvez foi o menos afetado nesta história, pouco tempo depois já estava com sua empresa (Dallara Automobili) montada em Parma, e começou a prestar serviços de engenharia e posteriormente de construção de chassis e componentes para carros de corrida.
Depois do acidente de Courage, a Williams ainda tinha outro chassi e continuou no campeonato com os pilotos Brian Redman, inglês, e Tim Schenken, australiano. Nenhum deles conseguiu terminar uma corrida. O ano de 1970 foi desastroso para a equipe Williams. Os carros não concluíram nenhuma das onze corridas de que participaram.
Frank Williams voltou no ano seguinte com sua equipe, agora com carro da March e os pilotos franceses Henri Pescarolo e Max Jean. Max andou em uma corrida mas sem sucesso, e Pescarolo conseguiu terminar algumas corridas, com um quarto e um sexto lugares como suas melhores marcas no ano.
A empreitada do argentino de Tomaso no mundo da F-1 acabou em 1970, e os caminhos separados foram benéficos para todos. A Fórmula 1 não era para ser o mundo de Alejandro, que como bom empresário aceitou a situação e seguiu com seus negócios. Foi um carro marcante, que juntamente com Oreste Berta, foram uns dos poucos fabricantes argentinos a chegar à F-1. Alejandro de Tomaso faleceu em 2003 aos 75 anos.
Hoje o chassi restante do 505/38 está restaurado e faz algumas aparições em eventos de carros clássicos de corrida. Esta parte da história está preservada, por mais infeliz que tenha sido.
MB