Um Fusca brasileiro 1968 está a caminho da Rússia para conferir a Copa de 2018. É a ampliação do alcance da Expedição Fuscamérica, agora na Rússia e em mais sete países europeus.
O Fusca ano 1968, fabricado em São Bernardo do Campo, já cruzou sete países da América do Sul desde 2012 — decorrência da opção de vida de Nauro Júnior, filósofo, jornalista, fotógrafo e professor que decidiu dar seu grito de liberdade e sair pelo mundo a bordo de seu “Fuqui”.
Agora o destino do Segundinho, como o carro foi apelidado, é um pouco mais ousado: a Copa do Mundo de Futebol na Rússia. E a bordo do carro mais popular do mundo, os gaúchos de Pelotas Nauro Júnior e Caio Passos querem mostrar “o lado B” de um dos maiores eventos esportivos do mundo.
Segundo o Nauro, “Fusca e futebol têm a mesma essência, são do povo, e isso faz com que a nossa aproximação com as pessoas seja facilitada”.
A ideia é rodar cerca de 20 mil quilômetros entre os meses de junho e julho, acompanhando os bastidores dos jogos. “Queremos mostrar o lado B da Copa, os torcedores de todos os cantos, a mistura de idiomas, e os bastidores que as transmissões internacionais não mostram”. diz Nauro.
Nenhum dos dois fusconautas fala russo, um fala espanhol, outro “se vira” em inglês, e o resto é a coragem de enfrentar as adversidades, baseados na comunicação interpessoal através de gestos e símbolos. Eles acreditam numa linguagem mundial que é a simplicidade e creem no fato de que o Fusca, com seu forte valor afetivo, possa ajudar até nisto. Certamente os tradutores eletrônicos e aplicativos de smartphone vão fazer a sua parte.
Caio Passos é o copiloto oficial da Expedição Fuscamérica e forma um time bem entrosado com o Nauro Júnior, que foi o idealizador desta arrojada aventura. Certamente chimarrão é que não vai faltar para estes intrépidos viajantes gaúchos ao percorrerem as longas estradas russas.
Numa interessante e longa conversa por telefone com o Nauro, na noitinha do dia 23/05/2018, deu para perceber que a vida dele está ligada a Fuscas desde os seus três anos, quando seu pai comprou o primeiro carro — um Fusca, que era o único carro da localidade onde moravam. O Fusca virou o carro de todos, levava mulheres grávidas para dar à luz, doentes para o hospital, pessoas para passear…
No dia 14 de maio último o Nauro, enquanto garimpava seus arquivos, encontrou esta foto do primeiro Fusca da sua vida. É do Fusca azul 1964, de placas BM-4567, que seu pai comprou e no qual ele chegou a pensar em ir à Argentina para assistir a Copa do Mundo de 1978.
O menino também gostava de futebol e na Copa de 1978, na Argentina, pediu ao pai que o levasse de Fusca a Buenos Aires para assistir a um jogo da Copa. E quando seu pai disse que seria impossível fazer a viagem em tempo com o Fusca deles, além da primeira desilusão com seu ídolo que era seu pai, o menino desenvolveu a vontade de desafiar o impossível, coisa que vige até hoje e que certamente deve ter influenciado na decisão de enfrentar esta aventura na Rússia.
O carro já foi embarcado para São Petersburgo no dia 19 de abril no Porto de Rio Grande, no navio especializado no transporte de veículos, tipo RoRo, o Torrens, dos armadores noruegueses Wallenius Wilhelmsen, com chegada “prevista para por volta do dia 12 de junho”. O Nauro já estará lá, já que embarca de avião para São Petersburgo no dia 10 de junho. O Caio, que atualmente mora em Portugal, vai completar o time em São Petersburgo. Veja um breve vídeo com cenas deste embarque:
Eles não têm entradas para os jogos, mas esperam que o Fusca “também abra os portões dos estádios” para eles. Numa iniciativa bem-humorada, eles levam na mala uma carta assinada pela mãe do Tite, Dona Ivone Bachi, uma “Procuração Futebolística”, dando a eles a responsabilidade de cuidar do filho famoso. Eles esperam poder entregar esta carta ao Tite. Para ajudar nisto eles contam com a TV russa que já esteve filmando com eles no Rio Grande do Sul e estará esperando por eles em São Petersburgo. Até agora a cobertura de imprensa desta aventura já abrangeu, no mínimo, quinze países.
O roteiro da viagem está em estágio de previsão e as rotas que serão efetivamente percorridas serão definidas em conformidade com as condições que eles encontrarem por lá; a estimativa é que eles irão percorrer uns 20.000 quilômetros em solo russo.
Eis uma reportagem do SBT Brasil, do fim de abril falando sobre o embarque do Segundinho e sobre a expedição como um todo:
Terminada a Copa o Nauro e o Caio irão até Riga, capital da Letônia; de lá o Caio voltará para Portugal. Em Riga o Nauro encontrará a sua filha Sofia e sua esposa Gabriela, e os três partirão para um tour por sete países da Europa. E no dia 15 de agosto o Segundinho estará embarcando na cidade espanhola de Santander de volta para o Brasil.
A Expedição Fuscamérica, que percorreu, como já dissemos, sete países da América do Sul, passou por toda a extensão da maior praia do mundo, atravessou a fronteira para o Uruguai, subiu as cordilheiras chilenas, deu voltas pela Argentina, chegou até Machu Picchu, cruzou a Bolívia, conheceu o Paraguai, e foi até parar no continente mais gelado do mundo (no caso o Nauro Júnior foi de avião até a estação brasileira na Antártida, sem o carro, e voltou de navio). Tudo isto sem contar por inúmeras incursões no território nacional. Abaixo estão algumas fotos destes feitos, que foram base para a ideia de desbravar a Rússia durante a Copa do Mundo de 2018, aproveitando toda a experiência de estrada colhida até agora.
Esta é realmente uma aventura bastante arrojada e eu desejo aos intrépidos fusconautas muito sucesso nesta empreitada. Que os russos os adotem, que o Segundinho vença as grandes distâncias nas difíceis estradas russas, e que acabe sendo possível ver os jogos da Copa e que se dê um jeito na atual falta de ingressos.
Vamos aguardar os relatos e a volta deles para ouvir as histórias que certamente eles terão para contar. Quem sabe eles trarão a Copa do Mundo a bordo deste Fusca 1968?
Na terceira matéria relativa à Copa do Mundo de Futebol vamos tratar de como um Fusca foi acabar tatuado no braço direito de um grande craque de futebol brasileiro, na verdade uma linda história de amor e gratidão.
AG
Créditos & Notas
(1) – Material de autoria do Nauro Júnior
Novamente as informações chegaram até mim através das mídias sociais – aplicativo WhatsApp, neste caso foi o Roberto Suga, presidente da FBVA (em fim do segundo mandato) que me enviou a foto da reportagem sobre a Expedição Fuscamérica na Copa do Mundo da Rússia publicada na página 28 da revista Sobre Rodas. Eu só soube da publicação tempos depois, quando o Nauro me enviou um clipping das matérias sobre a expedição.
Como a resolução estava baixa, pedi ao Suga que me enviasse uma foto melhor. A resposta foi: “Fale como o Diogo Boos, pois foi ele que me enviou este post”. Entrei em contato com o Diogo que me passou o contato do Nauro. Aí eu entrei em contato com o Nauro e desenrolei a história toda, disto resultando esta matéria. Meus agradecimentos ao Roberto Suga e ao Diogo Boos.
Um agradecimento especial vai para o Nauro Júnior que, apesar de estar “se virando mais do que bolacha em boca de velha” (citação gauchesca que quer dizer muito ocupado com coisas difíceis) dedicou tempo e atenção às minhas perguntas e a nosso telefonema que durou praticamente quarenta minutos. Reitero meus votos de sucesso na Rússia e no tour pela Europa. Vou acompanhar o que eles vão postar na página da Expedição Fuscamérica no Facebook.
Completam esta trilogia as seguintes matérias:
Fuscas e Kombis em Copas do Mundo de Futebol
Fusca tatuado no braço de jogador da seleção brasileira