Nesta semana vamos voltar aos causos do Livro II num “pacote feminino”. Iniciamos com o causo de suspense e ação da Cláudia Floriano, ela também enviou um comentário atual. Já no READER’S CORNER a Ângela Barony Lage fala dos Fuscas de seu avô e de seu pai.
APERTE O CINTO QUE A MOTORISTA CAIU!
por Cláudia Floriano
Minha família sempre foi de classe média, não sei dizer se média-baixa, média-média ou média-alta, pois os critérios me parecem um tanto confusos.
De qualquer forma sabíamos, eu e meus irmãos, que ao completar 18 anos não ganharíamos um carro, apenas o direito de dirigir aquele que pertencia a minha mãe, um Fuscão 1500. Assim, quando completei 18 anos e tirei a habilitação passei a disputar com meus irmãos a divisão do carro da minha mãe e, obviamente por ser a caçula e mulher, sempre ficava sem o carro.
Passei três anos da minha faculdade tendo como meio de transporte o ônibus. Antes de completar 22 anos, minha tia faleceu, e então meu pai comprou de minha avó o carro dela e me presenteou: um Volkswagen Sedan 1972, um Fusquinha 1300 impecável, branco, que minha tia tirou zero km na concessionária. Isto era 1984.
O que começou como uma contingência, ganhar um Fusca como primeiro carro, se tornou uma grande paixão. Lavei e poli o carro, limpei internamente, retirei alguns adereços não condizentes com ele e comecei a buscar detalhes originais do carro.
Em 1992 recebi uma oferta de trabalho em Curitiba, para onde me mudei de mala e cuia, além de meu carro, ainda o Fusca 1972. Como não queria danificar o carro na viagem, para enviá-lo de São Paulo a Curitiba contratei os serviços de uma empresa de transporte, especializada em carros zero-km, com suas famosas cegonhas. Recebi o carro em Curitiba e iniciei uma nova fase com meu Fusca, numa cidade diferente.
Na Copa de 1994, num dia de jogo do Brasil que não lembro qual, pois não gosto de futebol, aproveitei que todos os funcionários da empresa em que trabalhava foram dispensados mais cedo, às 14h00, e permaneci na empresa adiantando algum trabalho. Devo ter saído às 16h00, aproximadamente, em direção à minha casa, não muito longe da fábrica. No caminho a porta do motorista apresentou duas vezes um pequeno defeito: pulava de estágio quando passava em algum buraco, mas não dei importância.
Quando estava fazendo uma conversão à direita a porta apresentou o mesmo defeito, só que desta vez, como o carro estava em curva, ela se abriu totalmente. Imprudentemente, porém extremamente zelosa com meu Fusca, visando não permitir que a porta se abrisse toda e fosse danificada, resolvi segurá-la pela janela, que estava aberta. Foi pior: a porta me puxou toda para fora!!! Fiquei presa ao carro apenas pelo pé esquerdo que foi travado pelo extintor, pela mão esquerda na janela e pela mão direita no volante, porém o resto do corpo estava fora do carro, quicando no asfalto.
Como permaneci com a mão no volante, o meu Fusca continuou a trajetória em curva, subiu na calçada e parou num muro, passando a 10 cm de um poste. Por sorte, devido ao jogo do Brasil, não havia ninguém na calçada, senão poderia ter atropelado alguém.
Logo adiante parou um carro, do qual desceu uma mulher muito preocupada. Quando me viu chorando perguntou se estava machucada e se sentia dores. Como a minha resposta foi negativa, me perguntou então porque chorava tanto!! Respondi que chorava pelo estrago que fizera no meu Fusca e pela dificuldade que seria encontrar em Curitiba um para-lama e uma caixa de estepe originais!! Inconformada, e até acho que brava, ela foi embora.
Tenho este Fusca até hoje, há exatos 32 anos, cada vez mais lindo e impecável, mesmo com mais de 44 anos de vida!
Recebi em 19 de março de 2016 as seguintes considerações da Cláudia Floriano sobre a sua participação como autora de causos (ela contribuiu com dois causos):
Além da experiência inusitada como contadora de um “causo”, já que estou longe de me intitular escritora, atividade linda que requer muita capacidade, estudo e dedicação, foi uma honra participar de mais um belo trabalho do Alexander Gromow. Como minha origem mineira não deixa negar, adoro contar “causos” sobre carros, uma de minhas paixões, para amigos e conhecidos, sendo essa, com certeza, a história mais incrível do meu repertório. Nunca imaginei que um dia poderia integrar um livro de “causos”, mas nada é impossível, inclusive cair de um carro em movimento. Eu e meu Fusca 72 continuamos firmes e fortes, juntos, um cuidando do outro como deve ser. Vez por outra ocorrem algumas cenas de ciúme e brigas, por causa da minha última aquisição, um New Beetle, mais novo e mais fogoso que o 72, mas sem seu charme e amor incondicional.
READER’S CORNER
da coluna Falando de Fusca
Assim como a Cláudia Floriano, autora do causo acima, a Ângela Barony Lage é uma “militante” no campo do antigomobilismo. A Ângela presidiu o Jeep Clube de Nova Era, de Minas Gerais, onde os desafios organizacionais eram compensados com os desafios fora de estrada, seja com veículos off-road, seja com quadriciclos, como o da foto, que colocam a lama bem mais próxima dos pilotos. Neste contexto ela foi uma das ativistas no antigomobilismo que eu tomei como exemplo numa das respostas à uma sabatina realizada pelo Portal MAXICAR, e de que eu tive a honra de participar, juntamente com grandes amigos antigomobilistas. Quando eu estava preparando minhas respostas às perguntas desta sabatina eu recebi da Ângela o delicioso causo que é apresentado no Reader’s Corner. Ao lado das atividades off-road e das demais lides inerentes à gestão do lar, a Ângela tem um outro hobby que é bordar, coisa que ela faz com criatividade e excelência. Mantendo o clima eu apresento a íntegra do e-mail da Ângela que por si só é de agradabilíssima leitura:
EMPURRA QUE ELE PEGA
por Ângela Barony Lage
Olá, meu brother.
Realmente este quadriciclo tem história barrentas, empoeiradas, bastante enlameadas nas trilhas de Nova Era. Para mim é a melhor condução, não atrapalha a natureza e acho que seria viável usá-lo na Avenida Paulista, detalhe: com minha bandeira.
Bom, também tenho histórias de Fusca.
Meu saudoso avô Rômulo tinha um fusquinha totalmente original, com algumas diferenças de alguns que talvez não tenha encontrado por aí. Nos divertíamos com o “Xereré” (nome dado pelos netos). Para começo de conversa, meu avô não tinha carteira de motorista, mas estava sempre da cidade para a fazenda. E o Xererê ali, sofrendo, parecia um burro de carga, transportava desde latas de leite, cágados (aqueles que parecem tartarugas mas não são), e a avó Rita e os netinhos amados por eles. O que mais nos divertia era o recurso que vô arrumava para fechar as portas do Xereré, ele simplesmente pegava duas cordas (aproveitava as que amarrava os pés da vaca) e unia as duas pontas na marcha do Xereré. Tente imaginar isso! Imaginou?!?! Sorriu?!? Pode dar gargalhadas, era isso mesmo, pena na época não termos câmera digital para registrar o momento.
E quando o Xererê não pegava o vô usava o burrinho de “Jésus” para empurrar. Eu era feliz e JÁ SABIA.
Já o Fusquinha do meu pai, não me lembro de tantas aventuras, a não ser que, um dia na fazenda meu irmão Cleber pediu para eu empurrar porque o “infeliz” não queria funcionar, mas quando pegou meu irmão fez uma tremenda sujeira, patinou literalmente com ele na lama e me barreou toda. Acho que a partir daí, rolou uma paixão e percebi que realmente minhas aventuras seriam com bastante poeiras e barros.
É isso, estou aproveitando para relaxar a pedido da cardiologista. Como minha pressão está alta, ela achou por bem eu relaxar, tomar um banho e calmante. Como não consigo dormir, resolvi conectar e contar essas recordações para você.
E pode acreditar, me fizeram bem, estou menos tensa e lembrando dessas situações vividas com o Xererê me fez rir bastante.
Um abraço.
Ângela
Numa ação que envolveu a família se procurou uma foto do Xererê para ilustrar este causo, que resultou na foto abaixo que mostra a tia da Ângela, filha caçula do vovô Rômulo, a Maria Aparecida Lage — tia Cida. No pacote de reminiscências que esta procura resgatou lembranças como a do tio João: “O Xererê não pegava no arranque. Quando desligava tinha de ser empurrado, e o vovô não fazia cerimônia, a primeira pessoa que passava por perto e logo pedia para empurrar” risos…
AG
A coluna “Falando de Fusca” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.