Em 1974 fui convidado para correr na equipe Mercantil Finasa-Motorcraft, que era a representante oficial da Ford Brasil nas competições, cujo chefe era o lendário e saudoso Luiz Antônio Greco. O carro, Ford Maverick 302 V-8. Estreei na equipe, depois correr um ano e meio de Opala 4100, inclusive com o 250-S, na I 12 Horas de Goiânia de 1974, em 6/07/74. inauguração do autódromo. Fiz dupla com Marivaldo Fernandes e vencemos, mas isso é história para outra matéria.
Corri aquele ano e os dois seguintes, sendo que em 1976 o regulamento mudou e da Divisão 1 passou para o Grupo 1 da FIA, ou seja, adeus quadrijet e rodas de alumínio. Mas nesse ano o Paulão (Paulo Gomes) resolveu tentar a Europa e o Maverick Divisão 3, altamente modificado, motor de 450 cv com quatro Weber 48 IDA, entre diversas outras alterações, ficou sem piloto. O Greco me convidou para ocupar o lugar do Paulão.
Por volta de fevereiro ou março o Greco me chamou para ir a São Paulo para o primeiro contato com o Divisão 3. Um grande amigo, o José Carlos Ramos, tinha um Porsche 911 Carrera RS 1973 como o da foto acima, o primeiro com o defletor na tampa do motor — um 2,7-litros, injeção mecânica, 210 cv a 6.300 rpm e 26 m·kgf a 5.100 rpm; limite de rotação 7.400 rpm mediante um massa centrífuga no rotor do distribuidor. “Vai a São Paulo treinar? Vai com o Porsche!” — disse-me. Claro que aceitei.
Meu único irmão Rony, dois anos mais velho, com minha ida para a Ford passou a ser o cronometrista da equipe, algo que ele fazia muito bem. Inclusive, foi dos primeiros a utilizar apenas um cronômetro com a função split, o tempo da volta era o totalizado menos o tempo da volta anterior. Nada da arcaica prancheta com dois ou quatro cronômetros.
Portanto, para essa ida a São Paulo — um bate e volta, diga-se — nada mais natural que chamasse o mano para ir comigo. E lá fomos nós num carro carismático e rápido, 0 a 100 km/h em 5,8 s e máxima de 245 km/h. Na época isso era o que se podia chamar de desempenho estonteante.
Eu conhecia a via Dutra como a palma da minha mão. Ou pensava que conhecia. Tal era a aceleração e velocidade que passei a descobrir novas curvas — de alta, claro. O que de Opala 4100 era pé embaixo, com este 911 tinha que frear. Era uma rodovia completamente diferente.
Naquele tempo era raro fiscalização, que invariavelmente era na base de binóculo e cronômetro na mão de uma policial rodoviário federal, no caso da Dutra. Naquele dia não havia nenhum e o trânsito, leitor, era bem leve, difícil até de imaginar hoje. Pude acelerar o quanto quis por quanto tempo quisesse. Mas nada de suicídio: fazia as ultrapassagens com pequena diferença de velocidade, fosse automóvel, ônibus ou caminhão. Freios potentes ajudam muito nesse tipo de condução.
Não me lembro do tempo de viagem para os 450 quilômetros de porta a porta, mas foi bem menos que três horas e meia. O melhor, com toda a tranquilidade, em nenhum momento nos colocamos em risco, mesmo ao andar bem acima de 200 km/h sempre que aparecia um trecho reto.
Saímos de casa, na Gávea, às 9h00 (meu irmão dormiu lá, para ganharmos tempo) e antes de 12h30 estávamos em São Paulo, onde almoçamos. Em seguida fomos para o autódromo, onde treinei até 4 da tarde — para voltar para casa em seguida.
Esse Porsche veio com a altura de rodagem dianteira alta demais e o José Carlos achou que não se devia mexer. Em curvas da baixa saía demais de frente. Lembro-me de, chegando a São Paulo, fazer a alça de acesso à ponte das Bandeiras — a da hoje famosa pegadinha da CET — com gigantesco subesterço, daqueles de cruzar os braços! Mas em alta, com mais força aerodinâmica sobre o eixo dianteiro, dava para ir bem.
Às quatro e meia entramos na marginal do Pinheiros, em Santo Amaro e pouco depois de 20h15 chegamos na casa do Rony, em Ipanema, e dali segui para minha, na rua Piratininga, na Gávea.
Viagem para não esquecer mesmo! Tempos que não voltam mais.
BS
(Atualizada em 23/08/19, inclusão de foto de um Porsche 911 Carrera RS 1973)