Maio foi um mês tão turbulento quanto abril. Entre a primeira e a segunda fase do processo de impeachment da presidente, a aprovação parcial pelo Senado que se confirmou na madrugada do dia 12 de maio, notou-se um aprofundamento da desaceleração econômica em diversos setores de atividade, para muitos havia a sensação de que o país havia parado.
Olhando para os números da Anfavea, da apresentação feita no último dia 6, o ritmo médio de emplacamentos diários de automóveis e comerciais leves que se reduziu em cerca de 2% — 7.731 vs. 7.891 — pode parecer pouco, já que tivemos um feriado (Corpus Christi) numa quinta-feira, mas fato é que a redução veio sobre uma base que já estava ruim.
Comercializaram-se ao todo 167.489 veículos, sendo 162.348 automóveis e comerciais leves e 5.141 pesados. Venderam-se menos caminhões do que no mês anterior, desta vez os mais afetados foram os médios, enquanto os extrapesados ensaiaram leve reação.
A esperada revisão da projeção da Anfavea veio. Se antes previam as vendas até dezembro seriam 7,3% inferiores a 2015, para veículos leves, e de -13,9% para os pesados, a nova previsão estima respectivamente -18,9% e -25,4%, com um total de 2.080.000 autoveículos, sendo 2.014.000 leves, 62.000 caminhões e 13.300 ônibus.
Porém, se compararmos o período janeiro até maio de 2016 com o do ano anterior, a queda acumulada de emplacamentos de veículos leves atinge 26,3%. Resumindo, um desastre maior se desenhava para o setor, saímos de -26,3% e terminaremos o ano com -18,9%. Esse impeachment demorou.
As projeções revistas indicam que o ano pós-Dilma, junho a dezembro, tenha uma retomada de 6% no ritmo médio de emplacamentos diários dos automóveis e comerciais leves e de 4,4% nos caminhões. Vendas de ônibus devem permanecer sem alteração de patamar. Num passado nem tão distante, em anos de eleições municipais como este, o mercado de ônibus se aquecia significativamente, com as prefeituras fazendo encomendas adicionais para garantir votos. Não veremos isso em 2016.
No panorama de vendas por região, o Sudeste e Sul tiveram um mês de maio menos desastroso que o Norte e Nordeste. No acumulado janeiro-maio ‘16 vs. ‘15, Sudeste tem -23%, Sul -27%, Centro-Oeste -29%, Nordeste -30% e Norte -32%. Os índices de desemprego recém-divulgados pelo IBGE ilustram bem a situação, o castigo do desastre econômico é maior nos estados mais pobres.
A volta da confiança e os atentados contra ela
No primeiro final de semana que seguiu ao 11 de maio, dia do impeachment, estive por algumas cidades na região da serra da Mantiqueira e notei os hotéis e restaurantes mais cheios, havia torneio ciclístico que lotou a região. Brincávamos haver um sinal de alívio dos tempos e no sorriso das pessoas. Certamente que a retomada das vendas de bens duráveis de alto valor como automóveis não virá da noite para o dia, mas um fator que todos esperam volte logo é a confiança e com ela os consumidores tornem a visitar as lojas e comprar.
As primeiras medidas na área econômica deram esse sinal positivo, empossado um novo ministro da Fazenda com poderes e experiência, comunicativo e coerente nas suas ações e atitudes, era um bom começo. Suas mensagens ao mercado, aprovar um novo teto orçamentário, conter os gastos, ser realista nas projeções de déficit público, enfim, aquilo que o país já tivera em seus bons anos e o perdera sem aviso prévio.
Na contramão dessa confiança seguem algumas ações erráticas do novo presidente interino, nomeando ministros investigados pela justiça, que tiveram de deixar seus cargos dias após a posse; temos uma ex-presidente, seu fiel advogado e comissários que insistem em assombrar a sociedade com a intenção dela em voltar à cadeira presidencial, seu esperneio em não ter mantidas as mordomias de tzarina, com avião da FAB disponível para atravessarem o país ditando agenda política ao seu bel-prazer e despesas ilimitadas no Alvorada e, como tempero final, um grupo de parlamentares agindo para terem asseguradas nomeações a ministérios e a cargos públicos de vários escalões nos mesmos moldes de antes. Como miséria pouca é bobagem, há dezenas de parlamentares tentando escapar das garras da operação Lava-Jato e de seu inevitável acerto de contas para com a Justiça. Nesse aspecto, nada mudou, o país não mudou.
O esperado afastamento definitivo da presidente segue seu curso, um rito político com altos e baixos e com data para acontecer, agosto próximo, trará mais estabilidade ao mercado. Uma purgação da classe política também seguirá, à medida que mais sentenças e decisões judiciais venham à tona, sejam da 1ª vara ou STF, também deve dar sua contribuição à confiança e um terceiro fator será a aprovação de medidas econômicas que têm cara de arrocho e aperto monetário, mas que resolvem a questão fiscal de certa forma. Ventos favoráveis externos também entram, uma leve alta no preço das commodities agrícolas vem puxando nosso resultado da balança comercial para cima.
Entre os fatores que jogam a favor e os que jogam contra a volta da confiança, fato é que temos uma bomba-relógio nas mãos. Como vem sendo frisado por esta coluna já há bastante tempo, os 40 mil trabalhadores dos fabricantes temporariamente afastados, seja em lay-off ou no PPE, estes que aguardavam uma normalização do mercado para poderem voltar a produzir, começaram a se dar conta que esse “normal” não vem, não este ano, tampouco em 2017. As demissões retomaram e o ABC voltou a ser palco de manifestações pela manutenção do emprego. Aquela velha solução de reduzir IPI para revitalizar o mercado e evitar mais demissões no setor automobilístico mostra-se ainda distante ou improvável, com os atores principais da indústria e do governo inertes e sem canal nem condições para diálogo.
Câmbio favorável para exportar e menos clientes no Brasil tem feito alguns fabricantes reverem sua estratégia para mais foco no mercado externo. A Renault tem sobressaído e conseguiu manter o seu quadro de colaboradores estável. Outros fabricantes tem conseguido menor êxito, todos voltados para abastecer os mercados de nossos vizinhos de continente e assim, segundo as novas projeções da Anfavea, o país exportará pouco mais de 500 mil unidades este ano, uma alta de quase 22% sobre 2015.
Ranking do mês, algumas novidades trazendo mudanças
Onix segue o ano se distanciando na liderança, o modelo emplacou 10.896 unidades em maio, o Hyundai HB20 que estreou novo motor 1,0 turbo, segue em 2º, Gol em plena recuperação em 3º, Ford Ka volta a figurar entre os cinco mais vendidos, HR-V e Renegade cedem espaço aos compactos de entrada, normal. As mudanças fizeram bem ao Etios, no primeiro mês após lançamento dos modelos 2017, com novos quadros de instrumentos (foto de abertura), motorização e a bem-vinda caixa automática, tanto o hatch como o sedã tiveram um salto de 20% nas vendas e galgaram quatro posições acima no ranking de maio. Nada mau.
O lançamento da Fiat, o Mobi, não teve um bom início. Num mercado onde Fiat, VW e GM dispõe de três ou quatro modelos de entrada com preços bastante próximos entre as versões, presume-se que a turma de marketing da Fiat tenha feito um cuidadoso planejamento ao posicionar seu novo produto segundo as suas premissas, mas o mercado reage a essa mudança de uma outra forma. O novo ultracompacto da marca italiana era suposto matar o Palio Fire e situar-se abaixo do Uno e este abaixo do Palio, todos somando vendas. No entanto, em maio vimos o Mobi bem aquém das expectativas, 2.407 unidades e ainda por cima tomou clientes do Uno e o mandou para escanteio (25º, 1.868 unidades), enquanto os Palio (Fire e re-styling) reassumiram a sétima posição no ranking. O Mobi três-cilindros deve melhorar a sua vida, mas quem deveria ter saída prevista, o Palio Fire, é o Fiat mais vendido. O mercado e as suas contradições. Fiat ainda segue num incômodo 4º lugar no ranking de vendas de automóveis.
Nos comerciais leves, o Fiat Toro deu o tom e vem se firmando na vice-liderança do segmento, logo atrás do Strada. Ranger reestilizada voltou a figurar entre as dez mais vendidas e empurrou a ótima VW Amarok para 11º. Hilux segue sendo a picape média referência.
Até mês que vem.
MAS