Se depender da toada da Ferrari nas quatro primeiras provas desta temporada, 2019 poderá ser um revival do que aconteceu em 1988, quando Ayrton Senna e Alain Prost venceram 15 das 16 etapas disputadas 21 anos atrás. Superados os GPS da Austrália, Bahrein, China e Azerbaijão, Valteri Bottas e Lewis Hamilton estão empatados com duas vitórias e dois segundos lugares cada um. O finlandês lidera o campeonato graças ao ponto extra que assegurou ao fazer a melhor volta da corrida em Melbourne. Tida como a grande oposição à equipe anglo-alemã — o investimento é da marca alemã, enquanto o chassi e o motor do modelo W10 são fabricados na Inglaterra — em 2019 a Ferrari amarga um balanço em que até agora somou apenas 99 pontos contra 173 da rival tedesca. O resultado completo do GP do Azerbaijão, disputado domingo, e a tabela de pontos do campeonato você encontra aqui.
Pior que conferir a defasagem de pontos entre as duas maiores equipes do grid é notar a persistência da Scuderia em praticar estratégias equivocadas e decisões que favorecem a Sebastian Vettel em detrimento a Charles Leclerc. Há de se considerar que o monegasco é ainda um novato e, consequentemente, não tem o currículo do veterano alemão, tetracampeão mundial. Em uma perspectiva mais ampla, porém, resultados mais destacados de Leclerc seriam extramamente benéficos não só para a aura latina da Ferrari como para a dose de emoção que contribuirá para trazer mais emoção às disputas da F-1: em quatro etapas o recém-chegado a Maranello fez duas voltas mais rápidas.
Apaixonados pelo automobilismo, como este colunista, e a empresa detentora dos direitos comerciais da categoria, pensam assim e desejam esse cenário. As equipes que inscrevem 20 carros a cada prova têm outras prioridades e aqui aparece a primeira interrogação: vale a pena para a Mercedes ter tamanha superioridade? Por mais que a perfeição quase absoluta dos Flechas de Prata transmitam a imagem de tecnologia superior, a supremacia exibida nos degraus mais altos do pódio nas quatro etapas já disputadas este ano afasta quem segue a F-1 em busca de emoção e disputas acirradas.
Não é a primeira vez que isso acontece na F-1: em 1988 a McLaren só não venceu as 16 etapas da temporada porque o francês Jean-Louis Schlesser se perdeu ao negociar uma das chicanes de Monza e acabou tirando Ayrton Senna da liderança e da corrida. A dobradinha de Gerhard Berger e Michele Alboreto no GP da Itália acabou tendo cores de homenagem post mortem a Enzo Ferrari, que faleceu no dia 14 de agosto daquele ano, cerca de um mês antes do GP disputado no dia 11 de setembro. Não haveria local melhor para tal resultado em tal circunstância.
Longe de pretender escrever o futuro, a superioridade demonstrada por Vatlteri Bottas e Lewis Hamilton até agora permite rabiscar uma repetição da monótona temporada de duas décadas atrás. Razões para isso são fatos como que dos 176 pontos possíveis para uma equipe, a Mercedes já fez 173, mais do que a Ferrari e a Red Bull juntas. Após quatro dobradinhas igualmente compartidas entre seus pilotos pode-se esperar por uma decisão na última das 21 etapas da temporada e por qual desses dois pilotos somar mais pontos pela volta mais rápida.
Outro ponto que corrobora a possibilidade de a Mercedes manter a superioridade nas próximas corridas é o fato que seu carro foi melhor em quatro pistas diferentes e condições atmosféricas variadas. A próxima etapa, dia 12 de maio, será no circuito que foi usado para os testes de pré-temporada, quando Sebastian Vettel e Charles Leclerc se destacaram frente aos atuais carrascos. Se a Ferrari não renascer das próprias cinzas no GP da Espanha, o futuro da temporada ficará mais prateado.
WG