Sabe aquela alegria de quando você é jovem, tem um bom emprego como aprendiz e uma expectativa de sucesso profissional? Pois é, vou contar dois fatos muito curiosos dos quais fui protagonista. Hoje vou contar um, o outro fica para o domingo que vem.
Década 1960, eu tinha 16/17 anos, a empresa era uma concessionária VW (Argos Automóveis, no bairro de Pinheiros, São Paulo) que infelizmente fechou depois que eu a deixei (não por minha culpa…).
Como eu disse , eu era aprendiz e muito dedicado por sinal, elogiado por todos aqueles a quem eu ajudava lavando peças — óbvio, certo?
Fazia acompanhamento dos serviços de revisão, mecânica leve (suspensão/direção/freios) e aprendia bastante com os mecânicos, como usar ferramentas especiais e não o “martelo”.
Estava indo tão bem que a direção da empresa resolveu investir no cara aqui e me enviou para a Volkswagen do Brasil para fazer o primeiro curso técnico da minha carreira, sendo assim marcado o início da minha formação técnica que me trouxe muitos ensinamentos que me permitiram depois ter experiências na prática.
Você sabe o que é ser estagiário em uma empresa: é o faz-tudo quando quem deveria fazer não está disponível, e lá não era diferente.
Primeiro caso: tambores de freio de Kombi
Serviço de freio em uma Kombi, devido ao desgaste por falta de manutenção do seu proprietário. Fez-se necessária a troca dos tambores do freio dianteiro (naquela época, disco era só de vinil…). O mecânico foi até a seção de peças e requisitou os tambores, e eu, o aprendiz, tive que carregá-los de lá até o carro. Você sabe quanto pesa um tambor de freio de Kombi, que também faz as vezes de cubo de roda? Não? Então imagine dois e um mecânico, seu chefe, a lhe dar ordens.
Cheguei ao carro e os coloquei junto de cada roda e o bom mecânico os montou sob meu olhares curiosos por aprender. Terminado o serviço, e como eu já havia demonstrado ser bom de manobras, embora legalmente não o pudesse fazer, era “de menor”, fui autorizado pelo mecânico a colocar o carro no pátio para que fosse testado pelo chefe da oficina e depois liberado para entrega ao cliente.
Voltando aos tambores de freio (foto de abertura), preciso dizer que a distância do boxe de trabalho até à sucata era muito grande, e como carregar os tambores até lá “no braço” seria muito cansativo, fiz o caminho mais curto, coloquei-os dentro de um latão de lixo existente no boxe onde havíamos trabalhado pensando que mais tarde o faxineiro os levaria até a sucata. Que nada!
Não percebi, mas ao manobrar a Kombi para levá-la para o pátio, esbarrei com o para-choque no latão de lixo e este ficou fora do alinhamento que havia com uma coluna. Escondido é a palavra certa: ficou fora do seu lugar!
E eis que chega o meu patrão, o João “Polaco” Skuplik, um dos sócios da casa, com seu carro e queria colocá-lo em um boxe com elevador para analisar a causa de um ruído na suspensão dianteira. Não conseguiu entrar na vaga por que no caminho havia um latão de lixo. Qual o idiota que teria deixado lá? — deveria ter-se perguntando.
Como ele não era de muitas palavras, saiu do carro furioso e deu um tremendo chute no latão para colocá-lo em seu lugar, que tinha até marcação no chão para localização exata.
Quer saber o que aconteceu? Continue lendo esta verídica história de um aprendiz, ou estagiário, como queira chamar.
O meu patrão quebrou o pé! Foi para o hospital e só voltou a aparecer na oficina muitos dias depois.
Se ele descobriu quem tinha deixado o latão fora do lugar? Claro que não, do contrário eu não estaria aqui para lhe contar este caso.
Ele aprendeu, mas eu também: cada coisa em seu lugar.
Vou repetir o que já tive a oportunidade de falar para muitos: se tivesse que fazer novamente tudo que fiz na vida profissional, o faria igualzinho.
RB