Volta e meia surgem no mercado produtos destinados a reduzir o consumo de combustível. Isso é bem antigo e hoje, em regra, são anunciados na internet, a maioria falando em economia de até 20%.
Sem suar a camisa
O raciocínio que derruba todas estas tentativas de ludibriar o consumidor é simples: alguém imagina que, se economizadores funcionassem de fato, as fábricas de automóveis não sairiam correndo para adquirir sua patente, ou a própria “empresa” que os produz, ou milhares deles para instalar na linha de montagem? Aliás, consultados, os engenheiros das fábricas confessam “suar a camisa” para conseguir uma redução de 2% ou 3% no consumo… e ficam perplexos ao tomar conhecimento desses “milagres” anunciados na internet.
Mas, é sempre conveniente verificar se algum “Professor Pardal” não inventou de fato um dispositivo capaz de derrubar todos os conceitos físico-químicos da engenharia automobilística. E, para isso, o meu portal Auto Papo testou o Pinox, um dos mais recentes economizadores anunciados na internet, produzido (segundo o manual) na Áustria. O produto consiste de um pino de aço, cilíndrico, de tamanho e preço variáveis de acordo com a cilindrada do motor, comercializado no Brasil pela BE-Fuelsaver Brasil Ltda, de São Paulo.
Diz seu anúncio na internet:
“O otimizador automotivo PINOX é um dispositivo que possui uma frequência bioenergética, que altera fisicamente a estrutura molecular do combustível, proporcionando condições ideais para uma queima mais completa da gasolina e do diesel”.
Testando o pino mágico
Adquirimos, por R$ 540,00, um Pinox especificado para motores a gasolina de 1,0 a 1,6 litro de cilindrada. A FCA cedeu para os testes um Fiat Argo 1,0 com cerca de 17.500 km rodados e os testes foram realizados pelo engenheiro e perito judicial Sérgio Melo, exatamente de acordo com as recomendações do manual que acompanha o dispositivo. O pino, que tem cerca de 4 cm de comprimento por 0,8 cm de diâmetro, foi instalado junto a uma mangueira que conduz combustível ao motor. Segundo o fabricante, ele pode também ser alojado diretamente no fundo do tanque de combustível. Pode ser transferido de um carro para outro e funciona com gasolina ou diesel. Tem garantia de 30 anos…
O fabricante promete:
- Reduzir o consumo de combustível em até 20%;
- Aumentar em até 20% a potência do motor;
- Reduzir em até 99% os gases poluentes;
- Reduzir em até 85% a fuligem emitida pelo escapamento.
O engenheiro Melo rodou quase 250 quilômetros com o Argo, percorrendo quatro vezes num circuito de 58 quilômetros numa rodovia de duas pistas e que permitia manter velocidade de 100 km/h, sempre em quinta marcha.
Resultado:nenhum!
Em cada reabastecimento, eram registrados quilômetros percorridos e litros consumidos. Os resultados obtidos foram os mesmos em todas as medições efetuadas, sem modificação de consumo com ou sem o dispositivo (diferença na segunda casa decimal não foi considerada e por poder ter sido provocada por alguma variação de velocidade durante o teste).
Sem Pinox: 16,97 km por litro de gasolina
Com Pinox: 16,90 km por litro de gasolina
Todos os abastecimentos e registros no hodômetro do automóvel foram gravados para registro dos valores obtidos.
Assista ao vídeo:
Falta no Brasil uma preocupação em certificar componentes e equipamentos no mercado de reposição. Fabrica-se e vende-se livremente qualquer produto, seja de empresa idônea, seja um “fundo de quintal”. Na Europa, nada, mas nada mesmo é colocado à venda sem a aprovação de um órgão homologado pelo governo. O mais famoso é o TÜV na Alemanha: só se coloca no mercado um produto aprovado por ele. Curiosamente, o fabricante do Pinox exibe um certificado do TÜV. Mais curiosamente ainda, apesar de produzido na Áustria, país vizinho da Alemanha, ele foi buscar o documento no TÜV do Oriente Médio, no “TÜV SÜD Middle East”. Enigmático, não?
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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