Acho que todo o jovem apaixonado por carros deve contar nos dedos o dia de completar 18 anos, tirar a CNH, arrumar um carro e sair por aí sem destino, mundo afora. Bem, pelo menos comigo foi assim.
Eu, aficionado por carros desde cedo, no alto dos meus 6 ou 7 anos acordava todos os dias cedinho para funcionar o Brasília 1978 verde Mantiqueira de meu pai antes de ele ir trabalhar.
Aos 10 anos, de tanto “aporrinhar” meu pai para me deixar dirigi-lo, ele deixou, me deu a missão de, em linha reta, colocá-lo na garagem… Bem, o resultado não foi dos melhores…
Aos 12 anos, meu pai a essa altura possuía um Voyage LS 1981 e o velho me deixou dar algumas voltas (ao seu lado) com o Voyaginho… Quer saber? Mandei muito bem, a ponto de ele me indagar se eu estava treinando com algum amigo às escondidas. Eu era bom observador, ficava reparando em cada detalhe dele dirigindo, e não só ele, mas outros motoristas também.
Desde então nunca mais parei de dirigir, e a ansiedade para chegar aos 18 anos só aumentava.
Nesse meio tempo, a saúde financeira da família não estava lá essas coisas, logo percebi que se eu quisesse um carro teria que batalhar por ele, e assim foi. Ia ter que me virar se quisesse um carro.
Nessa época, eu já frequentava o curso de Técnico em Mecânica na ETE Getúlio Vargas, queria estagiar o quanto antes para evitar a concorrência dos meus amigos de classe e para começar a juntar dinheiro o mais rapidamente possível para comprar o tão sonhado carro.
Então, no meio do terceiro ano, consegui um bom estágio, me mudei (na marra) para a turma da noite e comecei a estagiar, seis meses antes da fase obrigatória de estágio. Ok, primeiro objetivo alcançado, agora tinha que definir o carro: VW Gol CL AE 1600, 1992. Explico o porquê desse modelo: em 1992, a VW disponibilizou uma versão do CL AE 1600 com acabamentos e forrações laterais iguais aos do GL, volante do GL, relógio analógico, ombreiras, entre outros opcionais, sem contar que o AE 1600 era econômico, muito bom de andar, tinha potência abundante em baixos e médios regimes e suavidade de funcionamento ímpar, isso tudo por um preço bem em conta devido ao preconceito que os veículos da linha BX com motor AE sofriam (um carro desse em 1997 custava cerca de R$ 5.500).
A poupancinha já tinha alguns trocados e a essa altura do campeonato eu já era habilitado, mas meu pai não me emprestava o carro (segundo ele, eu não tinha dinheiro para arcar com um possível prejuízo), e a ansiedade, que já era grande, se tornara quase insuportável.
Resolvi recuar e procurar carros ainda mais baratos. Vi um lindo Opala 2500, 4 portas, 1972, câmbio de três marchas “em cima”, em excelente estado de conservação. Era de um conhecido, custava R$ 2.000. Meu pai me chamou de maluco! Olhava Passat, o velho dizia que não cabia na garagem (o que de fato era verdade), olhava Monza e Santana, idem e ainda consumia muito, vi um lindíssimo Gol GT 1986 vermelho a um preço bem justo, era de um senhor. Mas faltava o vil metal. Esse até meu pai se empolgou e disse que me emprestava o que faltasse, mas eu não queria dívidas logo de cara e recuei.
Até que um belo domingo de sol fui com meu amigo Gleison à Feira do Anhembi, vi vários carros mas nenhum me chamou muito a atenção. Até que, já quase indo embora, vi um belo Gol LS 1985, primeira safra do AP 1600 nos Gol. Era monocromático, bege metálico e estava bom o carro, apenas um defeito no verniz da porta do motorista e… era levemente preparado. Nunca gostei (até hoje) de comprar carro preparado, sempre preferi montar, mas o carrinho era bonito, alinhado. Cheguei a ir embora, mas por insistência do Gleison voltei, olhei o carro com mais calma e acabei fechando negócio!
Meu pai, ao ver o carro, torceu o nariz. Escapamento esportivo, mecânica preparada, e para piorar, chegando em casa, o cabo da embreagem quebrou. Ele foi querer pôr o carro na garagem e bateu na parede, quebrou a polaina dianteira esquerda! (rsrsrs). Dou risada agora, porque no dia…
Enfim, negócio feito, vamos curtir! Aquele AP 1600 andava muito! Preparação básica, andava taxado para gasolina (chuto uns 10,0:1 de taxa), carburador 2E7 Brosol, comando 49G (268 graus), Escape de 2,5″ e cabeçote preparado, tudo isso feito na extinta Race Force.
E como era alegre esse motor, girava liso e fácil (AP 1600 = r/l excepcional), daí o motivo de eu ser até hoje fã incondicional do AP 1600.
Uma vez, em um belo ato de molecagem no alto dos meus 19 anos, me vi em um pega com um rapidíssimo e novo Corsa GSi, e não é que o valente Golzinho fez o quilômetro, para-choque a para-choque com o Corsinha? Nem eu e nem o motorista do Corsa acreditávamos no que estava acontecendo, era valente o carrinho!
Enfim, fiquei um ano e meio com o carro, aproveitei-o intensamente e o vendi, pois a essa altura eu já havia virado funcionário da Companhia Metalúrgica Prada, fabricante de embalagens metálicas, e ganhava bem mais. Substitui-o por um bem mais novo Gol GLi 1800 1996 com 23.000 km (que andava bem menos, diga-se de passagem), mas nunca me esqueci do Golzinho.
No ano passado fiz uma busca com um amigo cuja esposa é despachante para localizar o carro e de repente tentar recomprá-lo, mas infelizmente deram baixa no mesmo.
E vocês? Qual a história de vocês? Conte também aqui a história do seu primeiro carro!
LG
São Paulo – SP