Há alguns anos eu fiz contato com o Reinaldo Pedreiro, aliás “RollerBuggy” — como ele prefere ser chamado — e ele me enviou algumas matérias ligadas ao bugue para o projeto do Livro 3, que ainda está em “gestação latente”, aguardando que a leitura de eBooks seja mais popular no Brasil.
Estou iniciando a publicação das matérias do “RollerBuggy”, aqui na coluna “Falando de Fusca & Afins”, com uma história de “suspense ecológico” que envolve um bugue e um macaco bugio. Vamos conferir este relato.
Chamo a atenção do leitor ou leitora para o fato de que apesar de o Reinaldo Pedreiro usar a grafia Buggy, no AE, por norma editorial, é usada a forma aportuguesada e com inicial minúscula. Entretanto, mantive a grafia original no texto dele.
RESGATE DO MACACO
Por Reinaldo Pedreiro (“RollerBuggy”)
Saí num sábado de manhã para passear de buggy com a minha esposa e tivemos uma ocorrência inusitada.
Estávamos pela BR-116 Régis Bittencourt um pouco depois de Embu das Artes, SP, aí apareceu um macaco (bugio) já no meio da estrada. Estava a 90 km/h e o macaco vinha em direção ao carro, íamos pegá-lo em cheio, então desviei bruscamente (por reflexo), mas mesmo assim o macaco foi atingido pela lateral esquerda do buggy.
Parei o carro uns cinquenta metros à frente, desci e voltei correndo. O bicho estava estendido no meio da pista e os caminhões desviavam para não passar por cima dele! Quando cheguei perto já tinha um carro parado e uma senhora dizendo que ele ainda estava vivo. Aí fiz uma coisa que podia dar muito errado, mas foi instinto: entrei correndo no meio da pista sinalizando para os carros desviarem para esquerda, peguei o macaco e corri para o acostamento.
Já no acostamento e com o macaco nos braços, percebi que era um bugio adulto, saudável e respirava, apesar de desmaiado. Ele sangrava pela boca. Nem deu tempo de pensar muito, sai correndo com o macaco nos braços em direção ao buggy, onde minha esposa já esperava com o casaco dela para embrulhar o bicho. Feito isso seguimos em frente e paramos no primeiro posto para pedir ajuda e para que nos indicassem um veterinário em Embu das Artes que pudesse ajudar.
Fizemos o retorno e seguimos em direção ao veterinário que tinha sido indicado. Estava um trânsito enorme na entrada da cidade e liguei o pisca-alerta, os faróis e taquei a mão na buzina, seguindo pela contramão mesmo.
Chegou um ponto em que travou tudo e ninguém passava, aí minha esposa começou a fazer sinais e gritar que o macaco estava morrendo… (risos). Não sei se as pessoas entenderam o que estava acontecendo, mas todo mundo deu passagem pra gente. Só que no meio do caminho o macaco começou a acordar e se mexer; ele estava no chão nos pés da minha esposa embrulhado no casaco dela e eu disse para ela pular para o banco de trás, para não correr o risco de ele mordê-la, o que ela fez rapidamente!
O macaco acordou de vez e estava meio mole ainda, mas começou a segurar no freio de mão e na alavanca de câmbio enquanto eu dirigia, mas eu continuei assim mesmo. Finalmente parei na porta do veterinário e pedi socorro! A doutora veterinária veio rapidamente, mas disse que não podia atender por se tratar de animal silvestre e ela não tinha autorização do Ibama para isso, mas indicou outro veterinário próximo que atendia animais silvestres.
Mas, a essa altura, o macaco já tinha dominado o espaço e “grudou” na alavanca de câmbio e eu não conseguia tirá-lo dali para dirigir; a veterinária que estava lá tentou colocar-lhe uma focinheira para podermos retirá-lo sem correr o risco de sermos mordidos, mas não conseguiu. Aí ela trouxe um cabo de vassoura, colocou perto dele e nele ele se agarrou; conseguimos assim afastá-lo do câmbio para que eu pudesse dirigir.
E minha esposa, no banco de trás, só de olho no macaco. Assim seguimos rumo ao veterinário indicado, Dr. Philippe Giacobini. Chegamos lá e ele prontamente nos atendeu, socorrendo o macaco, que deu o maior trabalho para sair do buggy.
Assustado, ele se agarrava com as mãos, os pés e a cauda em cada canto do buggy para tentar impedir ser retirado, mas o doutor com luvas, eu e uma enfermeira soltamos os pés e a cauda que estavam “enroscadas” no carro, conseguimos tirá-lo do buggy e fazer o atendimento de emergência.
A boa notícia foi que o macaco não iria morrer (garantia do veterinário), mas quebrou o maxilar e alguns dentes. Depois de se restabelecer, o macaco seria levado para o Parque Ecológico do Tietê, pois, segundo explicação do veterinário, essa espécie vive em bando e ele não seria aceito em outro bando se solto na natureza, por isso irá para este parque para se “socializar” com outros macacos do lugar…
No final das contas a minha esposa perdeu um casaco e meu buggy ficou um pouco sujo de sangue…
Além de um arranhão na roda dianteira esquerda, provocado pelos dentes do macaco no impacto:
Não me importei com os prejuízos e não me arrependo de ter me arriscado na estrada para tentar salvar o macaco, nada vai pagar a sensação de alegria em vê-lo acordando e saber que ele não vai morrer por causa do acidente…
Graças a Deus e a pessoas como o veterinário, cujo endereço merece ser divulgado:
Dr. Philippe Giacobini
Médico Veterinário
CRMV-SP 2449
Rua Francisco Alves, 169 – Vila Carmem
Estância Turística de Embu das Artes, SP 06803-120
O Dr. Philippe, mesmo eu insistindo em ressarcir os gastos que ele teria com a recuperação do macaco, não aceitou nenhum tostão e disse que fazia esse tipo de socorro por satisfação pessoal. Esta nobre pessoa merece os parabéns!!!
Esse foi o meu passeio de sábado 3/5/2014.
Ainda temos mais causos do Reinaldo Pedreiro, que serão publicados oportunamente.
AG