Em um posto de gasolina, tomava um café com outros motociclistas. O assunto era o visual das novas motos, cada vez mais futurista. Com linhas retas e cheias de cantos vivos, parecem naves espaciais e se distanciam de suas raízes. Basta olhar os faróis, antes circulares e agora cada vez mais pontiagudos. Resgatando pelo menos um pouco do bom e velho estilo “moto com cara de moto” surgiu na Honda a linha NSC – Neo Sports Café. O primeiro modelo a chegar por aqui é sua maior e mais potente naked (sem carenagem, nua): a nova CB 1000R. Inaugura na Honda o visual retrô-tecnológico, uma releitura japonesa da Ducati Monster. Um desenho que presta homenagem ao estilo Cafe Racer em motos com soluções bem atuais: o farol é circular, mas cheio de LEDs.
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Visual inédito e motor de Fireblade
A mecânica é uma longa evolução dos modelos de quatro cilindros, os Four, da clássica linha das CB 750 do final dos anos 1960, cheios de modernidade e tecnologia. Uma das marcas registradas da CB 1.000R é o farol circular com LEDs em volta do aro central. Os piscas dianteiros sempre ficam acessos contribuindo para visibilidade e segurança.
Na lateral de destacam o tanque de combustível recortado, o grande motor com aletas de aço escovado. O quadro monotrave é do tipo Diamante (Diamond Frame), com o motor tendo função estrutural. A traseira minimalista ficou bem curta, pois a placa foi realocada para um suporte lateral, indo para atrás do pneu traseiro. A suspensão traseira é monobraço em alumínio destacando ainda mais a roda traseira e o grande pneu 190/55ZR17.
Uma novidade pouco vista em motos — porém comum em carros — é o sistema que em frenagens mais fortes aciona-se também o pisca-alerta além da luz de freio. O escapamento original tem duas saídas na mesma ponteira e emite um ronco grave e abafado.
O motor é o semelhante ao usando na CBR 1000RR Fireblade de 2011 (um 998 cm³ de 16 válvulas, refrigeração líquida), porém com diversas mudanças na admissão e escapamento. Foi feita também uma calibração específica para atender a legislação de emissão de poluentes do mercado brasileiro. Os números são maiores que a geração anterior: potência máxima de 141,4 cv a 10.500 rpm e torque máximo de 10,1 m·kgf a 8.000 rpm. Tudo isso para um peso a seco de 199 kg. Para controlar todo esse ímpeto temos uma série de sistemas eletrônicos além da embreagem do tipo deslizante (que regula o efeito do freio-motor), além do ABS.
Eletrônica e painel
O novo acelerador eletrônico não deixa saudade dos cabos. O sinal deste acelerador vai direto para o gerenciamento eletrônico do motor (ECU), trazendo várias novidades que vieram das pistas para as ruas nas motos mais esportivas. A mais importante dela é a seleção de modos de pilotagem. São quatro modos operando em três parâmetros: entrega de potência (P), controle de tração (TC) e até mesmo freio-motor (EB) – auxiliando em reduções de velocidade com uso das seis marchas. O modo Rain (chuva) é indicado para condições de pouca aderência e a “babá eletrônica” vai reduzindo sua atuação ao passar pelo modo Standard (padrão) até o mais permissivo e direto Sport (esporte). No último modo User (calibrado pelo usuário) é possível escolher individualmente a intervenção de cada parâmetro.
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Cada modo é facilmente selecionado pelo punho esquerdo. O painel é totalmente digital e bem completo. Conta com indicador de marcha, temperatura do líquido de arrefecimento, modo de pilotagem, marcador de combustível, além de conta-giros, velocímetro e computador de bordo. Um mostrador na lateral superior direita do painel pode ser configurado de diferentes formas. Desde indicador de mudança de marcha tradicional piscante, indicador de marcha por cor e até um mostrador de condução econômica ficando verde durante uma pilotagem mais tranquila.
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Bruta ao mesmo tempo domável
O convite irrecusável era pilotar a nova CB por dois dias, partindo de São Paulo capital para Porto Feliz e voltando no dia seguinte. Rodamos mais de 300 quilômetros passando pelas Rodovias dos Bandeirantes, Marechal Rondon e Castello Branco. Teve até uma esticada até a Estrada dos Romeiros, pena que não chegamos até a famosa Curva AE, que seria facilmente a foto de abertura desta matéria. Só faltou combinar todo o itinerário com São Pedro.
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Saímos de São Paulo debaixo de muita chuva e trânsito pesado. Logo selecionamos o “modo chuva” para ser testado em seu habitat natural. Com respostas mais anestesiadas e o controle de tração no nível máximo foi possível chegar até a Rodovia dos Bandeirantes sem sustos. Porém já foi possível sentir uma moto com muito torque e potência já com o motor em baixa rotação. Assim, rodamos em terceira ou quarta em baixas velocidades sem o motor reclamar. Mais alguns quilômetros para finalmente aparecer o primeiro asfalto seco.
Foi a hora de mudar para o modo “padrão” e sentir a moto mais solta e bem disposta. Em pouco tempo, já mais habituado, parti finalmente para o moto “esporte”. A mudança é clara: a CB 1000R fica muito, muito rápida e a aceleração é brutal. Se virar o punho com vontade a frente sobe em primeira, segunda e até em terceira. Ela chega facilmente em velocidades que te fariam perder a carteira de habilitação em segunda marcha. Dá para viajar em sexta marcha que ela retoma velocidade com muito vigor, porém é mais gostoso reduzir só para ouvir o som deste quatro-cilindros.
Chegamos à Estrada dos Romeiros e as curvas são desenhadas com muita facilidade. Mesmo para uma moto grande, tudo parece ser natural. Mesmo depois da chuva com alguma sujeira na pista o controle de tração passou muita segurança. Foi possível acelerar e deitar a moto com vontade sem qualquer susto. A paisagem, como sempre, foi um show e o cheiro de grama molhada parecia renovar a vontade de pilotar mais e mais.
No caminho de volta abastecemos (16,7 km/l de média) e pegamos sol de ponta a ponta. Explorando rotações mais elevadas, depois de 8.000 rpm (ponto de torque máximo) ainda surge muita mais “força”. Acordar cedo e subir em uma “1000” vale mais que dois cafés duplos para acordar rapidamente. Chegamos a São Paulo sem chuva, onde se nota como a nova CB, modelo 2019, chama atenção nas ruas. Ao final devolvemos as motos já com saudade. Sempre dá vontade de rodar mais.
Cores e preços
Vendida em versão única a nova CB 1000R tem preço sugerido de R$ 58.690 (sem frete). São duas opções de cores, preto e vermelho metálico.
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LR
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Ficha técnica da CB 1000R
Motor, tipo | Quatro cilindros, duplo comando, 16 válvulas, arrefecimento a líquido |
Cilindrada (cm³) | 998,4 |
Diâmetro do cilindro e curso do pistão (mm) | 75 x 56,5 |
Potência máxima (cv/rpm) | 141,4/10.500 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 10,2//8.000 |
Transmissão secundária | Corrente |
Embreagem | Deslizante multidisco banhada a óleo |
Câmbio | 6 marchas |
Curso da suspensão dianteira (mm) | 120 |
Curso da suspensão traseira (mm) | 131 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 212 (199 a seco) |
Capacidade máxima de carga (kg) | N.D |
Tanque de combustível (L) | 16,1 L (reserva aprox. 3,5 L) |
Largura (mm) | 789 |
Altura (mm) | 1.094 |
Comprimento (mm) | 2.117 |
Altura do assento (mm) | 830 |
Distância entre eixos (mm) | 1.452 |