O sistema foi criado e desenvolvido pela Bosch, lá pelo final dos anos 60. Foi utilizada massivamente no continente europeu, principalmente nos anos 80, pela Audi, BMW e Mercedes-Benz, entre outras. Nesse particular, estamos falando do robusto e confiável sistema Bosch LE-Jetronic, que veio substituir com sucesso os primeiros sistemas de injeção de combustível mecânicos.
Esses, uma parafernália sofisticada que tinha como principal elemento uma espécie de distribuidor que, em vez dos fios que enviam a corrente elétrica de alta tensão para as velas, possuíam tubos que canalizavam a gasolina para ser injetada no coletor de admissão. Claro, essa é uma descrição bem simplória da mecânica precisa e com alto grau de sofisticação que caracterizavam essas injeções.
Um dos grandes problemas desse sistema mecânico que começou a substituir os carburadores no final dos anos 60 nos carros europeus mais sofisticados, estava na dificuldade de manutenção: Pouquíssimos especialistas sabiam fazer a sua manutenção e a regulagem precisa do funcionamento dessa injeção nos modernos motores de então.
Nessa altura do tempo, a eletrônica já vinham caminhando a passos largos e começava a aprender funções que exigiam sistemas sofisticadíssimos para serem feitos mecanicamente. Nesse contexto, nasce a LE-Jetronic, em que seu módulo de comando poderia conter mapas que memorizavam inúmeras situações de funcionamento do motor, na qual corrigia eletricamente a quantidade de gasolina injetada no coletor de admissão, logo antes de cada uma das válvulas de entrada.
Um novo universo de informações poderia ser registrado nessa central, que a cada curtíssimo intervalo de tempo fazia a correção da gasolina que seria misturada com o ar e queimada naquele instante. Graças a esses recursos, os engenheiros da indústria automobilística aceleraram sobremaneira o desenvolvimento dos motores.
As potências, torques começaram a subir e, ao mesmo tempo, os consumos e as emissões de poluentes começaram a diminuir. Sem dúvida alguma, a indústria começou a colher ótimos resultados de eficiência e desempenho dos motores, graças principalmente ao novo sistema de injeção eletrônica, ainda analógico, auxiliado por um sistema de ignição Bosch EZ-K cada vez mais evoluído e com excelentes resultados na queima do combustível.
Esse sistema de ignição, já totalmente digital, tinha um grande aliado: o sensor de detonação. O tal sensor, um verdadeiro microfone colocado na parte superior do bloco do motor ou no cabeçote, “ ouvia” tudo o que acontecia dentro do motor e tinha a perspicácia de saber quando uma detonação se iniciava. Nesse caso, em poucos centésimos de segundo “avisava” a central que, por sua vez, corrigia o ponto de ignição daquele cilindro na qual se iniciava a detonação, uma combustão irregular e destrutiva para qualquer motor.
No ciclo seguinte adiantava o ponto e o sensor ficava de prontidão. Se não houvesse mais detonação, o ponto de ignição permanecia adiantado, se ouvisse a detonação novamente o ponto era novamente atrasado. Sempre de maneira constante e ininterrupta, essa operação. Desse modo, o aproveitamento do motor e do combustível era o máximo possível.
No Brasil
Aqui, a primeira marca a utilizar o então moderno sistema foi a Volkswagen. O Gol GTi mostrado ao publico no final de 1988, foi o primeiro carro nacional a possuir em sua receita motriz toda a modernidade da injeção LE-Jetronic e do sistema EZ-K com sensor de detonação na ignição; depois Santana e Quantum passaram a utilizar esse mesmo motor e com o mesmo sistema de alimentação/ignição. Enquanto o motor AP 2000, a carburador e com gasolina desenvolvia 105 cv, o motor semelhante GTi, o AP 2000i com o mesmo combustível desenvolvia 112 cv, dando ao Gol uma dirigibilidade e uma força de arranque excepcionais.
Era uma prova inequívoca de que o sistema eletrônico na alimentação e na ignição, eram um tremendo avanço para os nossos motores, economia de combustível e menores emissões de poluentes. A boa solução técnica foi seguida pela GM no Monza EF 500, e logo em seguida no Kadett GSi. Com a criação da Autolatina, uma fusão operacional entre a Volkswagen e a Ford iniciada em 1987 e terminada em 1995, o motor 2000i do GTi, equipou o Ford XR3, Verona, Versailles e Royale. Na Fiat a versão esportiva do Uno, batizada de 1.6R, utilizava esse mesmo funcional sistema da Bosch.
Os últimos carros comercializados com esse sistema de injeção analógico foram produzidos até 1994. A partir daí, as injeções analógicas foram substituídas por outras mais sofisticadas e eficazes, que já tinham todas as suas rotinas digitais, com uma capacidade bem mais ampla de memorização de informações, dando até ao luxo de memorizar erros e falhas que muito auxiliam na reparação dos modernos sistemas digitais.
Manutenção e reparação
Para quem ainda tem essas maravilhas motrizes, bem alimentados e com bons sistemas de ignição, teriam em sua manutenção um grande problema, não fossem aqueles apaixonados que guardaram peças e componentes e passaram a dedicar seu tempo profissional na restauração e recuperação desses eficientes sistemas eletrônicos dos anos 80.
Descobri em Rio Claro, interior do Estado de São Paulo, uma oficina, a LE Jetronic Center (19-3023-4051 ou 19-99729-6997 ou na página do Facebook LeJetronic Center), especializada na manutenção e restauração nesse sistema de injeção e até mesmo no sistema EZ-K de ignição. Mauro Alves, o proprietário, é um apaixonado por esse sistema de alimentação eletrônica, estudou-a muito, adquiriu equipamentos e hoje faz a reparação e a restauração desses sistemas para todo o Brasil; já recuperou esse sistema até para carros na Argentina e na Bolívia. Sua fama em especialista nesse assunto já rompeu fronteiras. O curto vídeo mostra Mauro “Lendo” uma LE-Jetronic.
A LE Jetronic Center, recebe os sistemas de todo o Brasil através de Sedex, faz os reparos necessários seguindo estritamente as especificações Bosch, atualiza os hardwares de comando para nossa gasolina atual com quase 30% de álcool e 50 partes por milhão de enxofre (a gasolina do início dos anos 90 tinha 12% de álcool e mais de 1.000 ppm de enxofre em sua composição), verifica o sensor de massa, as válvulas injetoras e todos os sensores. Um trabalho bem legal que inclusive atualiza a LE-Jetronic para os dias atuais, reduzindo o consumo e melhorando o desempenho.
Um belo trabalho que aqueles que têm carros com esse tipo de sistema de injeção/ignição, que agora a têm quem recorrer. Uma dica legal da coluna para aqueles que gostam de carros.
DM