Durante o lançamento do Captur foi possível avaliar os dois modelos, o Zen 1,6 manual e o Intense 2,0 automático. Confesso que após ler comentários na matéria anterior e no vídeo que já está no YouTube tenho a impressão que haverá muita resistência na aceitação do que eu tenho a dizer.
Isso porque há uma enxurrada de pessoas criticando a caixa automática de quatro marchas. E aceito que é praticamente impossível não concordar que uma de seis marchas não pudesse deixar o Captur melhor. Mas, preste atenção: fazer algo melhor não significa que o que foi melhorado seja ruim. E é aí que eu vejo que há muita reclamação de crítica, apenas pela crítica. No AE não avaliamos carros pelo que eles poderiam ser, e sim pelo que são.
Um fato importante é que neste momento a Renault não tem disponível outra caixa automática para este produto. Alguns vão dizer que existe a caixa tal usada em tal modelo, mas isso não quer dizer que possa ser usada facilmente em qualquer produto. E sabendo disso, sabendo das críticas, a engenharia da Renault do Brasil trabalhou com afinco para proporcionar melhor experiência possível para condutor e passageiros. Essa experiência envolve conforto, desempenho e consumo de combustível. E tudo isso dentro de um preço aceitável e em combinação com outras característica e equipamentos.
Em um percurso de aproximadamente 100 quilômetros que envolveu trânsito pesado em São Paulo, trechos de rodovia aberta e trechos de rodovias de mão dupla, o que eu notei é que esse conjunto motriz do Captur Intense, motor 2-litros com caixa automática de quatro marchas, na condição de carro vazio, se comporta muitíssimo bem no quesito conforto. As trocas são praticamente imperceptíveis e muito suaves e o trabalho de isolamento acústico e de vibrações do motor também é notável. Quando o pé direito requisita o motor com vigor, a redução de marchas é instantânea e também sem desconfortos.
Em um teste de retomada a uma velocidade constante de 100 km/h, ao requisitar carga máxima, a caixa passou de quarta para segunda, o giro subiu rapidamente e a resposta foi satisfatória. Eu digo satisfatória pois entendo que não posso esperar de um carro familiar um comportamento esportivo. O ruído do motor obviamente aumenta em rotações acima de 5.500 rpm até o corte limpo a 6.300 rpm (atingido no modo manual), mas não há aspereza.
O modo manual também apresenta trocas rápidas e suaves e sua operação pela alavanca (não há borboletas) deslocando-a para a esquerda e com marchas ascendentes para trás e descendentes para frente. Alguns já falaram em usar uma CVT no lugar dessa caixa. isso para mim só seria aceitável se fosse uma CVT de última geração ou topo de linha. Caso contrário prefiro essa mesmo. Mas isso me chamou a atenção para o fato de que as CVTs estão sendo mais aceitas e até requisitadas!
A 120 km/h o motor está a confortáveis 3.000 rpm. A velocidade máxima é de 177 km/h com gasolina ou 179 km/h com álcool, e a aceleração 0-100 km/h, 12 e 11,1 segundos, respectivamente. O consumo médio que obtive nesse trajeto foi de 9,2 km/l com gasolina, em linha com o do Inmetro. Considerando o trânsito pesado que peguei e as diversas acelerações intensas a que submeti o Captur, fiquei surpreso.
Para melhorar o consumo o Captur traz em todas as versões o sistema Energy Smart Management, ou gerenciamento inteligente de energia. Durante acelerações, o alternador é desligado para não carregar o motor desde que a bateria esteja com carga acima de 80%. E durante a desacelerações, quando se retira o pé do acelerador o alternador automaticamente passa a recuperar energia e enviá-la para a bateria, que aumenta sua carga sem consumo de combustível.
Há ainda a função Eco, com botão escondido sob a alavanca do freio de estacionamento, que otimiza pedal do acelerador e ar-condicionado para redução de consumo. Quando já se anda muito tranquilamente essa função é imperceptível. Há ainda uma luz grande no painel que fica verde enquanto estamos nos comportando e assim que começamos a sair da linha fica mais amarelada até atingir um laranja forte caso você não se comporte.
O tradicional eixo de torção atrás e McPherson na frente foram ajustados para uma excelente combinação conforto-desempenho. Como o Captur é um carro alto (1.619 mm), era de se esperar um comportamento menos confortável proveniente de uma suspensão mais rígida para conter mais os movimentos. No entanto, em curvas leves do percurso e dirigindo comportadamente, me senti muito confiante. Em forçadas de barra em velocidades mais alta a confiança foi igual. E isso sem perder o conforto. A Renault sabiamente optou por pneus de perfil 60 (215/60R17). E também decidiu equipar todas as versões com o ESP e quatro bolsas infláveis. Em buracos também me surpreendi positivamente tanto pelo comportamento quanto pelo isolamento de ruídos.
O conforto a bordo se completa pelos bancos dianteiros com apoios laterais que nos acomodam muito bem e o grande espaço interno com grande área envidraçada, que proporciona claridade e uma boa sensação. O tempo todo eu imaginei que minha família estaria contente ali comigo. Minha filha apenas reclamaria da falta de uma entrada USB ou tomada para carregar o celular no banco de trás. E eu reclamaria de ficar com o fio do carregador dela passando ali no meio dos bancos dianteiros.
E como é difícil agradar! A versão Zen, com motor 1,6, tem caixa manual de cinco marchas. Vários pediram uma CVT ali! Já está a caminho e chega dentro de alguns meses.
O motor SCe cumpre bem o seu papel no Captur para uso mais urbano e até em viagens curtas. Eu tenho a impressão que os motoristas estão se habituando a andar cada vez mais com tranquilidade, ainda mais em suves. Isso em São Paulo. Talvez em outras regiões mais arejadas isso não seja verdade e o 2-litros seja mandatório.
Mas não se deixe enganar por números apenas. Eu tive também uma boa impressão dessa versão. A caixa mais curta, com 120 km/h em quinta a 3.500 rpm, foi uma escolha para deixá-lo mais à mão e disposto. Se você faz viagens longas, de mais de duas horas e com muita frequência, vai desejar a versão Intense. Se viaja ocasionalmente e gosta de cambiar, como eu, vai se deleitar com a Zen. Esse “motorzinho” quando requisitado é bem esperto. Mais do que aceita, ele se diverte acima de 4.000 rpm. E isso associado a um conjunto de alavanca mais trambulador muito bem-resolvidos e a uma embreagem levíssima, tornam a diversão mais gostosa.
Fiz exatamente o mesmo percurso, mas desta vez com álcool, e obtive 7,5 km/l, também em linha com o do Inmetro. Com a caixa manual e pesando 69 kg a menos que a versão Intense, a aceleração 0-100 com o motor 1,6 e com álcool é atingida em 11,9 s. Até levemente mais baixa que na versão 2-litros com gasolina. Daí dá para se ter uma ideia do seu comportamento. Obviamente com carro cheio tudo muda de figura. Mas quem quiser muito um suve e estiver com orçamento apertado pode partir para o Captur Zen.
Claro que existem muito concorrentes no segmento. Muitos deles com conjuntos motrizes mais desejados. E possivelmente com outras deficiências. Embora haja subjetividade na interpretação do desenho, acho difícil negar que o Captur tenha um estilo diferente e muito atraente. Junte-se a isso o espaço interno excelente e o conforto a bordo e de rodagem dignos de destaque e temos um conjunto que pode atrair muitos consumidores. Principalmente aqueles que não se deixam levar apenas por números.
E vamos aguardar um “no uso” para explorarmos mais outras condições de uso.
Para ficha técnica e fotos adicionais consulte a matéria anterior aqui: Lançamento Renault Captur.
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PK