Nesta matéria, que tem a colaboração especial do Hugo Bueno, vamos tratar da curta vida de uma das primeiras “séries especiais” que a Volkswagen lançou no Brasil, cujo nome formal era “TL Personalizado”, mais um cometa na constelação Volkswagen. Vamos ver se ele realmente chegou a brilhar.
O início da década de 1970 parece ter sido, para a Volkswagen, um período de várias experiências com o intuito de descobrir novos nichos ou incrementar a venda de alguns de seus modelos. Foram lançadas algumas versões, hoje tratadas como séries especiais, em que não houve a preocupação por parte da Volkswagen de oficializar nomes específicos para diferenciá-las das versões de série. Como já vimos em outras matérias da Coluna, simplesmente foram atribuídas designações genéricas e o próprio mercado encarregou-se de definir nomes que, aproveitando as características ou até mesmo termos utilizados pela própria VW em peças publicitárias, passaram a batizar essas versões. Assim, em 1973, as opções mais baratas do Fuscão, do TL e da Variant, passaram a ser chamados de Standard pelo mercado em vez de Opção 1, como a Volkswagen os tratava nas respectivas listas de preços.
No caso do Fuscão, o mercado foi além, passando a designar este modelo também como Fusca Bravo, um segundo nome para o mesmo carro. Logo depois, para a linha 1974, foi lançado o VW Sedan 1600 S, mais conhecido como Bizorrão, que ficou em linha até meados de 1975. Esse lançamento nada mais foi do que um teste de mercado visando avaliar o lançamento de uma nova versão de série do VW Sedan, a 1600, que acabou substituindo o VW Sedan 1500, o Fuscão, o que acabou ocorrendo também em meados de 1975.
Voltando no tempo, como visto na Parte 2 da matéria do “Zé do Caixão”, o VW 1600 L foi a primeira série especial lançada pela Volkswagen do Brasil por aqui. Ela tinha a clara finalidade de apresentar uma versão luxuosa para se contrapor ao Opala e ao Corcel. Porém, pouco antes de 1973, mais precisamente em setembro de 1972, o lançamento de uma série especial do VW 1600 TL duas-portas, chamada pela VW de TL Personalizado. pode ser considerado o início de uma fase de testes para a descoberta de novos nichos de mercado.
Segundo a matéria do Jornal O Globo de 22 de setembro de 1972, a VW resolveu produzir esta série limitada com o intuito de promover a venda do TL, principalmente junto ao público jovem, nicho no qual esse modelo nunca fez muito sucesso contrariando as suas expectativas, já que sua carroceria tipo fastback era sinônimo de esportividade àquela época. Como atrativo, a série Personalizado vinha com calotas esportivas, os famosos “copinhos”, pintados de cinza-prata como no recém-lançado esportivo VW SP2; acendedor de cigarros, já que naquela época fumar era sinônimo de liberdade e de esportividade, relógio, buzina dupla, espelho retrovisor antiofuscante, volante esportivo Walrod, faixas esportivas no capô dianteiro, tampa traseira e nas laterais e uma nova cor exclusiva chamada verde Hippie (que passou a ser disponibilizada para quase todos os modelos VW em 1973 e 1974); se bem que depois foram fabricados VW TL Personalizados de outras cores, como, por exemplo, branco.
O maior atrativo, porém, é que mesmo com esses equipamentos, o preço era o mesmo de um TL normal. Conforme cita essa mesma matéria, o pedido de cada TL Personalizado feito pelos concessionários à fábrica estava condicionado ao pedido simultâneo de um da versão normal, o que podia ser considerada a base da estratégia para impulsionar as vendas do TL, ou, quem sabe, uma estratégia para “limpar o pátio” com vistas às modificações que estavam sendo preparadas para o modelo 1973.
Matéria do Jornal O Globo de 22 de setembro de 1972 apresentando a série especial do TL
Essa nova versão trazia uma série de acessórios de fábrica com a intenção de imprimir uma imagem esportiva, ratificada pelos termos usados pela própria Volkswagen na propaganda institucional, publicada em 26 de setembro de 1972 em jornais de circulação diária: calotas “esportivas” e volante de direção “esporte” (sem esquecer que foi a imprensa que chamou as faixas de “esportivas”). Está aí o mote que o mercado aproveitou para batizá-lo informalmente como TL Sport, expressão muito mais incisiva que o insosso TL Personalizado utilizado pela fábrica.
Ampliando o detalhe desta propaganda que resumia os acessórios extra que o carro “Personalizado” trazia, juntamente com as faixas “esportivas”:
Os volantes da marca Walrod faziam sucesso entre os jovens e certamente eram um destaque desta série especial.
O Jornal do Brasil também publicou uma nota marcando o lançamento da nova versão. Essa nota, mais enxuta, se aproximando muito de um press release institucional, terminava dizendo que “O TL Personalizado permite a escolha de um veículo de status, onde permanecem suas características modernas com a traseira em “fast-back” e interior confortável”.
O período de produção desta série especial não é claro. O fato é que pouco depois, em novembro de 1972, a VW lançou sua linha para 1973 que incorporou algumas modificações tais como as novas lanternas traseiras e as aberturas para ventilação nas colunas traseiras, que o TL Personalizado não possuía. Considerando-se a ausência dessas características, pode-se inferir que esse modelo foi fabricado somente entre os meses de setembro e novembro de 1972. Ainda na década de 1970, este modelo podia ser considerado “obscuro” até na hora de encontrar peças de reposição.
O Catálogo Simplificado de Peças para a linha TL, versão 11/76, utilizado na seção de peças dos concessionários Volkswagen, também só trazia uma pista da existência do TL Personalizado: o volante de direção, cujo número era 149.415.091.2, trazia a seguinte observação entre parênteses: “Para modelo 107 – personalizado”.
O interessante é que o código formado pelos três primeiros dígitos do número dessa peça nos remete ao VW SP2, cuja plaqueta estampa o código Tipo 149, assim como o TL é o Tipo 107. Para os demais itens, como o conjunto de faixas, o relógio, o acendedor de cigarros, o retrovisor antiofuscante e a buzina dupla, o catálogo de peças não faz nenhuma referência.
Veja imagens do referido Catálogo Simplificado de Peças evidenciando um volante específico para o modelo 107 personalizado. Nenhuma outra referência é feita aos demais itens de fábrica para este modelo:
Até hoje é difícil de entender essa estratégia utilizada pela Volkswagen para testar a aceitação de uma “roupagem esportiva” em um veículo médio como era o TL, para que pudesse concorrer com o Corcel GT e talvez até com o Opala SS. Lançar um modelo diferenciado, sem um nome claro e ainda com todas as características do modelo 1972, no fim desse mesmo ano, no exato momento em que os concorrentes já estavam apresentando sua linha para 1973, parece ter sido realmente “um tiro no pé”.
Uma seleção de fotos de um VW 1600 TL Personalizado na então nova cor verde Hippie:
Talvez em função disso tenha ficado somente dois meses no mercado, o que faz ser dificílimo encontrar hoje um TL Personalizado conservando todas as suas características originais. Na divulgação do lançamento da linha Volkswagen para 1973 nenhuma referência é feita a essa versão. Não há registros de quantas unidades foram fabricadas, pois assim como a Volkswagen fez em seus outros modelos “especiais”, não há nenhuma diferença na plaqueta ou no número do chassi que possa destacá-lo do TL normal.
Mais algumas fotos de um VW 1600 TL Personalizado na cor branca. Estas fotos recentes são do mesmo carro que aparece na imagem de abertura desta matéria, tirada há muitos anos numa exposição, ainda no tempo das placas amarelas. Este carro foi tirado zero-quilômetro na famosa Concessionária Dacon, na capital paulista.
AGr