Gordon Murray é bastante conhecido dos brasileiros pelos carros de F-1 que levaram Nélson Piquet e Ayrton Senna a conquistarem títulos mundiais, sem falar no primeiro McLaren de rua, o F1. Há quem diga até que ele foi pioneiro em instalar ventiladores em um carro de corrida para sugar o ar de baixo, e não o americano Jim Hall e seu Chaparral 2J. O que nem todos sabem é que este sul-africano nascido em Durban, aos 18 de junho de 1946, segue firme criando e desenvolvendo técnicas revolucionárias de engenharia automobilística. Seu projeto mais recente é o iStream, um processo de construção de chassi que une o conceito tubular a painéis de compósito de fibra de carbono e de alumínio, combinação que permite diminuir em aproximadamente 50% o peso de um similar feito de aço estampado.
Além de licenciar essa técnica a terceiros, Murray promove tal inovação no projeto T.43, um superesportivo dotado de um motor Ford de três cilindros turboalimentado que produz 215 cv, o EcoBoost 1,5 Dragon usado no Ford Fiesta ST. Por enquanto há apenas uma imagem pública do T.43, a que ilustra a abertura desta matéria. Com peso aproximado de 850 kg, esse modelo tem tudo para ser um sucesso de vendas, particularmente pelo custo abaixo de o equivalente a R$ 200.000,00 (na Europa) e por usar câmbio manual.
“O T.43 se encaixa em um segmento de mercado que tem poucas opções. Poderia compará-lo a um Lotus Elise de uso diário, com fácil acesso, carroceria fechada, ar-condicionado, sistemas de navegação e de som, airbags, etc…”, explica Murray.
A comparação com o modelo da Lotus remete a um histórico de carros problemáticos: na Inglaterra o nome da marca fundada por Colin Chapman é maldosamente interpretado como “Lots of troubles, usually serious”, algo que traduzido para o português equivale a “Muitos problemas, geralmente graves”. A Proton (que já ensaiou algum investimento no País) assumiu a empresa em 1996 e investiu na melhoria dos padrões de qualidade marca; o processo bem-sucedido ganhou impulso quando a chinesa Geely , que também controla a Volvo, comprou a marca malaia.
Murray certamente usou o Elise, comercializado por valores que chegam ao equivalente a R$ 180.000,00 no mercado europeu, por suas dimensões e desempenho. Indiretamente, ele também segue a filosofia de trabalho de Colin Chapman, o fundador da Lotus, para quem “um carro muito potente permite que você ande rápido nas retas. Um carro muito leve permite que você vá rápido nas retas e nas curvas”.
Chapman certamente levou seu postulado a extremos, algo que não acontece com Murray. Apreciador de boa mesa e bom vinho (acredita-se que ele tenha uma criação de porcos de raça em Santa Catarina e até pouco tempo possuía uma vinícola na França), ele é criativo até para divulgar suas teorias. Não faz muito tempo ele promovia uma competição de carros sem motor que largavam ladeira abaixo em seu castelo francês; a regra mais importante dessa competição era usar quantidade predeterminada de papel alumínio, o que incentivava o uso de estruturas mais sólidas.
A estrutura do T.43 utiliza o processo iStream, outro acrônimo inglês, mais sério e que indica iStabilised Tube Reinforced Exo-frame Advanced Manufacturing), Manufatura Avançada de Carroceria Reforçada Estabilizada por Tubos. Combinado com o uso de placas de compósito de fibra de carbono e de alumínio, o resultado é um chassi extremamente leve e rígido, como convém a um veículo de alto desempenho.
Esse conceito já foi licenciado para várias aplicações, como o Yamaha SportRide, o TVR Griffith e no T.25, um city car também projetado por Murray e dotado de motor tricilindro de 660 cm³. A versatilidade de aumentar ou diminuir as dimensões dessa estrutura é grande o suficiente para que o engenheiro sul-africano criasse uma subsidiária da Gordon Murray Design para administrar o uso dessa proposta por terceiros. Quanto ao T.43, a ideia é produzir uma série mínima de 5 mil carros e construída para ser uma verdadeira nau-capitânia da GMA (Gordon Murray Automotive), responsável pela construção cupê de dois lugares.
O T.43 terá dimensões básicas de aproximadamente 4 metros de comprimento por 1,70 metro de largura e uma relação peso-potência similar a um Porsche 911 Carrera S 991/2, que tem um motor de 2.981 cm³ e 370 cv e pesa o dobro: entre 1.430 kg e 1.450 kg, dependendo da versão. Ainda não há data marcada para o lançamento e início de vendas do T.43, mas acredita-se que o projeto está em fase final e pode chegar às ruas no final do ano.
WG