À exceção de um brevíssimo bate e volta rodoviário de cerca 60 quilômetros, a terceira semana de teste do Renault Captur foi toda rodada na capital paulista. No total foram cerca de 240 quilômetros de para e anda que — não me canso de lembrar ao leitor ou leitora — foi na parte mais montanhosa da cidade, o que evidentemente prejudica a obtenção de marcas de consumo decentes. A média de velocidade foi de pouco mais de 17 km/h.
Nessa condição severa do meu padrão de uso conseguiu 5,6 km/l como melhor marca com álcool. Com a gasolina no tanque nesta semana a coisa foi, proporcionalmente, algo melhor: 7,4 km/l. E na rodovia? Pouco mais de 11 km/l de gasolina, com pé bem em cima, cuidadoso.
É natural que com esses consumos e com o tanque de 50 litros o ponteiro do medidor de quantidade de combustível baixe algo rápido. O dono de Captur rodará pouco mais de 400 km com álcool e de 500 km com gasolina. Vale notar também que o computador de bordo — ao menos na unidade de teste — é bem otimista, com margem de erro em consumo que frequentemente supera os 10%. Outro inconveniente é o indicador de autonomia literalmente abandoná-lo quando o combustível no tanque chega perto do final, e de confortantes 40 ou 30 km de autonomia restante passar, de uma vez, a preocupantes tracinhos.
Rodando na maior parte do tempo apenas com motorista, uma faceta positiva apontada nas semanas anteriores — a generosa distância em relação ao solo — fez ver seu valor nas valetas e lombadas paulistanas. Já o acerto de suspensão, menos, passando de maneira evidente as irregularidades do piso para o interior da cabine, coisa não tão evidente durante a viagem da semana anterior, quando rodei quase sempre com o carro com carga e dois ou três a bordo.
Quanto à direção (sim, o zunido continua, mas eu já abstraí…) a característica de transmitir às mãos do motorista as más formações do chão é relevante, mas nada que comprometa de forma drástica o conforto a bordo, no qual a ampla cabine e razoável ergonomia tornam as horas passadas ao volante bastante suportáveis. Mencionei a “razoável ergonomia”: para ficar boa, o volante deveria ter regulagem de distância, pois, do jeito que é, apenas regulagem de altura, impede encontrar a posição ideal.
Ponto positivo do Captur é a visibilidade, com área envidraçada importante. A câmera de ré cumpre bem seu papel e não senti falta de sensores de obstáculos. Aliás, quase nunca sinto. Outro bom acessório desta versão é o comando para rebater os espelhos retrovisores, volumosos, que oferecem boa visão, mas que sem tal recurso deixaria o estacionar nas estreitas vagas dos shoppings mais complicados.
Um equipamento que usei praticamente durante toda esta semana foi o navegador incorporado à central multimídia. Não para encontrar caminhos ou endereços, pois para tal sou um “wazefã”, mas sim para me avisar através de um discreto sinal sonoro a proximidade de radares e semáforos. E já que o tema é a central multimídia, vale destacar como o sistema de áudio se confirma correto, intuitivo, sem frescuras, com controle por um comando-satélite à direita coluna de direção que cumpre sua tarefa sem alarde.
Já o comando do controlador/limitador de velocidade e o botão ECO estão afundados no console, uma localização que o Captur enquanto carro moderno não mereceria, incongruente com outros comandos razoavelmente posicionados como o reostato da luz de painel e o excelente controle de altura do facho dos faróis, na parte baixa do painel ao lado da porta do motorista, aliás, onde isso costuma mesmo estar. De fato ao menos a tecla do controlador/limitador de velocidade deveria migrar para lá, espaço vago há.
Sobre o botão ECO, que dá prioridade à… ECOnomia através de uma gestão diferente especialmente do câmbio, motor e aparatos como climatizador e assistência da direção, nas condições urbanas montanhosas do teste seu uso não foi útil por deixar o Captur mais lerdo, mantendo a rotação em nível exageradamente baixo e, situações indevidas: no meio de um ladeirão com o motor girando a menos de 2..000 rpm faz o acelerador deste Renault parecer ter um metro e meio de curso. Já em vias planas, usar o ECO poderá ser vantajoso, embora obviamente afete o desempenho.
Passando ao uso prático, um dia, apesar de não haver necessidade, baixei o encosto do banco traseiro bipartido apenas para sentir a operação, que como esperado foi eficiente, tornando o Captur um potencial carregador de objetos volumosos. A retirada e colocação do tampão traseiro, que esconde de olhos curiosos o que está dentro do porta-malas, também é bem simples, assim como achei excelente o encaixe, que ocorre de maneira bem fácil. Ainda sobre o compartimento de carga: macaco (direita) e gancho de reboque (esquerda) estão perfeitamente acomodados em nichos situados nas laterais do porta-malas, cobertos por tampa plástica facilmente removível.
Em uma prosaica ida à feira-livre o ainda mais prosaico carrinho de feira entrou no porta-malas com facilidade, cujo embarque/retirada foi feito de maneira tranquila por praticamente não haver desnível entre a boca e o piso do porta-malas. Tal informação, valiosa para donos/donas de casa, é a deixa para que eu comente o que minha mulher e filha adolescente estão achando do Captur. “É bonito!”, disseram ambas. A que ainda não dirige, 16 anos, elogiou o espaço no banco traseiro, mas lembrou da falta de uma saída de ar-condicionado, assim como a cada vez mais importante porta USB (ou tomada 12 V). Tais dotes deverão certamente constar das atualizações futuras do Captur.
Quanto à motorista, reclamou da falta de reação ao uso do acelerador! Nas íngremes ruas dos bairros de Perdizes, Pompeia, Sumaré e adjacências o pedal frequentemente tinha de ser levado ao fundo e… nada de muito empolgante acontecia segundo ela. Habituada a dirigir carros com motores mais espertos, à clássica pergunta “Regina, você compraria?” ela respondeu com outra pergunta: “Tem versão mais potente? Se tiver, talvez sim.”
Empolgada com meu questionamento, a senhora passou do modo passivo ao ativo, bem tagarela: disse ter gostado do revestimento do volante e bancos, de não ter nunca sujado calça ou vestido na soleira da porta (coberta pela mesma), do comando do ar-condicionado e de não ter tido que se preocupar com as rodas, já que descobriu que os pneus as protegem quando a proximidade com o meio-fio tende a zero. Câmera de ré aprovada, menos os sinais sonoros que “gritam demais” quando o cinto é esquecido (mas é para isso que serve, não?). Outra menção, positiva, foi em relação a chave presencial (tipo cartão, tipicamente Renault) e a possibilidade de abrir o porta-malas com ela a distância.
Encaminhado para o fim do teste, o Captur agora vai encarar a semana derradeira abastecido, mais uma vez, álcool. Combustível que além de conveniente no presente momento em função da disparidade acentuada face ao preço da gasolina na capital paulista, exige contraprova: aquela marca obtida na semana inicial, de 5,2 km/l de consumo urbano, não me convenceu. Pretendo também, na medida do possível, encarar algo mais de rodovia para aferir a marca de consumo rodoviário com o combustível de origem vegetal.
A visita à Suspentécnica está agendada e, com isso, mais um Teste de 30 Dias entra em sua fase final e definitiva.
RA
Leias os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana
Renault Captur Intense 1,6 CVT X-Tronic
Dias: 21
Quilometragem total: 1.001 km
Distância na cidade: 481 km (48%)
Distância na estrada: 520 km (52%)
Consumo médio: 6,8 km/l (70% álcool/30% gasolina)
Melhor média (álcool): 11,3 km/l (rodovia)/5,6 km/l (cidade)
Pior média (álcool): 9,4 km/l (rodovia)/5,2 km/l (cidade)
Melhor média (gasolina): 11,1 km/l (rodovia)/7,4 km/l (cidade)
Pior média (etanol): 10,5 km/l (rodovia)/6,1 km/l (cidade)
Velocidade média: 19 km/h
Tempo ao volante: 53h10min
FICHA TÉCNICA RENAULT CAPTUR INTENSE 1,6 SCe CVT X-TRONIC | |
MOTOR | |
Denominação | 1.6 SCe |
Descrição | 4 cil. em linha, dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, corrente, variador de fase na admissão, 4 válvulas por cilindro, injeção no duto, aspiração atmosférica, flex |
Diâmetro x curso (mm) | 78 x 83,6 |
Cilindrada (cm³) | 1.597 |
Aspiração | Atmosférica |
Taxa de compressão (:1) | 10,7 |
Potência máxima (cv/rpm) (G/A) | 118/120/5.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) (G/A) | 16,2/16,2/4.000 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro automático CVT X-Tronic com conversor de torque, tração dianteira |
N° de marchas simuladas | 6 à frente e 1 à ré |
Relações simuladas (:1) | 3,874 a 0,532 |
Espectro (:1) | 7,281 |
Relação do diferencial (:1) | 4,88 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal. amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência eletro-hidráulica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,7 |
FREIOS | |
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal, servoassistido, ABS (obrigatório), distribuição eletrônica das forças da frenagem e auxílio às frenagens de emergência |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado, 269 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor, 229 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 6,5J x 17 |
Pneus | 215/60R17V |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.286 |
Carga útil | 449 |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, 4-portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.329 |
Largura (sem espelhos) | 1.813 |
Altura | 1.619 |
Distância entre eixos | 2.673 |
Distância mínima do solo (vazio) | 212 |
CAPACIDADES | |
Porta-malas (L) | 437 |
Tanque de combustível (L) | 50 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s) (G/A) | 14,5/13,1 |
Velocidade máxima (km/h) (G/A) | 168/169 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBEV) | |
Cidade (km/l) (G/A) | 10,5/7,3 |
Estrada (km/l) (G/A) | 11,7/8,1 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 6ª simulD (km/h) | 48,6 |
Rotação a 120 km/h em 6ª simulada (rpm) | 2.470 |
GARANTIA E MANUTENÇÃO | |
Duração da garantia | 3 anos ou 100.000 km |
Revisões, intervalo (km) | 10.000 |
Troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000 / 1 ano |