Picapes não aparecem muito por aqui no AE, mas quando somos convidados a avaliar um veículo deste segmento e notamos que o objetivo dos engenheiros foi aproximar o comportamento dinâmico do utilitário ao de um suve, ou até mesmo de um sedã, temos que dar o devido crédito e destaque.
Nesta semana, em Mendoza, Argentina (país onde a Ranger é produzida), a Ford apresentou para jornalistas de alguns países da América do Sul (Brasil, Argentina, Chile e Peru) a Ford Ranger ano-modelo 2020, que para o mercado brasileiro é oferecida em quatro versões de acabamento — XL, XLS, XLT e Limited — e com dois tamanhos de motores diesel turboalimentados (4 cilindros 2,2-L e 5 cilindros 3,2-L). A versão flex foi descontinuada, visto que a Ford decidiu focar exclusivamente no segmento Diesel, o qual corresponde a 92% do mercado de picapes no Brasil.
A decisão da Ford tem sua lógica. Os custos e investimentos associados a cada configuração de motor são muito altos, e considerando o volume de vendas atual do mercado sul-americano, esses investimentos ficariam difíceis de serem amortizados. Dessa forma, a Ford não poderia praticar a política de preços anunciada e que dificilmente vemos por estas bandas. A Ford Ranger 2020 chegará ao mercado a partir de julho pela mesma tabela praticada atualmente para o ano-modelo 2019.
XL 2,2 4×4 MT – R$ 132.320
XLS 2,2 4×4 MT – R$ 147.520
XLS 2,,2 4×4 AT – R$ 154.610
XLT 3,2 4×4 AT – R$ 176.420
Limited 3,2 4×4 AT – R$ 188.990
Mudanças no design
Apesar de a Ford anunciar que o novo modelo 2020 tem cerca de 600 peças modificadas, entre componentes mecânicos, elétricos e de carroceria externa e interna, na prática é difícil de ver as diferenças. Somente os mais atentos, e logicamente os picapeiros de plantão, notarão a mudança nas linhas do para-choque dianteiro, alterações no conjunto ótico dos faróis que passam a incorporar a luz de rodagem diurna em LED e o maior destaque para a nova grande frontal.
Na parte traseira não houve alterações de desenho, porém a tampa da caçamba passa a contar com a opção de trava elétrica na versão Limited e um eficiente sistema de auxílio de abertura e fechamento da tampa foi implementado. Trata-se de uma barra de torção em que sua atuação alivia o peso da tampa (de 12 kg para 3 kg), tanto na abertura como no fechamento, dando assim maior conforto e segurança para os usuários.
Se a avaliação é de uma picape, temos que dar uma boa olhada na caçamba e na sua versatilidade para o uso urbano, comercial e rural. A caçamba da Ranger possui três ganchos de cada lado na região inferior das laterais para amarração de cargas, porém não possui ganchos na parte alta da caçamba ou no exterior, o que daria maior versatilidade e segurança para amarração de cargas mais altas.
A caçamba é apresentada com um resistente protetor plástico na cor preta, porém os veículos avaliados não possuíam capota de lona na caçamba, o que entendemos não ser um equipamento de série, devendo estar disponível apenas como acessório.
Externamente a versão Limited é rica em cromados e peças pintadas em cinza, contrastando com as cores do carro e sendo notados principalmente na grade frontal, capas dos espelhos retrovisores, maçanetas, barras longitudinais do teto, estribos-prancha laterais e para-choque traseiro.
No interior temos a alteração para a cor preta na versão Limited e uma boa combinação de cores dos acabamentos em fumê brilhante, cromo fosco e pintura cinza. Tudo isso, associado ao excelente conforto dos bancos, dá uma sensação de estar dentro de um enorme carro de passageiros e não de uma picape.
Conectividade e comodidade
Outro detalhe que nos remete para um carro de passageiros é o nível de conectividade apresentado pela Nova Ranger 2020. Se na versão 2019 já apresentava um conteúdo muito bom, a 2020 traz novos itens para o segmento e que certamente será perseguido por seus concorrentes.
No volante de direção de bom diâmetro eu contei 22 botões que ajudam a controlar o ótimo sistema de som, o controle de cruzeiro adaptativo — permite ajustar a distância do veículo à frente e acelera/freia o veículo automaticamente — e computador de bordo com várias funcionalidades. O motorista levará um certo tempo para se familiarizar com todos os comandos, mas certamente é um diferenciador que traz segurança por não exigir que o motorista precise tirar as mãos do volante para o acionamento desses sistemas.
O sistema de permanência em faixa é ativo, ou seja, propicia pequenas correções no volante no caso do veículo mudar de trajetória e invadir a faixa sem o acionamento da seta. “Se você invade a faixa mais de cinco vezes, a Ranger entende que você está cansado e que é hora de fazer uma pausa para tomar um café. Ela faz isso exibindo o ícone de uma xícara no painel”, disse Gilmar de Paula, engenheiro-chefe da Plataforma Ranger na América do Sul. Além desta funcionalidade a direção eletroassistida possui compensação de vibração de rodas, aumentando o conforto para o usuário, e faz correções caso o veículo esteja sob ação de ventos laterais.
No console central está o comando do ar-condicionado digital bizona e a central multimídia SYNC 3 com navegação e comandos de voz incorporando a tecnologia de espelhamento Android Auto e Apple CarPlay. Nas condições avaliadas de temperatura externa em torno de 5 ºC na região de Mendoza só foi possível avaliar o aquecimento da cabine.
Outras novidades apresentadas foram o sistema de reconhecimento de placas de velocidade, que alerta o motorista em caso de estar acima da velocidade regulamentada da via e o farol alto automático. Porém estes itens são impossíveis de serem avaliados num test drive de lançamento diurno.
Conforto e estabilidade
Pelo que conversei com o engenheiro-chefe da plataforma, o sistema de suspensão teve uma atenção especial e todas as mudanças de geometria dos braços de controle da suspensão dianteira, da constante e altura livre das molas, calibração dos amortecedores, e resistência torcional da barra antirrolagem foram executados para proporcionar o melhor compromisso de conforto e estabilidade.
Durante o test drive por estradas de asfalto e terra foi possível notar a nítida preferência dada ao conforto do veículo. O nível de ruído de motor (3,2 L) é bem contido, assim como não notei nenhuma vibração incômoda no banco ou volante.
Eu sempre digo que veículos têm que ser avaliados onde você conhece, onde você vai utilizá-lo e de preferência em todas condições de carga possíveis, principalmente quando estamos falando de um veículo com perfil utilitário. Na condição de carga avaliada, com caçamba vazia e três pessoas a bordo, a estabilidade do carro não foi exigida ao limite, porém foi possível observar que tanto a resposta de direção quanto o equilíbrio da suspensão estão bem ajustados e com certeza não deve apresentar surpresas quando for avaliado em condições mais exigentes.
Um detalhe que chamou a atenção foi a diminuição da pressão dos pneus de 35 lb/pol² para 30 lb/pol². Questionei o impacto dessa alteração no consumo de combustível, porém o engenheiro Gilmar de Paula informou que mesmo com essa alteração o consumo teve uma melhoria de 2,5% em relação ao modelo 2019. Essa alteração da pressão de pneus foi certamente mais uma decisão dos engenheiros da Ford para proporcionar maior conforto de rodagem à picape.
Segurança
Neste quesito a Ford inovou ao dotar a Ranger com o novo sistema autônomo de frenagem com detecção de pedestre. É um sistema que ajuda o motorista a evitar colisões com outros veículos ou pedestres que cruzem acidentalmente a frente do veículo. Funciona entre 5 km/h e 80 km/h.
O sistema tem três estágios de atuação. Ao se aproximar de um veículo parado ou pedestre e detectar uma potencial colisão, ele pisca um ícone de alerta no painel e emite um sinal sonoro. Ao mesmo tempo, pré-carrega os freios para aumentar a força de parada quando o motorista pisar no pedal. Se o motorista não tomar nenhuma ação, ele aciona automaticamente os freios para ajudar a evitar o impacto ou reduzir os seus danos.
Segundo a Ford, essa era uma tecnologia disponível apenas em suves e sedãs de luxo e que agora estará disponível nesta picape média. O sistema monitora todas as ações do motorista, seja volante, acelerador ou freio, portanto apesar de o sistema estar pronto para atuar, o motorista ainda tem pleno controle do veículo, além de ser possível ajustar a sensibilidade do sinal de alerta.
Veja a lista de equipamentos após a ficha técnica.
Desempenho e consumo
A única alteração na motorização da Ranger 2020 foi a exclusão do motor flex do portfólio, portanto as opções de motores ficam restritas aos turbodiesel 2,2-L e 3,2-L da família Duratorq.
O motor 3,2-L de cinco cilindros, que equipa as versões topo da linha, gera potência de 200 cv a 3.000 rpm e torque de 47,9 m·kgf na faixa de 1.750 a 2.500 rpm. Com esse motor a picape acelera de 0 a 100 km/h em 11,6 segundos e atinge velocidade máxima de 180 km/h. A versão XLT 3.2 4×4 faz 8,4 km/l na cidade e 9,4 km/l, na estrada. A Limited 3,2 4×4 roda 8,6 km/l na cidade e 9,9 km/,l na estrada.
O motor 2,2-L de quatro cilindros, aplicado nas versões de entrada e intermediárias da Ranger, tem potência de 160 cv a 3.200 rpm e torque de 39,3 m·kgf na faixa 1.600~2.500 rpm. Com esse motor a picape vai de 0 a 100 km/h em 15 segundos e chega a 164 km/h.
A versão XLS 4×2 tem um consumo de 9,6 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada. A versão XLS 4×4 manual,10,3 km/l na cidade e 10,4 km/l na estrada. Com câmbio automático, faz 9,0 km/l na cidade e 10,4 km/l ,na estrada.
Todos os dados de consumo e desempenho apresentados acima foram informados durante apresentação técnica.
Mercado
A liderança do segmento de picapes médias no Brasil é acirradamente disputada entre Toyota Hilux e Chevrolet S10, sendo que a Chevrolet liderou até 2015, quando foi superada pela Toyota. Nesse mesmo período, desde o lançamento em 2012, a participação da Ford Ranger cresceu de 9,4% naquele ano para 16,1% em 2018, atingindo o terceiro lugar nessa corrida contra 24,9% da S10 e 30,8% da Hilux.
A diferença da Ranger para o modelo líder ainda é grande, mas com o foco que a Ford está dando às configurações de motores Diesel e com as novas tecnologias implementadas nas versões intermediárias e de topo que representam cerca de 80% das vendas, poderemos ver a médio prazo uma briga interessante entre três modelos, algo que nunca tivemos no mercado brasileiro nesse segmento.
GB
FICHA TÉCNiCA RANGER LIMITED 3,2 DIESEL 4X4 AT 2020 | |
MOTOR | |
Designação | 3,2-L Turbodiesel Duratorq (TC I-5) |
Descrição | 5 cilindros em linha, dianteiro longitudinal, bloco e cabeçote de ferro fundido, duplo comando no cabeçote, corrente, 4 válvulas por cilindro (20 válvulas), injeção direta, common rail |
Diâmetro x curso (mm) | 89,9 X 100,76 |
Cilindrada (cm³) | 3.198 |
Potência máxima (cv/rpm) | 200/3.000 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 47,9/1.750-2.500 |
Taxa de compressão (:1) | 15,5 |
Combustível | Diesel S-10 |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Automático epicíclico Getrag CR60, 6 marchas com reduzida |
Tração 4×2 traseira; 4×4 e 4×4 reduzida temporárias | |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,171; 2ª 2,342; 3ª 1,521; 4ª 1,143; 5ª 0,867; 6ª 0,694; ré-3,400 |
Relação de diferencial (:1) | 3,73 |
Relação da reduzida (:1) | 2,72 |
Relação do conversor de torque (:1) | 1,70 |
FREIOS | |
Dianteiro (tipo,/Ø mm) | Disco ventilado/n.d. |
Traseiro (tipo/Ø mm) | Tambor/n.d. |
Descrição | Hidráulico, servoassistido a vácuo por bomba, duplo-circuito dianteiro-traseiro, válvula de corte sensível à carga no freio traseiro |
Controle | ABS (obrigatório) e distribuição eletrônica das forças de frenagem |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, braços triangulares superpostos, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo rígido, feixe de molas semielípticas e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida |
Voltas entre batentes | 3,2. |
Diâmetro mínimo de curva (m) | n.d. |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio, 8Jx18 |
Pneus | 265/60R18T |
Estepe | Igual às demais rodas |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 2.261 |
Carga máxima | 1.002 |
Peso bruto total | 3.263 |
Peso rebocável sem freio/com freio | n.d./ 3.500 |
CARROCERIA | |
Tipo | Cabine e caçamba em aço montadas sobre chassi, 4 portas e 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 5.354 |
Largura sem/com espelhos | 1.860/n.d. |
Altura | 1.821 |
Distância entre eixos | 3.220 |
Bitola dianteira/traseira | 1.560/1.560 |
Distância mínima do solo | 232 |
Ângulo de entrada/saída (º) | 28/28 |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | n.d. |
Área frontal calculada (m²) | 2,709. |
Área frontal corrigida (m²) | n.d. |
CAPACIDADES | |
Caçamba (L) | 1.180 |
Tanque de combustível (L) | 80 |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h) | 180 (limitada) |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 11,6 |
Relação peso-potência (kg/cv) | 11,3 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l) | 8,4 |
Estrada (km/l | 9,4 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 na última marcha (km/h) | 74,8 |
Rotação a 120 km/h em 6ª (rpm) | 1.600 |
Rotação à veloc. máxima em 5ª (rpm) | 3.000 |
GARANTIA | |
Termo | 5 anos |
EQUIPAMENTOS RANGER LIMITED 3,2 DIESEL 4×4 AT2020 |
Acesso ao interior sem introdução de chave na fechadura |
AdvanceTrac englobando controle de establidade e tração, sistema anticapotagem, assistente de partida em rampa, controle automático em descida, controle de oscilação de reboque, assistente de frenagem de emergência, acendimento automático do pisca-alerta em frenagens bruscas, controle adaptativo de carga, e acionamento automático do bloqueio do diferencial traseiro |
Alavanca seletora de câmbio com insertos de couro e cromo fosco |
Antena de teto traseira com receptor de GPS |
Ar-condicionado automático digital bizona |
Arco de proteção (“santantônio”) na cor do veículo |
Assistente de fechamento da tampa da caçamba por mola de torção com pré-carga |
Assistente de frenagem autônoma com detecção de pedestres |
Banco do motorista com ajuste de altura e lombar |
Bancos de couro premium |
Bolsas infláveis frontais (obrigatórias), laterais, de cortina de joelhos para o motorista |
Câmera traseira |
Câmeras de alta resolução (2) no para-brisa: uma voltada para o terreno e outra para o horizonte para reconhecimento da sinalização vertical de trânsito, inclusive velocidade |
Capacidade de atravessar vaus de 800 mm de profundidade |
Chave programável MyKey presencial com chave de emergência embutida e partida do motor por botão |
Controle automático de velocidade de cruzeiro adaptativo com alerta de colisão |
Direção eletroassistida com compensação de ventos laterais e rodas desbalanceadas |
Estribos-plataforma |
Faróis altos com lâmpadas halógenas |
Faróis baixos de xenônio |
Faróis de neblina |
Farol alto automático |
Luz ambiente personalizável em 7 cores |
Luz de rodagem diurna (DLR) por LED |
Monitoramento automático da pressão dos pneus |
Porta-copos com pinça no console dianteiro |
Quadro de instrumentos com duas telas de 4,2″ configuráveis |
Rack de teto |
Radar de distância embutido no para-choque |
Retrovisor interno eletrocrômico |
Retrovisores externos com ajuste elétrico |
Revestimento das portas com acabamento em preto ébano |
Roda de liga de alumínio 8jx18 com acabamento cinza perolizado e diamantado |
Sensores de chuva e crepuscular |
Sensor de estacionamento traseiro e dianteiro |
Sistema de permanência na faixa |
SYNC 3: multimídia com tela tátil de 8″, navegador e comando de voz |
Trava elétrica da caçamba |
CORES: Sólidas: vermelho Bari sólida (R$ 0,00), banco Ártico (R$ 750) / Metálica: prata Geada (R$ 1.600) / Perolizadas, todas R$ 1.600:: azul Belize (nova), cinza Moscou (cor de lançamento global), vermelho Toscana e preto Gales. |