O Land Rover Range Rover Evoque HSE Si4 Dynamic mostrou competência durante sete dias em que ficou nas mãos do AE.
A história da britânica Land Rover sempre foi regada de veículos com notória capacidade off-road desde o nascimento da marca em 1948, quando seu fundador, o inglês Maurice Wilks, então diretor de projetos da Rover, construiu em sua fazenda um protótipo especial sobre o chassi modificado de um utilitário 4×4 e mostrou ao mundo, no Salão de Earls Court de 1948, em Londres, o primeiro na terra da rainha após a Segunda Guerra Mundial, que os ingleses também sabiam fazer jipes. Este marco perdura até os dias de hoje, e o Range Rover Evoque faz parte da família como um ponto curioso.
Apresentado ao mercado em 2011, o Ranger Rover Evoque é a versão de produção do veículo-conceito chamado LRX. Este era um híbrido em paralelo com tecnologias focadas em redução de peso com uso de materiais nobres e no sistema de tração integral com propulsão elétrica nas rodas traseiras. Além de ser menor que os demais Range Rovers, seria mais acessível. A carroceria com formas volumosas e perfil marcante, linha de cintura alta e caída do teto bem acentuada, foi um sucesso na sua apresentação no Salão de Detroit de 2008. Externamente, muito pouco foi alterado do desenho do LRX para o modelo de produção e é um dos primeiros pontos que chamam a atenção de quem se aproxima do Evoque.
O Evoque é o primeiro Land Rover produzido no Brasil, seguido do Discovery Sport, na nova fábrica Jaguar Land Rover em Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro, inaugurada em junho do ano passado. Ele está disponível em diversas versões de acabamento, com quatro portas e teto rígido ou com duas e portas e conversível, com opção de motor Diesel ou a gasolina. O “nosso” Evoque é a versão HSE Dynamic com motor Si4 a gasolina, uma das mais completas da linha.
Sendo um modelo de luxo para nosso mercado, o Evoque já oferece uma experiência diferenciada mesmo antes de se entrar nele. Ao destrancar o carro pela chave-controle remoto, os espelhos externos, que ficam recolhidos enquanto o carro está fechado, retornam à posição de uso e uma luz de cortesia ilumina o chão em frente às portas dianteiras, em um formato circular com o desenho da silhueta do Evoque ao centro, como o famoso sinal de luz que convoca o Batman no antigo seriado de TV. Requinte bobo, mas que agrada. As portas também podem ser abertas ou fechadas sem manusear a chave, apenas pela sua presença próxima ao carro e o toque em qualquer uma das quatro maçanetas.
O interior é muito bem acabado, todo em couro e com detalhes em alumínio. Os bancos dianteiros possuem ajuste elétrico e três memórias de posição. O do motorista recua sozinho para facilitar a entrada e saída da cabine.
Achar uma boa posição de dirigir é fácil com todos estes ajustes do banco e com o volante de direção ajustável em altura e distância, com bom curso. Há bom espaço para os ocupantes dianteiros e também para os traseiros. Não é tão espaçoso como um Range Rover Vogue por conta do tamanho um pouco menor, mas é fácil acomodar três pessoas no banco de trás.
A partida no motor é dada por um botão no painel central, ao lado esquerdo da tela da central multimídia. É um pouco escondido pelo aro do volante, dependendo da posição do motorista, mas logo se acostuma e é facilmente encontrado sem precisar procurar muito com os dedos.
Para iniciar a experiência de dirigir o Evoque, seleciona-se a posição do seletor de marchas circular, como o de mostrador de rádio (herança da Jaguar), para a posição D (Drive) ou S (Sport). O freio de estacionamento elétrico é automaticamente liberado quando D ou S são selecionados e o acelerador pressionado, bem como acionado quando o seletor vai para a posição P (Park). O câmbio é automático em todos os modelos e tem nove marchas, fabricado pela ZF (modelo 9HP48).
Bem casado com o câmbio, o motor trabalha de forma robusta e determinada. O Si4 é um moderno quatro-cilindros de 2 litros de bloco e cabeçote em alumínio, duplo comando de válvulas (corrente) com variador de fase em ambos, e é dotado de turbocompressor com interresfriador. Entrega 240 cv a 5.800 rpm e bons 34,7 m·kgf a 1.750 rpm. Tirar o Evoque da inércia com facilidade e boas retomadas estão garantidas, mesmo com seus 1.655 kg em ordem de marcha.
Este motor é bem suave, livre de qualquer vibração que possa perturbar os passageiros. A resposta é rápida, quase não há turbo lag. Em 7,6 segundos chega-se aos 100 km/h partindo do zero, com um ronco pouco abafado pelo turbo em alta rotação.
A v/1000 em nona marcha é de nada menos que 78,5 km/h, o que a 120 km/h reais deixa o motor a apenas 1.530 rpm. Sexta, sétima e oitava também são longas. Para se ter uma ideia de grandeza, a v/1000 em quinta é 37,7 km/h (3.180 rpm a 120 km/h).
Dirigindo o Evoque na cidade, que de fora parece enorme, ele fica mais suave ao volante e parece que ocupa menos espaço no trânsito. A direção leve ajuda na sensação de agilidade do carro. A potência elevada já em baixas rotações ajuda bastante no bom desempenho, e as nove marchas bem escalonadas garantem que se esteja sempre está na faixa certa de trabalho do motor, tanto para andar economizando combustível quanto para andar mais rápido — de preferência no modo Sport, quando o motor trabalha com rotações mais elevadas e segura mais as trocas de marcha.
Os pneus 245/45R20 (opcional) sofrem um pouco nos buracos de São Paulo, é bom ter cuidado para não amassar uma roda.
Na estrada e com o controle de velocidade de cruzeiro acionado, viaja-se tranquilo. Se for uma estrada com mais curvas, a opção Sport é divertida de se usar. Há opção de trocar de marchas manualmente pelas borboletas atrás do volante, mas nas reduções menos elegantes como quando ao passar duas marchas para baixo de uma vez, há uma pequena demora para o total engate, que deixa o carro solto por um curto período.
De modo geral, o modo automático é mais agradável de se usar. A velocidade máxima é de 217 km/h, segundo a JLR. Viajar à noite não é problema, os faróis bixenônio iluminam muito bem.
Falando em estradas com mais curvas, o Evoque surpreende. A suspensão independente nas quatro rodas (geometria McPherson) com amortecedores controlados eletronicamente que variam a carga por meio de pulsos magnéticos trabalha junto com sistema de tração nas quatro rodas sob demanda. E o que isso quer dizer? Que a suspensão se autorregula conforme a necessidade de ser mais ou menos firme e a tração chega às rodas traseiras conforme necessidade.
O controle de estabilidade e tração conta com vetorização de torque que ajuda a fazer curvas de forma mais equilibrada e com melhor controle.
Quando o Evoque entra numa curva mais fechada e mais rápido do que deveria, sente-se claramente os sistemas trabalhando para trazer o carro de volta à trajetória desejada, como uma pequena ajuda invisível. Nesta hora, os largos pneus de 245 mm de seção transversal são amigos desejáveis. O Evoque passa a sensação de estar sempre na mão do motorista, abusando ou não nas curvas. Não chega a ser nenhum esportivo, é claro, mas pouco parece que estamos a bordo de um suve encorpado.
O sistema de tração integral automaticamente seleciona se o carro traciona as quatro rodas (4WD – 4 wheel drive) ou apenas as rodas dianteiras (2WD), dependendo da condição de uso. Em velocidade constante, apenas as rodas dianteiras estão tracionando e todo o resto do conjunto não atua, para economizar combustível. Quando necessário, em frenagens e acelerações maiores, o sistema engata a tração nas quatro rodas em questão de fração de segundo, que não é percebida pelos ocupantes, tamanha a suavidade do sistema. Este é o Active Driveline (transmissão ativa) do Range Rover, que controla a caixa de transferência e os diferenciais para efetuar tal distribuição de torque. É possível monitorar pela tela multifuncional como o Active Driveline está atuando, se está no modo 4×2 ou 4×4, e qual roda está recebendo mais ou menos torque.
Junto com o Active Driveline, o Evoque possui um sistema chamado Terrain Response de modos de operação que o motorista seleciona em função do terreno. As quatro opções são: Normal, Areia, Lama e Grama/Cascalho/Neve. De acordo com o modo, a suspensão, motor, transmissão e diferenciais são calibrados para a melhor condição para conduzir. Em um uso extremo, estes modos podem ser selecionados e o motorista sente a diferença, mas em trechos menos radicais o modo Normal já é bom o suficiente.
Sabe-se que a grande maioria dos compradores deste carro no nosso mercado nunca irão usar estes recursos, talvez nem rodar fora de estrada, mas está disponível e cumpre bem a função. Afinal, é um Land Rover.
Para quem curte andar fora da estrada, um recurso bem interessante é o Hill Descent Control (HDC – controle de descida), que uma vez regulada a velocidade (até 18 km/h), o carro a mantém ao longo de uma descida mesmo bem íngreme, aplicando o freio seletivamente em cada roda para manter a trajetória. Um botão no painel aciona o sistema e a velocidade é regulada pelas teclas do controle de velocidade de cruzeiro. O carro não dá trancos e não oscila a velocidade, segue bem controlado. O freios são bem eficientes, com discos dianteiros ventilados de Ø 325 mm e os traseiros de Ø 317 mm, e com boa sensação no pedal.
O consumo de combustível na cidade e com ar condicionado ligado é um pouco elevado, variando entre 7 e 8 km/l, mesmo com o sistema de Start/Stop que desliga o motor quando o carro está parado no trânsito. Na estrada melhora, com velocidade constante 90~100 km/h chegou a 14,6 km/l. No período total que fiquei com o Evoque, a média foi de 8,1 km/l em um percurso praticamente 50-50% cidade e estrada. O tanque de combustível é de 68,5 litros, o que proporciona boa autonomia. A exigência de octanagem do motor é 95 RON, ou seja, funciona com a gasolina brasileira comum.
Como referência, o consumo Inmetro/PBVE é 8 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada.
Para viajar, fazer compras no mercado ou só carregar objetos maiores, o porta-malas do Evoque é espaçoso e comporta 575 litros, e pode aumentar para 1.445 litros com os bancos traseiros rebatidos. A abertura e fechamento do porta-malas é motorizada e pode ser acionada diretamente na porta, por um botão no painel ou pela chave, o que é ótimo, pois facilita muito quando se está cheio de coisas nas mãos. Viaja-se sem nenhum problema de espaço para carregar toda a bagagem.
A vida a bordo do Evoque é muito agradável. O teto panorâmico de vidro, quando aberto, ilumina bem o interior do carro, mas é mais legal para quem vai no banco traseiro, pois a linha de abertura é praticamente em cima do motorista, que quase não o vê. A qualidade dos materiais é excelente, a sensação ao toque e os comandos como seta e botões do ar-condicionado bizona mostram que este é um carro de qualidade refinada.
Diversos recursos estão disponíveis na central multimídia, como conexão com celular, o GPS que trabalha integrado com o HUD (head-up display) que projeta no para-brisa a velocidade do carro, marcha selecionada e as indicações de direção do mapa, com as flechinhas que apontam a direção a seguir no mapa. Há um modo informativo chamado Eco que avalia sua direção e dá nota, em função da economia de combustível, e até registra um histórico das últimas medições.
Câmera de ré com sensores de estacionamento 360° ajudam bastante na manobra, e faz o Evoque entrar nas menores vagas sem sofrimento. Na verdade a câmera de ré ajuda bastante, pois a visão pelo pequeno vidro traseiro é limitada, em função da linha de cintura alta e a caída do teto acentuada. Infelizmente o “nosso” Evoque não tinha a opção de câmeras de vídeo 360°.
É curioso ver que mesmo com toda a tecnologia “mecânica” do Evoque, com sofisticados sistemas de tração, suspensão e motorização, ou seja, o que traz a verdadeira sensação e prazer de dirigir, ainda nos divertimos com os mimos da central multimídia. Também é possível controlar diversas funções pelo celular com o aplicativo InControl.
Acho que agora começo a entender o que dizem que o futuro está na conectividade e no entretenimento a bordo. O Evoque traz isso, porém, como um adicional e não como substituto à experiência de dirigir. Ele ainda cativa mais pela dinâmica e dirigibilidade, pelo puro prazer de dirigir, que no fundo, é o que interessa.
O HSE Dynamic com motor Si4 custa hoje R$ 252.900 (preço base). Há diversos opcionais como o pacote Black Design Package, que traz as rodas, teto e grades pintadas de preto. Não é um carro barato, mas entrega muito para seus ocupantes, e duvido que outros que são até três vezes mais caros sejam três vezes melhor. Maurice Wilks ficaria orgulhoso deste Land Rover.
MB
FICHA TÉCNICA LAND ROVER RANGE ROVER EVOQUE HSE Si4 DYNAMIC | |
MOTOR | |
Designação | 2.0L Si4 |
Descrição | L-4, 4 válvulas por cilindro, duplo comando com variador de fase na admissão e escapamento, acionamento por corrente, indução forçada por turbocompressor com interresfriador, transversal, gasolina comum |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio |
Cilindrada (cm³) | 1.999 |
Diâmetro e curso (mm) | 87,5 x 83,1 |
Taxa de compressão (:1) | 10 |
Potência máxima (cv/rpm) | 240/5.800 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 34,7/1.750 |
Rotação de corte | n.d. |
Formação de mistura | Injeção direta |
TRANSMISSÃO | |
Tipo | Transeixo automático epicíclico ZF 9HP48 de 9 marchas à frente e uma à ré |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,713; 2ª 2,842; 3ª 1,909; 4ª 1,382; 5ª 1,000 (direta); 6ª 0,808; 7ª 0,699; 8ª 0,580; 9ª 0,48; ré 3,830 |
Relação dos diferenciais (:1) | 4,54 |
Relação do conversor de torque (:1) | n.d. |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora; subchassi |
Traseira | Independente, McPherson, braço transversal e longitudinal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora; subchassi |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Relação de direção | n.d. |
Voltas entre batentes | 2,3 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 11,3 |
FREIOS | |
Dianteiros (Ø mm) | A disco ventilado/325 |
Traseiros (Ø mm) | A disco/317 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 8Jx20 |
Pneus | 245/45R20 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, suve, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.370 |
Largura sem/com espelhos | 1.985/2.090 |
Altura | 1.635 |
Distância entre eixos | 2.660 |
Bitola dianteira/traseira | 1.621/1.629 |
Distância mínima do solo | 212 |
CARACTERÍSTICAS OFF-ROAD | |
Ângulo de entrada (º) | 25 |
Ângulo de saída (º) | 33 |
Ângulo de rampa (º) | 22 |
Profundidade de vau (mm) | 500 |
CAPACIDADES E PESOS | |
Porta-malas (L) | 575, 1.445 com banco traseiro rebatido |
Tanque de combustível (L) | 68,5 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.655 |
Carga útil (kg) | 685 |
DESEMPENHO (EUA) | |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 7,6 |
Velocidade máxima (km/h) | 217 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBVE | |
Cidade (km/l) | 8 |
Estrada (km/l) | 11,3 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 em 9ª (km/h) | 78,5 |
Rotação a 120 km/h em 9ª (rpm) | 1.530 |
Rotação à veloc. máxima em 5ª (rpm) | 5.755 |