Uma das palavras mais presentes dentro de um estúdio de design é “HIGHLIGHT”.Desculpe-me, mas, não existe uma palavra ou mesmo uma frase que possa traduzi-la em português.
Na verdade, palavra se emprega em várias situações para exprimir situações diversas. Highlight (rai’lait) pode significar um ponto de atração, destaque, como a cereja do bolo! No Design Automobilístico está ligada à luz, tanto para você ler a superfície, quanto para lhe chamar a atenção.
A maneira como a luz percorre a superfície do automóvel é o grande segredo do bom design.
Já no início do desenvolvimento, nos sketches de design, o designer representa as “faces’ da
superfície usando o branco para as superfícies voltadas para a fonte de luz e um tom mais baixo
da cor-base para as superfícies, voltadas para a sombra.
Portanto, trata-se da manipulação da luz através da superfícies, como uma escultura de Da Vinci. Porém a superfícies metálicas e plásticas também recebem uma cor, vermelho por exemplo, e com alto brilho, alto nível de reflexão. Então, além da superfície ter suas nuances de sombra e luz existe a problemática da reflexão da superfície.
Através desta reflexão é que podemos avaliar a qualidade de superfície de um carro. Só como exemplo, no final da linha de montagem, existe um teste visual da qualidade da superfície do veículo pronto para receber o OK. Trata-se de uma “pérgula”com longas luzes frias e brancas, montadas paralelamente, formando uma cobertura maior que o tamanho do carro.
Observando o carro pode-se ver as linhas paralelas refletidas na superfície e qualquer defeito, até mesmo a granulação da pintura, pode ser avaliada, usando este recurso. Então não são somente luzes paralelas que vemos na superfície dos nossos carros, mas todo o ambiente ao redor.
Se você está parado na avenida beira-mar ao pôr do sol, e olhar para seu carro, verá a cena se
referindo nele. Funciona como um espelho. Quanto mais lisa e limpa a superfície, mais reflexão.
Veja que alguns carro esportivos usam preto ou outras cores sem brilho, que a princípio fica muito bonito, os reflexos somem, e você pode “ver” a superfície sem o “ruído” da reflexão, mas em pouco tempo a superfície ficará com manchas permanentes.
Para bloquear a reflexão da luz, criamos microtexturas que chamamos de superfície fosca. Toda superfície fosca retém sujeira.
A princípio, no modelo de design, que é feito de clay (barro), tem uma superfície opaca. Para se observar melhor a luz na superfície, periodicamente aplicamos o “Dinoc”, que é uma película muito fina, normalmente na cor prata brilhante, que nos permite observar como a luz “flui” pela superfície do modelo, tentando identificar passagens não bem finalizadas, assim como a fluidez das grandes superfícies, como a lateral, capô, teto, enfim, para que cada centímetro da superfície do modelo esteja perfeita em termos de reflexão de luz.
Com os softwares específicos para desenvolvimento da superfície, temos inúmeras ferramentas para checar a reflexão da luz sobre a superfície.
Outra maneira de se implementar um Highlight é usando frisos cromados, por exemplo, hoje na
divisão entre as janelas e o corpo em chapa.
Nos clássicos americanos podemos ver estes Highlights em seu esplendor. Nestes automóveis eram criados temas, normalmente aerodinâmicos e com insinuações aeronáuticas, em forma de uma decoração, quase “art déco”, temas que além de expressarem um tema exclusivo ao carro, se encarregavam de dar vida às grandes superfícies laterais.Uma história dentro da história.
Na atualidade, vemos mais e mais, “Highlights” que são feitos com linhas de luz. Com as novas tecnologias de iluminação externa e interna, os designers estão usando esta ferramenta, para criar linhas, e formas sofisticadas para, principalmente caracterizar uma “imagem noturna” e imprimir uma “história” ou “spot” que chama a atenção pela sua complexidade e beleza. Com a obrigatoriedade das luzes de dia, ganhamos mais um elemento de muita força para criar.
No interior, também usamos estes ”truques” para dar vida e sofisticação ao ambiente.Pequenas linhas de metal incrustadas aos controles, linhas de luz nos painel e nas laterais de porta e, mais recentemente, grande telas digitais, são grandes áreas a serem utilizadas para hipnotizar o cliente.
Uma coisa é certa: Highlights têm que ser usados com bom senso. Ele tem que ser uma coisa especial, ser equilibrado com os elementos que compõem o automóvel.
Nos dias de hoje existe uma apelação em termos de escultura, e muitos carros passam do ponto, apresentando tantos elementos, muitos deles desnecessários, que acabam sendo o que chamamos de “overdesigned”, que significa, desenhado além da conta, deixando o cliente um pouco desorientado, meio tonto até.
Hoje se diz que mais e mais, quando no passado dízimos que menos é mais, mas tudo é uma questão de gosto, e devemos dizer que nos dias de hoje harmonia, equilíbrio e bom gosto, não estão na moda.
Os chineses dizem que, o que vale agora é o efeito “WOW”, tem que chocar, chamar a atenção mesmo sendo pela estranheza e desproporção.
Só o tempo dirá quem estava certo.
LV