A recente greve dos caminhoneiros levou o desastrado governo federal a adotar a Lei de Robin Hood …ao contrário.
O desgoverno Temer reduziu — na marra e à custa de sacrificar verbas essenciais para a sociedade — o custo do óleo diesel na bomba. Uma conta a ser paga com mais filas nos hospitais e buracos nas estradas, menos escolas para crianças e policiais nas ruas.
Mas são vários os reflexos negativos das medidas: ao baixar o preço do diesel enquanto as bombas registravam um aumento da gasolina/álcool, privilegiou meia dúzia de milionários e aumentou a despesa de combustível dos menos afortunados financeiramente. Como assim?
O diesel já tinha sua tributação reduzida para custar menos no posto, barateando o transporte de cargas e passageiros. Mas seu uso era limitado aos veículos pesados (caminhões e ônibus) e agrícolas. Entre estes, o jipe. Que, para se enquadrar nesta categoria, deve contar com tração nas quatro rodas e sistema mecânico de redução.
Utilitário esportivo, em geral, tem tração nas quatro marchas, mas não oferece a reduzida. Mas, daí para o “dá-se um jeitinho” bem ao estilo brasileiro foi um pulo só. E a Mercedes-Benz foi ao Denatran para homologar seu ML 320 CDI. Um SUV a diesel, com tração integral, mas sem a reduzida. E “provou”, sabe-se lá com que “argumentos”, que a eletrônica desenvolveu de tal forma os sistemas de controle de tração que já se obtinham os mesmos resultados práticos que a reduzida. Basta um conhecimento mínimo de mecânica para se ter certeza do contrário: a informática pode até resolver melhor que a mecânica a dirigibilidade de um carro no barro, mas jamais substituirá a redução mecânica exigida pela lei. Que pode ser obsoleta e deveria ser atualizada para refletir a evolução tecnológica que torna operacional um carro no barro. Mas continua vigindo, mesmo obsoleta, como centenas de outras no país.
O órgão de trânsito caiu na conversa mole da Mercedes, por incompetência, e o SUV foi homologado como jipe, mesmo sem cumprir a lei. Para alegria de todas as marcas com utilitários esportivos a diesel em seu portfolio. Seu custo inicial é mais elevado, porém o quilômetro rodado é mais barato pelo menor custo do diesel em relação à gasolina e porque seu motor é mais eficiente e roda mais quilômetros com um litro de combustível. E daí um festival de importações destes carros que perdura até hoje. Há quem defenda a decisão, argumentando ser a lei obsoleta e que não reflete os avanços tecnológicos da indústria. Então, dizem outros, que se mude a lei…
No frigir dos ovos, uma decisão que reforça a distância entre rico e pobre: enquanto o primeiro vai para o sítio no domingo consumindo diesel mais barato e subsidiado em seu chique utilitário esportivo BMW de centenas de milhares de reais, o remediado vai para a feira hippie com seu Brasilia Muito Velho (BMV) pagando cada vez mais pela gasolina. E pior: ela já contem um percentual de álcool de 27%, que aumenta o consumo do motor pois o derivado da cana tem poder calorífico – por litro – menor que o dos derivados do petróleo. A rigor, quem abastece com gasolina está sendo trapaceado pois leva 27% de um combustível com poder calorífico inferior.
Não satisfeito, o desgoverno ainda afrontou a lei da oferta e demanda, estabelecendo preços mínimos de fretes. Política que já deu suficientes mostras de não se viabilizar em nenhum lugar do mundo, muito menos no Brasil. Remete à antiga Sunab, órgão do governo nas décadas de 80 e 90 que tentava inutilmente limitar preços das mercadorias. Evidente que vai encarecer o arroz e feijão, prejudicando — mais uma vez — o pobre. Exatamente o que mais sofre quando encarecem os produtos.
A rigor, a greve dos caminhoneiros foi um perde-perde com prejuízo para todas as partes. Mas as decisões do governo prejudicaram especialmente a classe econômica mais baixa, numa verdadeira lei de Robin Hood ao contrário.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de total responsabilidade do seu autor e não reflete necessariamente a opinião do AUTOentusiastas.