Sempre que visito uma exposição de veículos, de qualquer tipo, vou registrando na cabeça e em fotos o que acho importante, os destaques, e até o que seja negativo. Nesse Salão do Automóvel 2016 foi igual, e aqui está o que considero notável, que me chamou a atenção, que compartilho com o leitor ou leitora. Pode haver carros longe do que convencionamos como “de entusiasta”, mas que sem dúvida têm seu valor e utilidade.
A Renault vai começar a vender o Captur, e a pintura em dois tons com teto branco ou preto mostrada deve ser a maior parte dos produzidos e vendidos, mas, por favor, comprem com teto branco, nada de preto. O que não falta é sol, e sol esquenta. Teto branco vai poupar um bocado de trabalho do ar-condicionado. Os tetos pretos são o equivalente automobilístico a uma gravata, totalmente fora de contexto em um país tropical. Acerto fantástico e inteligente da Renault em oferecer essa opção.
Outra coisa ótima foi o Fórmula 1 da marca, 0 R.S. 16, com seu motor ao lado — melhor dizendo, unidade de potência — mas que não estava completo, faltando essa parte elétrica-híbrida. Carros de corrida sempre chamam atenção, e o topo de todas as categorias de pista impressiona pelos detalhes incríveis de aerodinâmica, principalmente. Tudo é visivelmente desenhado para desviar o ar de locais onde há mais turbulência, e onde não tem jeito, se adiciona defletores para organizar um fluxo de ar inevitavelmente bagunçado, como junto das rodas traseiras. Veja as fotos:
A Hyundai lançou o crossover Creta, e como estudo de estilo conceitual mostrou uma picape, a Creta STC. Precisará de portas de verdade para acesso ao banco traseiro se vier a ser feita, ou preço vantajoso se tiver apenas dois lugares, mas o estilo é muito bom e agrada à maioria.
No estande da Suzuki, o destaque para os interessados em coisas históricas era um jipe da série LJ (light jeep), a mesma representada hoje pelo Jimny, que chegou com a atual carroceria e nome em 1998. O LJ exposto é de 1975, mas a série começou em 1970 com o LJ10. De tamanho diminuto e peso pena, com teto de lona, o LJ20 assusta os mais novos pela simplicidade absurda. Sim moçada, os carros eram assim há pouco tempo. Já existia televisão em cores e o LJ20 era ainda fabricado, depois sendo modernizado e batizado de Samurai, para depois se tornar Jimny.
A família dos pequenos jipes Suzuki é enorme, foi feita em inúmeros países com opções e motores diferentes dos originais japoneses, e têm uma grande quantidade de admiradores, principalmente porque são simples e leves, duas características que os entusiastas puristas admiram. E no fora de estrada conseguem passar em lugares que alguns carros pesados não passam, mesmo os com muito mais torque e potência. Palavra de quem teve um Samurai.
Bem separadas fisicamente com estandes afastados, os carros da PSA, Peugeot e Citroën, mantêm uma vanguarda visual notória, ou ao menos uma particularidade de terem estilos chamativos e diferentes em alguns modelos. A grande novidade é o 3008 com nova carroceria, agora abandonando a categoria de perua-alta-meio-minivan, e passando a suve, para assumir de vez o gosto do cliente. O carro impressiona por fora e por dentro, e tem a área de atuação do motorista muito moderna, que a Peugeot chama de i-cockpit.
Na Citroën, dois carros conceito interessantes, o E-Mehari, um elétrico com o nome do antigo Mehari, o primeiro carro do mundo a ter carroceria em plástico, mecânica do 2CV e que teve também versões com tração nas quatro rodas. Um bugue no idioma francês. Todo aberto e colorido, é uma autêntico feriado na praia sobre rodas.
O outro Citroën que ainda não existe à venda é o Aircross Concept. Um espetáculo visual por fora e por dentro, não tem coluna central (B), permitindo colocar gente e carga de forma rápida e fácil. O exterior mostra capacidade fora de estrada, com balanços curtos na frente e atrás, e pneus para uso sobre asfalto ou não. O interior é divertido, com muitas formas e cores. As portas traseiras estão muito bem disfarçadas, agradando a quem não gosta de quatro portas.
Na Volkswagen, o que chamava atenção entre carros normais era o Gol modificado visualmente e batizado de GT. Testando reações para uma possível versão “esportivada”, já que o Rallye não agrada muita gente com sua suspensão elevada, apesar de ótima para as vias urbanas não civilizadas. Deverá ser resolvido, porém, onde colocar os adereços na cor vermelha para produção, já que como está, com faixinhas por todo lado, me parece um certo exagero.
Um VW futurístico é o Golf GTE Sport, com portas abrindo para cima e para frente, e um interior de nave espacial. Um motor a combustão e dois elétricos concluem a tecnologia. Um salto de pelo menos 20 anos à frente para o Golf. Se fosse feito logo, poderia colocar o carro como o hatch médio mais vanguardista do mundo, mas como o cliente Golf é bem tradicional, glorificando o estilo simplório, não deverá chegar às ruas tão breve.
Desejada por muitos, mais um conceito de Kombi apareceu de forma destacada no enorme estande da VW, o maior do Salão. É chamado de Budd-E, tem propulsão elétrica e todo tipo de conectividade de comunicações. Em meio a tantos suves da marca, seria ótimo ter algo como esse carro em produção em breve.
Na Jaguar Land Rover, dois destaques, que coloco entre os mais belos carros do mundo em suas categorias. O pequeno Jaguar F-Type R, um grã-turismo com tração nas quatro rodas, junta tudo de mais suspirante em um carro desses, e não há um ponto nele que se olhe que não seja magnífico. Nos suves, o novo Discovery tem um estilo de virar cabeças, com carroceria de proporções chamativas e componentes lisos e muito bem combinados entre si. A dianteira é bem curvada, auxiliando as velocidades e consumos de estrada, e todas as virtudes de poder rodar em qualquer terreno estão presentes. Acabamento e equipamentos são topo da categoria. Novamente, um Range Rover faz cada vez menos sentido.
Dos videogames para as ruas é o que está propondo a Nissan com o Vision Gran Turismo 2020, carro desenhado para o jogo Gran Turismo em sua sexta versão, de 2014. A empresa colocou o carro longe do Nissan GT-R, quando poderia muito bem estarem lado a lado para fomentar o gosto e desejo pelo “Godzilla”, que para ficar discreto, veio na cor preta, um problema para fotografar, e que literalmente apagou o carro no estande. O VGT 2020 dá todas as dicas do que será o GT-R em alguns anos, o que anima quem aprecia estilo verdadeiramente chamativo.
A Honda mostrou um conceito de fazer acelerar o batimento cardíaco: o Project 2&4 (dois lugares, quatro rodas). A fabricante japonesa presta homenagem à série RA de carros de Fórmula 1 que surgiu em 1964 e competiu até 1968. Combina a carroceria aberta de um monoposto com motor da família das motos de corrida do campeonato mundial. A decoração é baseada nos RA, como mostra a foto na galeria. Um carro delirante e de fazer sonhar com pistas e estradas cheias de curvas. Para dirigir, só com capacete mesmo, como nas motos, já que nem um defletor de ar para a cabeça possui.
O Fórmula 1 da equipe McLaren com motor Honda estava ao lado do 2&4, e assim como o Renault, faz delirar com seus detalhes incríveis e um acabamento que visa o melhor fluxo de ar ao redor de todos seus componentes, de forma a ter o ar como um auxílio à funções precisas do carro. Lindíssimo!
Pontos de destaque são as mecânicas expostas e carros em corte, e vários estão expostos nesse Salão, que termina no domingo, dia 20 de novembro.
Na Mercedes-Benz, trinta carros inundavam os sensores visuais dos visitantes, e não era fácil destacar algo mais interessante. O conceito IAA (Inteligent Aerodynamic Automobile) tem a traseira que se alonga em velocidade, para diminuir o arrasto, e é completamente liso, com Cx 0,19.
Além dele, eu que não curto conversíveis (roadsters sim), me vi paralisado diante da beleza do Classe S de capota escamoteável. Um desenho que deverá passar para a história do Design.
Escondido na lateral e bem para trás, meu preferido da linha, o mais prático e útil de todos os Mercedes-Benz, o Classe G, para uso em qualquer tipo de terreno. O absurdo é que ele é um AMG, custa mais de 900 mil reais e alcança os 100 km/h em 5,4 segundos. Tudo isso sendo quadradão, pesado e tendo tração nas quatro rodas. Um monstro, apenas para quem entende, gosta e é entusiasta desse tipo de jipe tamanho família.
Mas o topo da linha da marca de Stuttgart é o Mercedes-Maybach S500, agora com a marca integrada à linha Mercedes, não mais como outra marca com aparência de Mercedes mas sem os emblemas deste. Fica melhor assim, é mais transparente aos clientes e coloca o carro como um concorrente dos Bentleys, principalmente em acabamento interno, completamente inacreditável. O Paulo Keller fez questão de me fotografar dentro dele, e eu estava um pouco fora da realidade no momento, daí minha expressão estranha.
A marca Lexus merece vender muito mais do que vende. Como o PK disse e eu concordo, estão em um nível de desenho acima de outras marcas de luxo, demonstrando total falta de medo de fazer diferente. O LC500h é de tirar o fôlego, bem como o LF-FC, sedã enorme e ousado em todos os detalhes. O desenho da grade dos Lexus não deixa ninguém indiferente: ama-se ou odeia-se. Ponto positivo, design de carro tem que ser assim mesmo. E se parecem com o formato da boca do predador, do filme de mesmo título.
A Audi mostrou as versões “Performance” dos RS, que antes eram as “Plus”, que não chegaram a ser comercializados no Brasil. Tem mais potência que os RS normais, e a RS 6 vem com rodas enormes de 21 polegadas e pneus 285/30 ZR21, um delicioso exagero para andar nas ruas.
Na BMW, bom ver novamente o M2, cujo lançamento tive o prazer de acompanhar. Exposto um carro azul, minha cor preferida, com adesivos de faixas nas cores Motorsport, azul-claro, azul-médio e vermelho. Numa palavra: magnífico; em duas: eu quero!
A Ford trouxe dois carros que sem querer fizeram quase sumir os outros expostos no estande. Com o GT e o Mustang Shelby 350R, garantiu uma presença de público massiva. Fiquei sem palavras. Apenas fotos para tentar dizer a emoção de ao menos sentar no banco do piloto no 350R, e passar a mão nos pneus semi-slick que vêm de série nele. Faltou só poder entrar no GT.
O ponto mais positivo da Ford é anunciar finalmente a importação do Mustang, algo requisitado há anos pelos entusiastas do cavalo selvagem. Pena só não ser a linha completa, ou ao menos o EcoBoost turbo para fazer companhia ao GT V-8. Repito o que disse na avaliação que fiz do modelo mais barato da linha, o 2,3 turbo de quatro cilindros. Ele é muito melhor do que diz sua ficha técnica. Veja aqui mais informações sobre esse modelo de entrada.
E para finalizar, três carros de corrida de arrepiar. O Porsche 919 Hybrid, recém-empossado como campeão do WEC, World Endurance Championship (Campeonato Mundial de Resistência), seu mais ferrenho rival, o Audi R18 e-tron. Ambos são fantásticos, e vencer ao outro é algo valiosíssimo. Mas ambos são do mesmo grupo Volkswagen, que decidiu manter só o Porsche no WEC.
Fora do asfalto, o fabuloso Peugeot 3008 DKR, um protótipo da categoria de topo das provas de rali-reide (longas distâncias). A Peugeot venceu o Dakar em 2016 com o 2008 DKR e vai correr de novo em 2017. Vale a pena procurar por vídeos desses Peugeots apenas para ver seu trabalho de suspensão em pisos terríveis.
JJ