Ex-presidente da FIA é velho aliado e amigo de Ecclestone. Palavras reacendem boatos sobre planos de Bernie. Inglês alfineta norte-americanos.
Não bastasse a mensagem do todo-poderoso Sergio Marchionne falar sobre a necessidade da F-1 recuperar seu prestígio, agora é a vez de Max Mosley abrir fogo-amigo contra a Liberty Media, a nova proprietária e administradora da categoria. Eterna eminência nem sempre parda, Mosley foi pouco sutil ao declarar à Agência Reuters que “os americanos sempre acham que sabem fazer melhor”, uma referência direta e reta às propostas apresentadas por Chase Carey para promover os Grande Prêmios no melhor estilo do Super Bowl, a liga de futebol americano dos Estados Unidos, e ao fato de terem dado uma posição de “Rainha da Inglaterra” ao veterano empresário e amigo.
Se a Liberty Media conseguir impor aos GPs os índices de emoção e repercussão nas mídias sociais alcançados pela partida de anteontem, Mosley se verá obrigado a fazer um gesto nobre e admitir que os conceitos de Carey são efetivamente eficientes. Na final disputada domingo – o tal do Super Bowl – o time dos Patriots perdia feio para o Atlanta Falcons mas conseguiu empatar no último quarto de jogo e forçar uma prorrogação, fato inédito na história desse esporte. De quebra, reverteram o que seria uma derrota e sagraram-se campeões, o que valorizou ainda mais a conquista, a sétima do time de New England.
Ocorre que por mais clima de ONU que se possa respirar num paddock da F-1, o controle do negócio e seus valores, desde a alma aos seus tentáculos, continua extremamente europeu, ou melhor, inglês. Dois dos últimos capítulos da disputa de poder sobre a F-1 foram entre Mosley e seu fiel parceiro Bernie Ecclestone, contra franceses, primeiro Jean-Marie Balestre, e mais recentemente frente a Jean Todt. Desta vez, porém, o inimigo está separado por um volume de água bem maior que o que passa pelo Canal da Mancha: o Oceano Atlântico e um bom pedaço de terra; o endereço jurídico da Liberty Media Corporation é Englewood, nos arredores de Denver, a capital do Estado do Colorado. Há, portanto, espaço para muita estratégia e outro tanto de táticas de guerra.
A ligação entre Max Mosley e Bernie Ecclestone é conhecida de longa data e tem raízes mais profundas do que muitos supõem. O primeiro foi quem enfrentou e apaziguou Balestre quando o francês tornou-se um obstáculo aos interesses comerciais do amigo e lançou-se candidato à presidência da FISA (Federação Internacional do Esporte Automobilístico), então o braço esportivo da FIA, em 1991. Dois anos mais tarde o filho de Sir Oswald Mosley — que liderou a União Fascista Britânica —, reunificou a FISA e a FIA e executou algumas mudanças estratégicas na entidade, como transferir a sede da entidade para Genebra, de 1999 a 2000, de forma a atenuar as consequências de uma investigação da Comissão Europeia.
Mosley ficou no comando da FIA/FISA durante três mandatos, período em que um voto de confiança o manteve no poder após seu envolvimento em uma orgia sexual. Optando por não disputar novas eleições, ele se envolveu com assuntos ligados à legislação automobilística europeia e atualmente é o presidente da organização Global NCAP (New Car Assessment Program), que desenvolve um trabalho de pesquisa e investigação relacionados com a segurança ativa e passiva de novos automóveis. Não se deve desconsiderar por completo que a decisão britânica de se desligar da União Europeia pode ter contribuído para Mosley voltar a opinar sobre a F-1 e seus rumos de maneira mais crítica: “A Liberty tem uma equipe de profissionais competentes. Agora, se eles podem lidar com tudo da maneira que poderiam se contassem com Bernie nos assuntos que ele domina, e fazer as coisas que eles conhecem, é uma boa pergunta. As coisas sempre parecem mais fáceis para quem está do lado de fora.”
Os recentes desmentidos do próprio Ecclestone, que foi nomeado presidente emérito da Grupo Formula Um (Formula One Group, em inglês), de que estaria arquitetando um novo campeonato, ganharam manchetes mas não convenceram a todos. Bernie, um workaholic de carteirinha, não é o tipo de pessoa que vai aproveitar a vida à frente de uma tela de TV ou cuidar do jardim — ainda que esse jardim seja a fazenda de café que possui em Amparo (SP). As críticas de Mosley podem ser um cenário onde a semeadura é para florescer muito mais que a matéria-prima de um bom espresso…
WG